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Como a Igreja se despede do defunto na ausência do corpo?

Funérailles sans corps

Pascal Deloche / GODONG

Marzena Devoud - publicado em 11/11/22

Desaparecimento, desastre, naufrágio: como acontece o funeral nos casos em que o corpo não é encontrado?

É muito difícil se despedir de um ente querido na ausência do corpo dele ou das cinzas. Nestes casos, parece que a morte não é tangível. 

Isso acontece quando perdemos familiares e amigos em desastres de avião, naufrágios e desaparecimentos. São situações em que o corpo do ente querido nunca é encontrado. Há ainda casos em que a pessoa morre em outro país e o corpo não é trasladado para a nação de origem.

Em todas essas circunstâncias, apesar da ausência do corpo, é preciso celebrar a memória dos falecidos. Recomenda-se que os familiares dediquem um tempo de oração e despedida aos que partiram para a casa do Pai.

“Mesmo para nós que trabalhamos no serviço funerário, a presença do corpo do falecido é muito importante. Particularmente, organizei uma cerimônia sem o corpo. Era alguém que morreu de repente durante as férias na Croácia. Como havia problemas com o transporte do corpo, a família decidiu organizar uma missa fúnebre sem o caixão. Então, colocamos no altar a foto do falecido com uma coroa de flores. Foi muito importante para a família e toda a congregação, mesmo com a ausência do corpo, despedir-se e rezar pela alma”, explica Benoît de la Chanonie, chefe do serviço funerário católico em Boulogne.

Manifestar a presença do falecido

Mas como celebrar o funeral sem corpo nem cinzas? Como manifestar a presença do falecido? 

Como lembra Mireille Toulemonde, autora do guia funerário do Serviço Pastoral Nacional da França, há algumas décadas, quando um marinheiro desaparecia no mar, ele era representado por uma cruz de cera, que era colocado em uma urna de madeira. Era como se fosse um enterro. Semanas depois, ocorria a transferência para o cemitério. Hoje, podemos manifestar a presença do falecido com uma vela acesa, uma foto ou um objeto que evoque os compromissos da pessoa. Em seguida, o celebrante explica as razões da ausência do corpo.

Gestos para estar em comunhão com o falecido

Se os ritos ligados ao próprio corpo (incenso e aspersão) não puderem ser realizados, outros gestos “paralitúrgicos” devem ser encontrados: colocar simbolicamente uma flor perto da foto do falecido, colocar um grão de incenso numa xícara, disponibilizar livro de registro de condolências. Todos estes pormenores devem ser cuidados particularmente “para que a assembleia entre numa verdadeira comunhão espiritual com os defuntos e os santos do céu”, sublinha Mireille Toulemonde.

Uma missa fúnebre deve ser celebrada como no caso de um funeral normal. Diz a Instrução Geral do Missal Romano:

“Quando a Missa exequial se liga diretamente com o rito dos funerais, dita a oração depois da Comunhão e é omitido o rito de conclusão, segue-se o rito da última encomendação ou da despedida, que só terá lugar se está presente o cadáver.”

Assim, o celebrante escolherá os textos litúrgicos adequados ou totalmente adaptáveis, que se encontram na bastante ampla seleção de missas para os defuntos, indicadas pelo missal. Há, entre outras coisas, orações pelos jovens mortos e pelos que morreram subitamente. Como a missa é celebrada na ausência do corpo do defunto, termina com uma bênção e não com um rito de despedida. 

Na homilia exigida por qualquer liturgia fúnebre, é particularmente importante recordar a crença na ressurreição do corpo, independentemente do destino post-mortem do corpo do falecido. Assim como a esperança que resulta disso, de que no Céu todos um dia encontrarão seus corpos ressuscitados à semelhança do corpo glorificado de Cristo.

Túmulo sem corpo?

“Parece-me importante gravar o nome da pessoa desaparecida na lápide do túmulo de seus parentes. Isso é bem possível, mesmo que o corpo não esteja lá. Este foi particularmente o caso de muitos prisioneiros do campo de Auschwitz, cujos nomes foram gravados nos túmulos das famílias”, comenta Benoît de la Chanonie. 

Também é possível fazer uma placa comemorativa e colocá-la em um determinado local que tenha conexão com o falecido: uma capela, um santuário ou cemitério. Essa prática é importante tanto para o respeito e a lembrança do falecido quanto por razões psicológicas para o luto dos entes queridos.

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