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Bento XVI, “santo já”? Quem pode decidir?

Papa Bento XVI é aclamado por fiéis como "santo já" e pode vir a tornar-se Doutor da Igreja

Giulio Napolitano / Shutterstock

Gelsomino Del Guercio - publicado em 05/01/23

O Papa Francisco encurtou o processo de canonização de João XXIII em 2014 - e o próprio Ratzinger tinha encurtado o de João Paulo II

“Santo subito”, pediam cartazes em italiano na Praça de São Pedro durante o funeral de Bento XVI: ou “santo já”, em bom português.

Mas há chances de um processo rápido de canonização para o Papa Emérito falecido neste último 31 de dezembro, tal como foi rápido no caso de São João Paulo II, falecido em 2005 e já canonizado em 2014?

“Não será puxado o freio”

Alberto Melloni, historiador das religiões, defende que o início de um possível processo de canonização de Joseph Ratzinger dependerá, entre outros fatores, também da vontade do Papa atual, Francisco. E “ele não vai puxar o freio”, afirma o especialista.

Estratégia de Francisco

Melloni acrescenta:

“Francisco está numa posição em que tem que decidir se cria um precedente. Se ele renunciar, será difícil para o seu sucessor não agir como os dois antecessores. E se ele canonizar o seu antecessor, será impossível que o seu sucessor não o canonize”.

Por isso, o Papa Francisco poderia optar por deixar que outras pessoas requisitem a canonização de Bento, sem, contudo, impedir o prosseguimento da causa.

Precedentes de Papas santos

Mas o caminho rumo aos altares, mesmo para um Papa, é muito mais complicado do que se pensa.

Melloni recorda que os dois Papas da reforma gregoriana, Leão IX e Gregório VII, foram canonizados após períodos de tempo muito diferentes: o primeiro precisou de “apenas” 27 anos, mas o segundo levou cinco séculos. Até Pio V teve de esperar um século e meio depois da morte para ser canonizado, enquanto Pio XII permanece como venerável até hoje.

O Papa Francisco abreviou o processo de canonização de João XXIII em 2014 e o próprio Ratzinger tinha abreviado o de João Paulo II, cuja causa de beatificação foi aberta poucas semanas após a morte, sem a espera prevista pelo código canônico.

O processo de canonização

Um processo de canonização é acompanhado pela Congregação para as Causas dos Santos, cuja sede fica num edifício a poucos metros da Praça de São Pedro. Como num tribunal, é nessa instância que se instruem as causas que podem levar à proclamação da santidade de uma pessoa depois da sua morte.

Os trâmites, porém, não começam em Roma: tudo tem início com a proposta de abertura do processo, que precisa ser aceito pelo bispo da Igreja local onde o candidato passou a vida e trabalhou. A partir dessa aprovação é que começa o processo propriamente dito.

Antes de ser canonizado, o candidato aos altares precisa ser reconhecido como servo de Deus, venerável e beato: portanto, o reconhecimento como santo é o último degrau de uma longa escada – que, via de regra, ainda passa pelo reconhecimento de dois milagres obtidos por meio da sua intercessão junto a Deus, os quais precisam ser comprovados por peritos independentes que os atestem como fatos inexplicáveis pela ciência.

O que Francisco escreveu sobre Bento XVI

Até agora, o Papa Francisco não falou oficialmente em “reputação de santidade” no caso de Bento XVI, mas afirmou que, pessoalmente, o considera um santo.

Além disso, ele afirma o seguinte no prefácio do livro póstumo de Ratzinger: “O pensamento e magistério de Bento XVI é e será sempre fecundo no tempo”, porque “a busca do diálogo com a cultura do próprio tempo sempre foi um desejo ardente de Joseph Ratzinger. Ele, primeiro como teólogo e depois como pastor, nunca se confinou a uma cultura puramente intelectualista, desencarnada da história dos homens e do mundo”.

Francisco acrescenta: “Bento XVI fazia teologia de joelhos. A sua argumentação da fé se realizava com a devoção de um homem que se abandonou inteiramente a Deus e que, sob a guia do Espírito Santo, procurava uma compreensão cada vez maior do mistério daquele Jesus que o fascinara desde tenra idade”.

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