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Existe uma “expectativa” pela morte do Papa Bento XVI? Essa atitude é cristã?

Papa Bento XVI

VINCENZO PINTO/AFP/EAST NEWS

O Papa Bento XVI rezando o terço na capela das aparições em Fátima, em 2010

Francisco Vêneto - publicado em 29/12/22

A luminosa aceitação e preparação para a morte provável é, sim, profundamente cristã

O agravamento da saúde do Papa Emérito foi amplamente noticiado pela imprensa internacional nesta quarta-feira, 28 de dezembro, depois que o próprio Papa Francisco declarou que Bento XVI está muito doente. Francisco pediu que os fiéis ofereçam especiais orações por Bento, que tem 95 anos de idade.

A “última parte do caminho”

Desde a renúncia em 2013, o Papa alemão vinha enfrentando problemas de saúde e crescentes limitações impostas pela idade avançada. Ele próprio já chegou a declarar, algum tempo atrás, que nunca teria imaginado viver ainda tantos anos desde então. Quem relatou o comentário do Papa Emérito foi o seu secretário particular, dom Georg Gänswein, que assim o registrou:

“Nunca teria acreditado que seria tão longa a última parte do caminho que me levaria do mosteiro Mater Ecclesiae até as portas do Céu com São Pedro”.

Dom Gänswein contou este episódio em junho deste ano, mas explicou que Bento havia feito essa afirmação já fazia “alguns anos”, quando conversava com ele sobre “o peso e as dificuldades da velhice” e “as críticas à sua pessoa e à sua obra”. Ao recordar o episódio em que o Papa falava da “última parte do caminho”, dom Gänswein acrescentou sobre a situação de Bento em meados de 2022:

“O Papa Emérito é um homem muito idoso, fisicamente frágil, mas, graças a Deus, ainda com a mente e os olhos alertos. Sua voz está ficando cada vez mais baixa e incompreensível. Os últimos anos minaram sua força. Mas ele conservou a humilde serenidade do seu coração”.

Boatos sobre a morte

Ao longo dos últimos anos, a suposta morte do pontífice chegou a ser “anunciada” irresponsavelmente em diversas ocasiões – a mais recente foi em julho deste ano, quando os boatos repercutiram não somente nas redes sociais, mas inclusive em veículos de impresa internacionais, alguns dos quais católicos.

A pseudonotícia começou a se espalhar a partir de uma conta igualmente falsa no Twitter, em nome de dom Georg Bätzing, presidente da Conferência Episcopal Alemã. Pouco após publicar a mentira sobre a morte do Papa Emérito, o próprio perfil na rede social informou ter sido criado pelo autodeclarado jornalista italiano Tommasso Debenedetti, já conhecido por forjar contas falsas em nome de cardeais e bispos católicos para “anunciar” a morte de Bento XVI.

O falsário já tinha praticado o mesmo desserviço usando nomes como os de ao menos três cardeais latino-americanos: Rubén Salazar, arcebispo emérito de Bogotá; Juan Luis Cipriani, emérito de Lima; e Óscar Rodríguez Maradiaga, arcebispo de Tegucigalpa, Honduras.

Obviamente, esse tipo de banalização e espetacularização da morte, ainda que o falecimento tivesse de fato acontecido, é intrinsecamente reprovável.

“A morte ilumina a vida”

Por outro lado, a atitude realista, madura e serena de preparar-se para a morte, seja a própria, seja a de outra pessoa, é profundamente cristã. A fé católica, aliás, resume essa postura com um célebre adágio: “a morte ilumina a vida e a vida ilumina a morte”.

O próprio Papa Bento XVI já testemunhou essa serenidade diante do final da vida terrena em diversas ocasiões.

Em agosto de 2021, ele enviou à comunidade cisterciense de Wilhering, na Áustria, a sua carta de condolências pela morte de um querido amigo, padre Gerhard Bernhard Winkler. Dirigindo-se ao abade, o Papa Emérito escreveu:

“Caro Padre Abade, foi-me transmitida e afetou-me profundamente a notícia da morte do professor dr. Gerhard Winkler O. Cist. Entre todos os colegas e amigos, era ele o mais próximo de mim. Sua alegria e profunda fé sempre me impactaram. Ele chegou agora ao outro mundo, onde tenho a certeza de que muitos amigos já o aguardam. Espero me unir logo a eles”.

Em 2016, no seu livro-entrevista “Conversas Finais“, com o jornalista alemão Peter Seewald, o Papa Emérito respondeu à expressa pergunta sobre se é possível nos prepararmos para a morte:

“Na verdade, nós devemos nos preparar para isso. Não no sentido de que agora você começa a realizar certos atos concretos, mas internamente, enquanto você vive, tenha em mente que deve se submeter a um exame final diante de Deus”.

Bento XVI contou como ele mesmo se prepara:

“Sempre penso nisso, no fato de que estamos caminhando para o fim. Procuro sempre me preparar e, acima de tudo, estar presente. O importante, porém, não é que eu imagine tudo, mas que eu viva com a consciência de que tudo na vida está concentrado em um encontro”.

Diante do Justo Juiz

Em 8 de fevereiro deste ano, Bento XVI publicou uma carta-resposta ao relatório sobre abusos sexuais perpetrados por clérigos na arquidiocese alemã de Munique, na qual partilhou uma breve observação sobre a sua preparação para a morte. Aos 94 anos, ele registrou:

“Em breve me encontrarei perante o último Juiz da minha vida. Embora possa ter tantos motivos de susto e medo ao olhar retrospectivamente para a minha longa vida, estou com o coração feliz porque confio firmemente que o Senhor não é só justo juiz, mas simultaneamente é o amigo e o irmão que já padeceu, Ele mesmo, as minhas deficiências e, consequentemente, ao mesmo tempo, é juiz e meu advogado (Paráclito).

Na perspectiva da hora do juízo, como se torna clara para mim a graça de ser cristão! Ser cristão me dá o conhecimento, e, mais ainda, a amizade com o juiz da minha vida e me permite atravessar com confiança a porta escura da morte”.

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