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Uma breve história dos católicos e da direita

Católicos e direita

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Henri Quantin - publicado em 10/11/22

Deus não é nem de direita nem de esquerda, mas, para os católicos, as consequências políticas da fé nem sempre são as mesmas. O escritor Henri Quantin leu o recém-lançado "À direita do Pai", uma história da relação entre a direita e o catolicismo na França desde 1945 - uma influência que entrou na "era da minoria" e cuja análise de experiência pode ser um instrumento precioso para o discernimento

Confessemos que a questão de saber se Deus é de direita ou de esquerda, quando colocada seriamente, sempre nos pareceu incongruente. A mesma perplexidade nos perpassa quando estendemos a questão à Igreja ou ao Evangelho. É uma estranha inversão, tanto na ordem temporal como na ordem de prioridades, pretender submeter o Absoluto a critérios relativos, o Eterno ao transitório, o Todo-Poderoso às potências de um dia. Seria melhor perguntar o que há de evangélico num programa de direita ou de esquerda. André Frossard propôs uma linha de pensamento estimulante quando escreveu que o problema é que a esquerda não acredita no pecado original e que a direita dificilmente acredita na redenção. No plano político, este desvio teológico foi mais interessante do que o final feliz retórico esperado para a pergunta “Deus é de direita ou de esquerda?”: nem um, nem o outro.

Setenta e cinco anos de engajamentos

Por outro lado, enraizada na História, a questão das consequências políticas que os católicos puderam tirar da sua fé é fascinante. Além disso, dá uma ideia mais precisa da Encarnação do que as reflexões sobre o partido a que Jesus teria aderido. “À direita do Pai“, o grande volume recentemente publicado, em francês, pela Seuil, editado por Florian Michel e Yann Raison du Cleuziou, fornecerá informações valiosas a todos aqueles que sentem que os sucessos e decepções dos seus predecessores podem ajudá-los a discernir a legitimidade das suas batalhas terrenas e a pertinência dos seus meios de luta. Que predecessores? “Os católicos e a direita de 1945 aos nossos dias”, informa o subtítulo desse estudo inigualável – que, aliás, cumpre integralmente a sua promessa, uma vez que até as eleições presidenciais francesas de 2022 são analisadas.

Não é inútil ter em mente pelo menos os grandes momentos deste panorama de mais de setenta e cinco anos de engajamentos, ou desengajamentos, de católicos situados do centro-direita à extrema-direita do espectro político. De 1945 a 1958, a libertação e as suas consequências viram na Europa “a revanche dos democratas-cristãos”. Entre 1958 e 1974, os autores perguntam se a Quinta República, na França, era “moderna e católica”. De 1974 a 1997, os católicos de direita parecem hesitar entre a modernização e a restauração. Desde 1997, entraram na “era da minoria”.

O Absoluto e o relativo

Não se precisa ser historiador ou sequer fanático pela história para mergulhar nesse trabalho, quer se leia em profundidade, quer se passeie pelas suas páginas simplesmente conforme a própria curiosidade. Como é que a visão do comunismo dividiu os católicos no pós-guerra? Por que é que Pio XII foi saudado como santo quando morreu em 1958? Quais foram as etapas da ascensão da “geração João Paulo II”? Qual é a diferença entre os protestos contrários às novas leis sobre união civil [na França] e as mobilizações contra a equiparação da união homossexual ao casamento? Estas são apenas algumas das muitas perguntas sobre as quais o volume refresca a nossa memória, nos esclarece e nos explica, oferecendo ainda a todos os católicos de direita uma oportunidade para questionar a tendência a transformar em Absoluto o que é relativo (e relativo obviamente não significa anedótico).

O leitor também pode fazer um uso mais leve do livro, notadamente graças ao dicionário temático das “culturas da direita católica”, ao final do volume. É possível sorrir, por exemplo, diante da sociologia de Loden (ver sua “metafísica”, segundo uma observação de Jean Sévillia) e sucumbir a uma doce nostalgia perante a excelente evocação da literatura juvenil de Florian Michel. Mesmo que tal leitura não seja suficiente para conduzir o leitor à direita celestial do Pai, ela tem, entre outros interesses, o de lembrar que o cristão não pode negligenciar a História, assim como tampouco pode divinizá-la. Se usar a História para substituir a Deus é a especialidade de um marxismo assassino, abandoná-la revela um espiritualismo que faz pouco caso da Encarnação.

Tags:
CatólicosIdeologiaPolítica
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