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Responder ao mal com o bem

UCRAINA, CROCE, EDIFICIO BOMBARDATO

Skoles | Shutterstock

O São Paulo - publicado em 29/09/22

Circula pelas redes sociais um vídeo, gravado em São Paulo, no qual duas jovens nuas fazem uma atuação em torno de uma cruz

Circula pelas redes sociais um vídeo, gravado em São Paulo, no qual duas jovens nuas fazem uma atuação em torno de uma cruz. Apesar da porcentagem de cristãos na população brasileira ser próxima a 80%, casos como esse se tornaram comuns tanto em nossas mídias quanto nas redes sociais. 

Muitas vezes, trata-se de um gesto intencional, procurando não apenas escandalizar, mas também enfraquecer a mentalidade cristã no País. Outras vezes, são gestos que, apesar de provocativos, nascem mais da ignorância e da falta de empatia de pessoas que não se dão conta daquilo que estão fazendo. Seja uma alternativa, seja a outra, cabe a pergunta: como esses gestos podem ser cada vez mais comuns numa sociedade que prega o respeito a todos e a abertura ao diferente, que condena toda forma de constrangimento e intolerância? 

Numa espantosa inversão ideológica, para os que praticam esses atos, o desrespeito vem justificado justamente pelo fato de ocorrer contra uma religião majoritária. As minorias vulneráveis devem ser protegidas e amparadas (e, nesse ponto, todos concordamos), mas as maiorias teriam como que suportar todas as provocações. No discurso ideológico, todo cristão fervoroso é culpado das injustiças e dos atos desumanos praticados ao longo da história, como se governos, partidos, forças econômicas e movimentos sociais não tivessem sua dose de culpa nos desmandos que existiram e continuam existindo. 

Quando os cristãos se sentem atacados e protestam, sua reivindicação por respeito é tratada como sinal de intolerância e autoritarismo – servindo para legitimar novos ataques e mais gestos de desrespeito. Alguns gestos são feitos justamente com a intenção de provocar reações indignadas dos cristãos, permitindo que seus realizadores ganhem projeção midiática e se apresentem como vítimas e não como desrespeitadores. Por isso, certas reações exaltadas só servem para piorar a situação. Sendo assim, podemos nos perguntar: o que fazer? 

O Papa Bento XVI, comentando a passagem do Evangelho em que Jesus convida a “dar a outra face” (cf. Lc 6,29), explica que essa ideia não consiste em se entregar nas mãos daquele que é mal, mas, sim, em responder ao mal com o bem (cf. Rm 12,17-21). Mas, então, nossa pergunta muda um pouco: como responder a essas provocações com o bem? 

Quando esses atos de desrespeito, por maldade ou ingenuidade, são protagonizados por jovens, podemos nos perguntar: quais são os valores cultivados pela juventude? O quanto as correntes e tendências ideológicas da atualidade têm manchado a consciência dos jovens a respeito da dignidade de seus corpos, que, como enfatizou o Papa Francisco, são “o lugar do nosso chamado ao amor autêntico”, onde “não há espaço para a superficialidade” (cf. Audiência Geral de 31 de outubro de 2018)? 

A indignação diante dessas situações, pode ser compreensível, mas a raiva sempre é má conselheira. Ela não nos conduz ao bem, mas nos faz potencializar o mal. Antes de condenar o erro, cabe-nos testemunhar o amor e a virtude. Vivemos uma batalha pelo coração do ser humano, pelo nosso coração, pelo coração de nossos jovens… E só o amor pode conquistar nosso coração para Cristo. Um amor que é capaz de trazer a alegria e o verdadeiro gosto de viver – pois não nos enganemos: todo ser humano, inclusive os jovens de hoje e as pessoas que nos agridem, quer uma vida que tenha gosto, que valha a pena ser vivida. 

Essa não é uma tarefa só das autoridades eclesiásticas, dos padres ou dos professores. Todos nós somos chamados a ser um testemunho da “alegria do Evangelho”, a calar as provocações não com agressividade, mas com a força do encontro que acolhe e mostra um caminho de realização de vida mais plena e cheia de beleza. 

(Editorial do jornal O São Paulo)

Tags:
CruzEducaçãoReligião
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