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Rumo às eleições, sem desesperança nem desânimo

ELEIÇÕES, BRASIL, POLÍTICA

Antonio Salaverry | Shutterstock.com

Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 25/09/22

As dificuldades da vida deixarão de existir só em função de uma eleição

Nos períodos que antecedem às eleições, ficamos saturados com discursos e propagandas políticas – e a coisa fica pior ainda quando enfrentamos um clima de polarização como o atual. O povo brasileiro parece, majoritariamente, dividido em dois grandes grupos nestas eleições – e não se trata só da polarização entre “lulistas” e “bolsonaristas”. Também estamos divididos entre os convictos, que fazem militância como se o mundo fosse acabar caso seu candidato não ganhe a eleição, e os céticos em dúvida, que não sabem o que fazer e imaginam que todas as opções são ruins.

Nem oito, nem oitenta

Tanto a convicção absoluta quanto a descrença desorientada não são justas, mas fica difícil para todos nós escapar desses extremismos. Em parte, isso acontece porque temos uma tendência, geralmente inconsciente, de colocar nossa esperança nos poderes e recursos humanos – e não na graça de Deus. Daí uma valorização excessiva da política. 

Sem nos darmos conta, agimos um pouco como o rico insensato da parábola, que, tendo armazenado uma grande safra, acreditou que poderia ficar tranquilo pelo resto da vida (cf. Lc 12, 13-21). Agimos como se tudo fosse ficar bem caso nosso candidato vença, ou como se uma catástrofe irremediável caísse sobre nós caso ele perca. 

Contudo, também nessa situação, vale a admoestação de Cristo: “Insensato!”. As dificuldades da vida não existirão ou deixarão de existir só em função de uma eleição. A pobreza não deixará de existir porque um candidato ganhou, ideologias perniciosas não deixarão de ameaçar o futuro dos jovens porque foi o outro que ganhou. Mortes e fracassos, nascimentos e vitórias continuarão existindo, seja lá quem for eleito. 

A fé nos fortalece até diante da política

Deus continuará nos amando e olhando por nós, sempre da mesma forma misteriosa, que muitas vezes parece não corresponder à nossa vontade, aconteça o que acontecer. Se perdermos a liberdade e a esperança que nascem da fé e da confiança no amor de Deus, nosso modo de viver a política se tornará cada vez mais ideológico, fanático e sectário ou cético e abatido. Nesse sentido, a primeira tarefa que temos para conosco e para com nossos irmãos é recuperar essa certeza confiante no amor de Deus. Isso não quer dizer que a política não seja fundamental, não exija todo o nosso empenho e determinação (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, CDSI 207, 565ss; Fratelli tutti, FT 180ss), ou que “todos os candidatos sejam iguais e quem vence as eleições não vai fazer diferença”. Trata-se apenas de nos colocarmos na posição justa, que mais nos ajuda a servir adequadamente à construção do bem comum.

Não existe resposta garantida à pergunta “Qual candidato realmente fará o melhor governo?”. Em nossa história recente, até mortes antes mesmo da posse aconteceram, como no caso de Tancredo Neves. Os critérios da Doutrina Social da Igreja nos ajudam, mas um político sempre pode prometer uma coisa e fazer outra depois de eleito… 

Existe um risco inevitável em qualquer opção que fazemos na vida. Podemos aceitar esse risco com tranquilidade na medida em que estivermos prontos para reconhecer nossos erros; se necessário, lutar para corrigi-los; trabalhar sempre em nosso cotidiano para a construção do bem comum.

Procurando sempre o bem comum

A escolha partidária se torna um fardo esmagador se estabelecemos um vínculo com o candidato em quem votamos que se torna maior do que nosso compromisso com a verdade e o bem comum, se perdemos nosso senso crítico, porque não queremos reconhecer nossos erros, se nos revoltamos contra os outros, porque apontam justamente nossas falhas. Mas tal postura não seria cristã! 

Além disso, quem se compromete com o bem comum, por meio de verdadeiras obras de amor e promoção humana, sabe que cada eleição é apenas um passo – que poderá ser bem ou malsucedido – em sua caminhada de amor ao próximo.

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