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“Natureza do corpo e da alma e A oração de Dom Guilherme”

MONASTERY

Shutterstock | David Herraez Calzada

Mosteiro de Veruela

Vanderlei de Lima - publicado em 28/11/22

Guilherme de Saint-Thierry (1085-1148), é, embora pouco conhecido em muitos países, considerado um dos maiores teólogos do século XII

Este lançamento da Cultor de Livros corresponde ao volume 28 da preciosa coleção “Clássicos de Espiritualidade” e traz duas obras de Guilherme de Saint-Thierry: Natureza do corpo e da alma e Oração de Dom Guilherme.

Seu autor, Guilherme de Saint-Thierry (1085-1148), é, embora pouco conhecido no Brasil, considerado um dos maiores teólogos do século XII, a era de ouro dos Padres Cistercienses ou o grande auge da Escola Cisterciense de Espiritualidade, cujo maior nome é, sem dúvida, São Bernardo de Claraval (1090-1153), o bom amigo de Guilherme.

Cremos ser importante, sempre que possível – ao contrário de alguns grandes autores em seus tratados sobre Espiritualidade e Mística –, realçar a existência de uma Escola Cisterciense de Espiritualidade que, embora beba nas fontes beneditinas, não pode, sem mais, ser considerada apenas beneditina, pois tem, não obstante a sua base comum com a dos filhos primeiros de São Bento, características especiais próprias. 

Daí citarmos uma respeitável afirmação de Dom Bernardo Olivera, OCSO, antigo abade geral trapista, a sustentar que “existe uma ‘espiritualidade cisterciense’ (fé levada à vida com uma forma determinada), distinguível das outras espiritualidades, inclusive monástica. Alguns dos elementos dessa espiritualidade seriam: a importância da experiência pessoal e comunitária, a afetividade, a Regra de São Bento sem acréscimos, a caridade cenobita e contemplativa, a unanimidade, a amizade, a santa Humanidade de Jesus Cristo, a devoção mariana… Não faltam os que opinam que não se pode falar de uma espiritualidade propriamente cisterciense (J. Lecrercq). Mas, existe sim, graças aos cistercienses, e sobretudo a São Bernardo de Claraval, uma ‘teologia da espiritualidade ou da mística’” (Introducción a los Padres e Madres cistercienses de los siglos XII e XIII. Burgos: Fonte/Monte Carmelo, 2020, p. 45).

Dito isso, voltemo-nos para o livro em análise. Natureza do corpo e da alma foi escrito por volta do ano 1143 e é considerado por alguns autores a primeira obra científica cisterciense (cf. nota 49, nas páginas 24-25). Está dividida entre o prólogo e mais duas partes: a primeira a tratar da natureza do corpo humano e a segunda a versar sobre a natureza da alma (cf. p. 31-85). Já A Oração de Dom Guilherme (cf. p. 89-94), provavelmente escrita no ano 1122, tem por fim principal responder à questão: “onde Deus pode ser encontrado? O autor propõe ao seu leitor acompanhá-lo na subida ao monte de Deus, lá onde Ele tudo vê e pode ser visto” (p. 27). Este é, em suma, o conteúdo da obra muito bem apresentada pelo Pe. João Paulo M. Dantas, autor da Introdução (cf. p. 9-27) e um dos tradutores.

O leitor atento perceberá o seguinte: o grande abade cisterciense parte de pressupostos das ciências do seu tempo (cada um é filho de sua época) que poderiam ser, talvez, nos dias de hoje, discutidos e/ou aprimorados. Como quer que seja, um ponto teológico importante tocado por Guilherme – e até hoje nem sempre bem compreendido por alguns – diz respeito à alma humana espiritual. Sobre ela afirma o monge: “A alma é uma substância espiritual feita à imagem de Deus, muito semelhante a Deus, que está no corpo como Deus se encontra no mundo: está em todas as partes do corpo e toda, ou seja, completa e não fragmentada, em todas as partes” (n. 27, p. 44). Eis, aqui, a linguagem aristotélico-tomista da Filosofia Perene, que todo estudante de Filosofia e Teologia deveria conhecer (cf. Decreto Optatam totius n. 15, do Concílio Vaticano II (1962-1965), e Código de Direito Canônico, 1983, cânon 251) –, a demonstrar que a alma espiritual, criada e infundida por Deus, no corpo material do novo ser humano, na sua concepção, é a forma desse corpo. Este é, por sua vez, a matéria dessa alma. Trata-se da doutrina do hilemorfismo.

Por fim, uma pergunta que não tira, de modo algum, o mérito da preciosa obra é: por que se preferiu, na página 89, duas vezes o termo “libera” em vez de “liberta”?

Vale a pena meditar mais esta oportuna obra da Espiritualidade Cisterciense.

Mais informações aqui.

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