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Um ícone do esporte: Pelé

Pelé acena para o público

Pelé durante os Jogos Pan-Americanos de 1995

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Dom Orani João Tempesta - publicado em 29/12/22
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O falecimento de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, desperta, sem dúvida alguma, em nós, diversas reflexões. Desejo destacar três delas:

A notícia comoveu a todos e foi rapidamente difundida. Aquele que fez acontecer muitas alegrias no futebol com sua arte e carisma terminou seus dias neste mundo. A sua história tantas vezes contada deverá ainda a ser aprofundada com essa visão do dever cumprido ao chegar o limiar da eternidade. Com a morte de Edson Arantes do Nascimento muitas reflexões brotam nas pessoas que viveram essa época da história do futebol brasileiro, e também mundial.

Eu vivi a minha juventude na “era Pelé”. Quando ele participou da conquista da primeira copa mundial de futebol eu tinha 8 anos. Aos poucos o time do Santos e do Brasil sempre contaram com a sua presença. Praticamente minha juventude foi nesse clima. Depois da Copa do Qatar e depois de tantos ícones do futebol mundial terem se destacado no passado e no presente é importante retomar e agradecer por aquilo que ele representou para o esporte brasileiro nestes últimos 70 anos. O tempo passa e as situações se modificam, mas somos chamados a não esquecer pessoas que marcaram nossa nação. É claro que no momento de sua partida me vêm à mente as experiências e emoções vividas nessa importante etapa da vida. Estavam iniciando as transmissões por televisão e as internacionais vinham mais ou menos pelo rádio. Recordo de muitas partidas estarmos juntos a torcer diante da TV em preto-e-branco. Aos poucos, porém rapidamente, as coisas foram se transformando. Experiências que me ajudaram a viver uma época e que são lições de vida ainda hoje. É importante refletir sobre a contribuição dele para o esporte em nosso país.

Edson Arantes do Nascimento (1940-2022) – depois conhecido mundialmente como Pelé ou o “Rei do Futebol”, devido à sua grande projeção nessa modalidade esportiva entre os anos de 1956 a 1974 – é mineiro de Três Corações, mas que, aos quatro anos de idade, se mudou com os pais, Sr. João e Dona Celeste, para Bauru, SP, onde logo começou a brincar de bola na rua com outras crianças de sua idade.

Dico, como era chamado pela família, passou a se destacar no gol. Seu modelo era o goleiro José Lino da Conceição Faustino, o Bilé, amigo de time de seu pai, e que atuava no Vasco de São Lourenço (MG). Como era muito criança, Edson, nosso futuro grande jogador brasileiro, não conseguia, ao fazer as defesas em seu gol, gritar: “Segura Bilé”. Acabava, então, por bradar entusiasmado: “Segura, Pilééé!”. Daí, veio seu apelido, Pelé, com o qual se tornou mundialmente conhecido.

Depois de trabalhar como engraxate nas ruas de Bauru, Pelé jogou em vários times amadores da região até ser convidado para o Clube Atlético de Bauru, ainda em formação. Vendo, no entanto, o talento do garoto, Waldemar de Brito, também jogador e responsável pelo ingresso de Pelé no Clube Atlético de Bauru, apresentou-o, em 1956, ao Santos Futebol Clube. Estreou, no segundo tempo, em um jogo de Santos e Corinthians de Santo André, SP. O time alvinegro praiano venceu seu rival por 7x1, sendo o sexto gol de Pelé.

No ano de 1957, com apenas 16 anos, nosso “Rei do Futebol” já era titular do Santos e o mais jovem artilheiro do Campeonato Paulista com 36 gols marcados. Entre Pelé e o Santos Futebol Clube ocorreu como que um casamento, pois aí atuando, nosso grande jogador ganhou, entre 1956 a 1974, além de dez títulos estaduais e seis campeonatos nacionais, duas Libertadores (à época chamada Copa Campeões da América), em 1962, contra o Peñarol, do Uruguai, e, em 1963, contra o Boca Juniors, da Argentina. É claro que os títulos de Campeão Mundial interclubes marcaram época com epopeias famosas, como aquela contra o Milan no Maracanã.

Depois de marcar, em 1969, o seu milésimo gol contra o Vasco da Gama, no Maracanã, em 1974, num jogo entre Santos e Ponte Preta, na Vila Belmiro, Pelé se ajoelhou no gramado, pediu perdão por deixar o “Peixão”, mas estava de partida para o New York Cosmos, nos Estados Unidos. Completara 1116 jogos no Santos com 1091 gols marcados. Já estávamos em outra fase desse esporte dando passos para o que vemos hoje.

A título de sadia curiosidade, Pelé, depois de apenas 10 meses jogando no Santos, já foi convocado para a Copa Roca (atual Superclássico das Américas). As duas partidas ocorreram em nosso País. Foi a estreia de Pelé com a camisa do Brasil e ocorreu no Maracanã. A Argentina venceu por 2 a 1, mas o gol brasileiro foi de Pelé. Na partida de volta, no Pacaembu, em São Paulo, o Brasil ganhou por 2 a 0, com um gol de Pelé e outro de Mazzola. Foi o primeiro título de Pelé pela Seleção Brasileira. Com apenas 17 anos, jogou, em 1958, na Copa do Mundo na Suécia, e fez seis gols. Mereceu, por isso, dos franceses o título de “Rei do Futebol”. Em 1977, Pelé deixou o futebol com muitos títulos conquistados (seria extenso por demais mencioná-los já que estão disponíveis aos interessados nas redes sociais sérias ou revistas de futebol) e 1281 gols feitos, sendo até agora o maior artilheiro da história do futebol.

