"Uma série para a todos desagradar"
O padre Antonio Izquierdo Sebastianes, da diocese espanhola de Getafe, detonou a série “O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder”, produzida pela Amazon e anunciada como uma “adaptação” da saga “O Senhor dos Anéis”, do autor britânico J.R.R. Tolkien.
A suposta adaptação tem sido criticada com veemência no mundo inteiro precisamente porque não é uma adaptação, mas uma patente deturpação do sentido original da grande metáfora composta por Tolkien para falar da luta do mal contra o bem a partir de alicerces católicos.
Original tem essência católica
Tolkien mesmo afirmou, na sua carta 142, que a vasta obra que compôs é fundamentalmente “religiosa e católica”; nela, acrescenta, “o elemento religioso é absorvido na história e no simbolismo”.
De fato, o autor viveu uma profunda experiência da conversão do anglicanismo ao catolicismo e esse impacto religioso e espiritual moldou a sua visão de mundo.
“Profanada”
Acontece que “quando a história é mudada e os símbolos são alterados, a obra é profanada”, afirmou o pe. Antonio. O sacerdote acrescentou que, em decorrência do seu afastamento da essência do original, o resultado da produção da Amazon é “ruim no sentido mais profundo”.
O padre publicou no site Religión en Libertad o artigo “Uma série para a todos desagradar“, título que evoca a frase “Um Anel para a todos governar“.
A frase é a primeira do texto inscrito na parte interna do poderoso anel que pauta a saga de Frodo e seus amigos (e inimigos) na obra original de Tolkien.
Deturpação inadmissível
Segundo o pe. Antonio, a produção comercial da Amazon executa
“(…) uma tamanha modificação da história, uma tamanha distorção dos personagens canônicos que aparecem e uma tamanha omissão dos que não deveriam faltar, uma tamanha deturpação da maioria dos fatos narrados que dizer que esta série é baseada ou mesmo distantemente inspirada em Tolkien é inadmissível e até irritante para quem ama a obra do Professor”.
Acréscimos ideológicos
O sacerdote cita como exemplos de deturpação as mudanças radicais promovidas pela produção da Amazon em personagens muito relevantes de “O Senhor dos Anéis” como Galadriel.
Ele também avalia que a série promove “acréscimos ideológicos forçados”:
“Não me surpreenderia se, como já aconteceu com vários vilões clássicos, Malévola, Cruela, Coringa, acabemos justificando a maldade de Sauron, o vilão por excelência da Segunda Era, e até agora oculto na série, como resultado de uma sociedade heteropatriarcal”.
Por outro lado, o padre registra ter ouvido de algumas pessoas a afirmação de que, por causa da série, começaram a ler a obra original de Tolkien. Isto sim, para ele, “deve ser celebrado”.
