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Regime de Vladimir Putin afirma que vai realizar a “dessatanização da Ucrânia”

Praça Vermelha em Moscou

Sergey Bezgodov | Shutterstock

Francisco Vêneto - publicado em 31/10/22

Países podem justificar órgãos que se arrogam autoridade para policiar os pensamentos?

O regime de Vladimir Putin afirmou que pretende realizar a “dessatanização da Ucrânia”, em palavras de Aleksey Pavlov, membro do assim chamado “Conselho de Segurança” do governo. As informações são da agência governamental russa TASS.

Segundo Pavlov, a “dessatanização” é necessária para responder à “proliferação de seitas religiosas” na Ucrânia – e este seria mais um motivo para que as tropas russas deem continuidade à sua “operação militar especial”, eufemismo que o regime de Moscou impôs à mídia e à população russa ao proibir o uso do termo “guerra”. Aliás, quem afirmar que o país está em guerra assume o risco de ser condenado a 15 anos de cadeia.

Cabe registrar que o paranoico regime de Vladimir Putin não é pioneiro na “luta contra as seitas”.

Em 1998, o secularista governo francês criou uma espécie de “tribunal laico” denominado MILS para perseguir objetivo semelhante. Em 2002, esse órgão foi transformado na agência governamental Miviludes, dedicada a combater “desvios sectários” – que, por sua vez, seriam “desvios da liberdade de pensamento”.

O motivo aduzido para a mudança foi a complexidade de se definir o que é uma “seita”, sobretudo num país cujos governos se arrogam a missão iluminista de defender a “liberdade, igualdade e fraternidade” – desde que mais ou menos alinhadas com a sua ideologia. De fato, é no mínimo contraditório pretender policiar os pensamentos dos cidadãos a fim de impedi-los de “desviar-se”.

O mesmo desafio, grosso modo, se apresenta a Aleksey Pavlov na hora de explicar o que seria uma “seita” segundo o policiamento ideológico russo.

Como tentativa, ele afirma que seria um grupo cujos membros têm “opiniões diretamente opostas às das pessoas normais” – o que necessariamente leva a pelos menos duas perguntas capciosas: primeiro, o que viria a ser uma “pessoa normal” para o regime de Vladimir Putin e, segundo, como o regime determinará quais são os pensamentos de uma pessoa a fim de medir se são ou não “diretamente opostos” aos das “pessoas normais”.

Como quer que seja, o afã de policiar as liberdades de pensamento e expressão é típico de regimes propensos a impor “democraticamente” as suas diretrizes do que pode ou não pode ser pensado.

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