Entre tantos outros detalhes da vida pessoal do “Rei do Futebol”, cumpre destacar que de 1995 e 1998, foi ministro do Esporte, no governo federal, época em que criou a “Lei Pelé”, a revolucionar a prática desportiva no Brasil. Muito atuou em favor dos Direitos Humanos e da Paz no futebol, de modo a merecer, nestas áreas, nosso respeito, admiração e gratidão (Informações colhidas na Infoescola, on-line). Sabemos que na vida pessoal nem tudo foi fácil e exemplar, sabemos que as falhas humanas machucam muitas pessoas, mas em nossas vidas somos chamados a ter a clareza da beleza de dons que a pessoa tem e que procura coloca-los em prática. Neste caso é a arte do futebol que traria depois muitos outros para alegrarem os seus países com o dom do esporte. Basta pensar no desenvolvimento do futebol a partir dos anos 60 em nosso país e que o tornou uma unanimidade nacional.

Reflexões

O falecimento de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, desperta, sem dúvida alguma, em nós, diversas reflexões. Desejo destacar três delas.

A finitude da vida humana: O Cardeal Raniero Cantalamessa, OFM Cap., escreve: “Quando nasce um homem — escrevia [Santo Agostinho — nota nossa] — fazem-se tantas hipóteses: talvez será belo, talvez será feio; talvez será rico, talvez será pobre; talvez viverá muito, talvez não... Mas de nenhum se diz: talvez morrerá, talvez não morrerá. Esta é a única coisa absolutamente certa da vida. Quando sabemos que alguém está doente de hidropisia (à época, esta doença era incurável, hoje são outras), dizemos: ‘Coitado, deverá morrer; está condenado, não há remédio’. Mas não deveríamos dizer a mesma coisa sobre alguém que nasce? ‘Coitado, deverá morrer, não há remédio, está condenado!’. Que diferença há se em um tempo mais ou menos longo ou breve? A morte é a “doença mortal” que se contrai ao nascer (cf. Santo Agostinho, Sermo Guelf. 12,3 (Miscellanea Agostiniana, I, pp. 482ss. Primeira pregação do Advento de 2020). Quem discordaria destas afirmações?

Elas não são, todavia, motivo de medo doentio ou pavor, mas convite a enfrentarmos a realidade tal como ela é, buscando viver os mandamentos da Lei de Deus que Nosso Senhor assim resume: “‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’” (Mt 22,37-39), praticar os sacramentos e nunca se esquecer de que a divina e infinita misericórdia de Deus nos acompanha neste mundo em demanda da pátria definitiva, a Jerusalém do alto.

A fugacidade deste mundo: A morte de alguém nos lembra, com muito realismo, que este mundo é passageiro – “a figura deste mundo passa” (1Cor 7,31), ou que aqui não temos morada fixa – “Foi pela fé que ele habitou na terra prometida, como em terra estrangeira, habitando aí em tendas com Isaac e Jacó, coer­deiros da mesma promessa. Porque tinha a esperança fixa na cidade assentada sobre os fundamentos (eternos), cujo arquiteto e construtor é Deus” (Hb 11,9-10). Ora, isso, longe de trazer desespero, nos cumula, não obstante a tragicidade da morte, de alegria. Traz em nós o forte desejo de ser mensageiros de Deus, pelo testemunho e pela palavra, neste mundo, a fim de recebermos do Senhor as alegrias eternas de quem agiu com misericórdia para com o próximo neste mundo (cf. Mt 25,31-40). Ora, não poderíamos incluir o futebol como uma forma de obra boa a unir os povos e ter neste ponto Pelé como exemplo?

A importância do esporte para a fraternidade humana: no dia 23 de novembro último, em sua Audiência Geral na Praça de São Pedro, o Papa Francisco disse: “Envio minhas saudações aos jogadores, torcedores e espectadores que acompanham de vários continentes o Mundial de Futebol no Catar. Que este importante evento seja uma ocasião de encontro e confraternização entre as nações, promovendo a fraternidade e a paz entre os povos”. Sabemos como nós nos despedimos da Copa do Mundo do Qatar a 9 de dezembro passado assim como nos entusiasmamos com a épica disputa da final em que a Argentina se sagrou tricampeã mundial. Já em 14 de junho de 2018, por ocasião da Copa do Mundo de Futebol, na Rússia, o Santo Padre assim se expressava: “Envio uma saudação cordial aos jogadores e àqueles que acompanharão o Campeonato Mundial de Futebol, que começa hoje na Rússia. Espero que este evento esportivo seja uma oportunidade válida de encontro e de fraternidade”, escreveu em sua conta de Twitter.

Possa, portanto, o grande legado de Pelé, o “Rei do Futebol”, ajudar-nos, de modo grato a Deus pelo dom da sua vida, a ser mais e mais sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-14). Um jovem que foi respeitado e promovido pelo esporte e trabalhou em muitas obras sociais. Teve várias dificuldades pessoais, mas marcou sua época. Os problemas deixamos na misericórdia de Deus. Porém é bom lembrar as boas situações que viveu e colaborou com a humanidade que carece de bons exemplos. Afinal, Deus também fala por meio de seus filhos e filhas, nossos irmãos e irmãs!