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Direto do Vaticano: Papa adverte sobre risco de Terceira Guerra Mundial

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Antoine Mekary | ALETEIA

I. Media - publicado em 10/01/23

Seu Boletim Direto do Vaticano de 10 de janeiro de 2023
  1. Papa adverte sobre risco de “Terceira Guerra Mundial em partes” em encontro com embaixadores
  2. Vaticano reabre investigação sobre Emanuela Orlandi

1Papa adverte sobre risco de “Terceira Guerra Mundial em partes” em encontro com embaixadores

Por Anna Kurian e Hugues Lefèvre – Como ele faz todos os anos por ocasião do Ano Novo, o Papa Francisco elaborou um mapa da solicitude da Igreja em relação aos focos de violência ao redor do planeta, começando pela Ucrânia, na segunda-feira, 9 de janeiro. Ele citou cerca de vinte regiões onde as tensões são altas e destilou suas recomendações para a paz – desarmamento, educação, redesenho do sistema multilateral, etc.

Durante esta tradicional reunião no Salão de Bênçãos do Vaticano, o Papa aproveitou o tempo para expressar os principais pontos de atenção e vigilância da Santa Sé – que mantém relações diplomáticas com 184 Estados. Este ano, o pontífice de 86 anos defendeu o “direito à vida” e a liberdade religiosa, entre outras coisas.

Em seu texto, baseado na encíclica de João XXIII Pacem in terris (1963), o Papa descreveu a atual “Terceira Guerra Mundial” e deu uma visão geral dos conflitos mundiais, começando com “a guerra na Ucrânia, com seu rastro de morte e destruição”. Diante de diplomatas de todo o mundo, o Papa renovou seu apelo “para um fim imediato deste conflito sem sentido, cujos efeitos afetam regiões inteiras, mesmo fora da Europa, por causa de suas repercussões na produção de energia e alimentos, especialmente na África e no Oriente Médio”.

“A construção da paz exige que não haja ataques à liberdade, integridade ou segurança das nações estrangeiras, independentemente do tamanho de seu território e de sua capacidade de defendê-lo”, disse também o 266º Papa em seu discurso de 40 minutos.

Referindo-se a outros cenários de tensão e conflito, o Papa expressou seu “grande pesar” pela Síria, pedindo “as reformas necessárias, incluindo as constitucionais, destinadas a restaurar a esperança do povo sírio aflito pela pobreza sempre crescente, evitando que as sanções internacionais impostas afetem a vida cotidiana de uma população que já sofreu tanto.

O Pontífice também expressou sua preocupação com “o agravamento da violência entre palestinos e israelenses, com a dramática consequência de muitas vítimas e uma total falta de confiança mútua”. Em Jerusalém, “uma cidade santa para judeus, cristãos e muçulmanos”, o Papa desejava “ser um lugar e um símbolo de encontro e de convivência pacífica”. Ele defendeu “o acesso e a liberdade de culto nos Lugares Santos”, e reiterou a posição da Santa Sé a favor da “solução de dois Estados”, exortando as autoridades de Israel e da Palestina ao diálogo.

As preocupações do Papa na África, Ásia, América

Antes de sua “peregrinação pela paz” à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul (31 de janeiro-5 de fevereiro), o Papa pediu “o fim da violência” no Leste da RDC, pedindo “trabalhar pela segurança e pelo bem comum”. No Sudão do Sul, acrescentou o chefe da Igreja Católica, que viajará para lá com o Arcebispo de Canterbury Justin Welby e o Revd Iain Greenshields, Moderador da Igreja Presbiteriana da Escócia, “desejamos unir-nos ao grito do povo pela paz e contribuir para o processo de reconciliação nacional”.

No Cáucaso do Sul, o pontífice exortou as partes a “respeitar o cessar-fogo” e pediu a libertação dos prisioneiros militares e civis, sem mencionar diretamente a Armênia ou o Azerbaijão. Embora o cessar-fogo no Iêmen, concluído em outubro passado, esteja “se mantendo”, ele lamentou que “muitos civis continuem a morrer por causa das minas”. Na Etiópia, o Papa esperava “que o processo de pacificação continue e que o compromisso da comunidade internacional para enfrentar a crise humanitária que afeta o país seja fortalecido”.

Outro tema de apreensão para o Papa é a situação na África Ocidental, “cada vez mais afligida pela violência do terrorismo”. Ele mencionou as “tragédias vividas pelas populações de Burkina Faso, Mali e Nigéria”, exortando ao respeito pelas “legítimas aspirações” das populações do Sudão, Mali, Chade, Guiné e Burkina Faso.

