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A Igreja Católica é alheia à astronomia?

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© NASA, ESA, CSA, STScI

Douglas Borges Candido - publicado em 06/11/22

Desde a antiguidade a humanidade se pergunta por três questões fundamentais: quem somos? De onde viemos? Para onde vamos?

As razões de nossas escolhas nem sempre conseguem ser totalmente evidenciadas. Por isso, empreender qualquer reflexão em torno da relação entre ciência e fé, entre razão e transcendência, torna-se uma tarefa complexa, pois, para além de uma relação que pode parecer desconexa, distante e obtusa, trata-se de uma série de conexões profícuas entre essas duas dimensões. Por isso, o trabalho nesse campo é, metaforicamente, quase sempre paleontológico, pois trata-se de retirar as sedimentações históricas ‘consolidadas’ para se chegar a novas e outras construções menos conhecidas ou divulgadas. Em suma, não se trata de negar ou minimizar algumas das descontinuidades históricas que ocorreram entre essas duas áreas, mas de prescindir desses pontos tão particulares para enxergarmos a pluralidade de relações amistosas entre elas. 

Desde a antiguidade a humanidade se pergunta por três questões fundamentais: quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Desde então, em busca de respostas, a aventura do conhecimento humano nos legou as mais belas interpretações e avanços significativos no desenvolvimento das ciências, das tecnologias e da literatura. A intensificação do exercício de busca por respostas a essas questões se deu com a contribuição fundamental da Igreja Católica por meio da formação das primeiras universidades. São elas que passam a concentrar mestres e discípulos em busca da verdade. Desde a sua fundação, as universidades constituem-se como um espaço de conhecimento e de sentido, que estabelecem em seu âmago o convívio entre a ciência e a fé, entre a razão e a transcendência. 

Um profundo diálogo nesse sentido foi aberto com as ciências desde o Renascimento. A partir de personalidades singulares na história dos estudos astronômicos, as reflexões em torno das estrelas e dos astros deixaram de se basear em antigas concepções aristotélico-ptolomaicas, e abriram-se novas possibilidades de investigação. Essa efervescência cultural e científica dos séculos seguidos ao Renascimento, nos legou uma personalidade que, na história da astronomia, estabeleceu um profundo diálogo com a Igreja Católica. Estamos nos referindo a Galileu Galilei. Muitos tomam o ‘caso Galileu’ para reafirmar antigas e ultrapassadas posturas da Igreja em relação à ciência, sem ao menos considerarem o contexto histórico da época. Apenas como contraponto, afirma-se que o papa Urbano VIII o teria elogiado pelos seus trabalhos no campo da astronomia. Disse Urbano VIII, ao grão-duque da Toscana, que reconhecia Galileu como um homem “cuja fama brilha no céu e se espalha por todo o mundo”.  

Como expressou o filósofo Immanuel Kant, “Duas coisas enchem o ânimo de admiração e veneração sempre nova e crescente, quanto mais frequente e persistentemente a reflexão ocupa-se com elas: o céu estrelado acima de mim e a lei moral em mim”. Histórica e formalmente reconhecido pela comunidade científica, desde 1891, com a criação do Observatório do Vaticano, aprovado pelo Papa Leão XIII, a Igreja Católica tem se perguntado sobre esse céu estrelado acima de nós de um ponto de vista eminentemente científicoContrariando essa maneira estereotipada de compreender a relação entre religião e ciência, e com um sólido trabalho em torno de temas complexos, a equipe de astrônomos jesuítas que atuam no Observatório avança sobre discussões como a possibilidade de vida fora da Terra; exoplanetas; estudos sobre meteoros; o posicionamento da Igreja sobre a possibilidade de batizar extraterrestres; a descoberta de estrelas; a evolução de galáxias; entre outras pesquisas. 

A atividade que estes cientistas católicos desenvolvem promove um profundo e honesto diálogo entre esses dois campos, mostrando-nos que as verdades científicas não são irreconciliáveis com a fé. Ao contrário, a ciência tende a enriquecer-se com a dimensão do transcendente e a fé, em sua abertura ao mistério científico do universo, pode escapar de equívocos ou visões ultrapassadas sobre a Criação.

A capacidade de síntese do que queremos expressar até aqui é um dom para poucos. E essa síntese só poderia ter emergido de uma das pessoas mais brilhantes do século XX, o físico Albert Einstein. Disse ele certa vez: a ciência sem a religião é manca; a religião sem a ciência é cega. 

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