Também focalizando a situação na Birmânia, o Papa convidou a comunidade internacional a “trabalhar para que os processos de reconciliação se tornem realidade”, exortando “todas as partes envolvidas a retomar o caminho do diálogo”. Ele desejou “paz”, “prosperidade” e “harmonia” a todo o povo da península coreana.

Ao longo de seu texto, o Papa também falou das tensões sociais causadas pelo “enfraquecimento” da democracia em muitas partes do mundo. Ele citou as “crises políticas em vários países do continente americano”, mencionando em particular o Peru e o Haiti. E a situação no Líbano, que o pontífice disse estar “acompanhando de perto”, enquanto se aguarda a eleição de um novo Presidente da República. “Espero que todos os atores políticos se comprometam a permitir que o país se recupere da dramática situação econômica e social em que se encontra”, disse ele.

No contexto da busca da paz, ele também lembrou a posição da Santa Sé sobre a posse de armas atômicas: isto é “imoral”, afirmou o Papa, expressando preocupação com o “impasse” nas negociações do Acordo Nuclear Iraniano e pedindo “desarmamento integral”, pois “não é possível a paz onde os instrumentos de morte estão espalhados”.

Críticas ao multilateralismo e ao suposto progresso

Diante destas situações dramáticas, o Papa criticou o sistema multilateral e os “blocos de aliança”, observando “uma polarização crescente e tentativas de impor um pensamento único”. Ele sugeriu uma reforma dos organismos multilaterais “evitando mecanismos que dão mais peso a uns em detrimento de outros”.

O Papa denunciou um “totalitarismo ideológico, que promove a intolerância contra quem não adere a pretensas posições de «progresso», que na realidade parecem antes conduzir a uma regressão geral da humanidade, com violação da liberdade de pensamento e de consciência”. Sem nomear nenhum país em particular, ele falou contra as “colonizações ideológicas” realizadas “nos países mais pobres, criando um vínculo direto entre a concessão de ajuda econômica e a aceitação dessas ideologias”.

“Sempre que se procura impor a outras culturas formas de pensamento que não lhes pertencem, abre-se caminho para ásperos conflitos e às vezes até violência”, advertiu o pontífice. Ele invocou a educação como uma ferramenta para a paz e para remediar o “medo da vida”. Apontando para uma contínua “catástrofe educacional”, ele pediu aos Estados que “tenham a coragem de inverter a embaraçosa e assimétrica relação entre a despesa pública reservada à educação e as verbas destinadas ao armamento”.

O direito à vida e o respeito pela pessoa humana

Em seu discurso, o Papa Francisco dedicou uma longa passagem ao respeito pelo “direito à vida”, do nascimento à morte. Como faz regularmente, ele deplorou o chamado “direito ao aborto”, argumentando que “ninguém pode reivindicar direitos sobre a vida doutro ser humano, especialmente se inerme e desprovido de qualquer possibilidade de defesa”. O pontífice renovou seu apelo para a “erradicação da cultura da rejeição”, que também afeta “os doentes, as pessoas com deficiência e os idosos”.

Embora alguns países tenham avançado ou estejam considerando a possibilidade de introduzir assistência médica na morte, o Papa foi firme: “Os Estados garantir a assistência aos cidadãos em todas as fases da vida humana, até à morte natural, possibilitando a cada um sentir-se acompanhado e cuidado inclusive nos momentos mais delicados da sua existência”.

Para o pontífice, este direito à vida também inclui a rejeição absoluta da pena de morte, o que é “sempre inadmissível”. Ele pediu a sua abolição em todo o mundo. “Nunca se esqueça que uma pessoa pode, até ao último momento, converter-se e mudar”, insistiu ele também. Nesta passagem, o Papa mencionou um país que pratica a pena de morte, o Irã, onde as manifestações estão exigindo mais “respeito pela dignidade da mulher”.

O direito à liberdade religiosa

“Não posso deixar de mencionar […] o fato de que um em cada sete cristãos é perseguido”, lamentou o Papa Francisco em seu discurso. Mais amplamente, ele expressou a preocupação de que um terço da população mundial vive em uma situação em que a liberdade religiosa é limitada. Para o pontífice, esta liberdade deve ser “universalmente reconhecida” porque, longe de ser uma fonte de conflito, é, ao contrário, uma “oportunidade efetiva de diálogo e encontro entre diferentes povos e culturas”.

O chefe da Igreja Católica não apenas apontou a violência contra os cristãos no mundo. Ele também denunciou situações em que os países reduzem sua possibilidade de “expressar suas convicções na esfera da vida social, em nome de uma compreensão errônea da inclusão”.

“A liberdade religiosa, que não se pode reduzir à mera liberdade de culto, é um dos requisitos mínimos necessários para se viver dignamente”, insistiu ele, apelando aos governos “para protegê-la e garantir a todos […] a possibilidade de agir de acordo com sua consciência, inclusive na vida pública e no exercício de sua profissão”.

Mulheres, migração, ecologia

Continuando seu apelo em favor dos mais vulneráveis do mundo, o Papa falou em defesa das mulheres, “consideradas cidadãos de segunda classe em muitos países”. A exclusão das mulheres da educação, especialmente as afegãs, é “inaceitável”, disse ele.

Ele lamentou novamente o “naufrágio de nossa civilização” no Mediterrâneo, que se tornou “num grande túmulo” de migrantes. “Na Europa, é urgente reforçar o quadro legislativo”, insistiu o Papa, para que “as necessárias operações de assistência e cuidado dos náufragos não gravem inteiramente sobre as populações dos pontos principais de desembarque.”.

Advertindo contra “toda forma de exploração” no trabalho, o Papa também se concentrou na ecologia, mencionando os efeitos da mudança climática no Paquistão, que foi atingido pelas inundações, no Oceano Pacífico, “onde o aquecimento global está causando inúmeros danos à pesca”, na Somália e em todo o Corno da África, “onde a seca está causando grave fome”, e nos Estados Unidos, “onde geadas repentinas e intensas causaram mortes”.

Os avanços diplomáticos do Vaticano

Finalmente, o Bispo de Roma saudou as realizações diplomáticas do ano, elogiando “a escolha da Suíça, da República do Congo, de Moçambique e do Azerbaijão para nomear embaixadores residentes em Roma”, bem como os novos acordos bilaterais com São Tomé e Príncipe e com o Cazaquistão.

Ele reservou algumas palavras para a renovação do acordo provisório sobre a nomeação dos bispos assinado entre a Santa Sé e a República Popular da China “no âmbito de um diálogo respeitoso e construtivo”. “Espero que esta relação de colaboração possa se desenvolver em favor da vida da Igreja Católica e do bem do povo chinês”, frisou ele.

O sucessor de Pedro expressou sua gratidão às autoridades dos países representados “pelas mensagens de condolências recebidas por ocasião da morte do Papa Emérito Bento XVI (em 31 de dezembro), bem como pela proximidade demonstrada no funeral” em 5 de janeiro.

***

[Até hoje, a Santa Sé tem relações diplomáticas oficiais com 183 países. Em 4 de novembro, ela anunciou que havia concordado em estabelecer relações com o Sultanato de Omã. Incluindo este novo país, a Santa Sé manterá, portanto, relações diplomáticas com 184 Estados. Os países que atualmente não têm relações diplomáticas com a Santa Sé são Butão, Brunei, República Popular da China, Comores, Laos, Maldivas, Coreia do Norte, Arábia Saudita, Somália, Tuvalu e Vietnã. Em Brunei, Comores, Laos e Somália, no entanto, a Santa Sé tem delegados apostólicos, e no Vietnã, um “representante papal”.]

2Vaticano reabre investigação sobre Emanuela Orlandi

Por Camille Dalmas – Alessandro Diddi, o promotor de justiça da Santa Sé, disse à mídia italiana na segunda-feira que o sistema judicial do Vaticano reabriria uma investigação sobre o caso Emanuela Orlandi. A decisão chega como o 40º aniversário do desaparecimento não resolvido da jovem italiana, filha de um funcionário do Vaticano, que será recordado no dia 22 de junho.

Segundo a agência de notícias Adnkronos, o objetivo dos investigadores é reexaminar todos os arquivos, documentos, relatórios, informações e testemunhos – que a família da vítima vem solicitando há vários anos. O Vaticano gostaria de dar seguimento a “novas pistas e velhos indícios que não foram completamente investigados”, mas também “para pôr um fim definitivo às alegações menos confiáveis”.

Esta decisão vem poucos dias depois que vários representantes italianos, incluindo o Senador Carlo Calenda, anunciaram a abertura de uma comissão bicameral de inquérito sobre o caso. “O Vaticano sabe muito mais do que está dizendo”, disse o presidente do partido centrista Azione.

Neste outono, a transmissão na plataforma Netflix de uma série recapitulando as várias etapas e pistas do caso também contribuiu para o interesse renovado do público em geral. O documentário apontou claramente o dedo à responsabilidade da Santa Sé pelo fracasso em resolver o que muitos investigadores consideram ser um sequestro. O Vaticano se recusou a cooperar com esta investigação jornalística.

A última investigação do Vaticano foi realizada em 2019, quando túmulos no cemitério teutônico foram abertos e analisados após uma denúncia anônima, mas sem os resultados esperados. Em abril de 2020, alegando ter proporcionado a “mais completa colaboração” desde o início da investigação, o Judiciário do Vaticano havia declarado encerrado “um dos capítulos desta triste história”.

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