Foi excluído do YouTube, em 19 de janeiro, o canal da Associação Centro Dom Bosco, uma iniciativa fundada por leigos católicos em 2016 para, segundo o seu site, “ajudar a resgatar a bimilenar Tradição da Igreja por meio de livros, aulas e iniciativas apologéticas”.
Declarações de representantes
Álvaro Mendes, vice-presidente do Centro Dom Bosco, usou outra plataforma de hospedagem de vídeos, o Vimeo, para divulgar um pronunciamento em que afirma que o canal da associação no YouTube “foi deletado sem qualquer explicação ou possibilidade de defesa, de modo que ainda não sabemos a razão do ocorrido”.
Pedro Luiz de Affonseca, o presidente da associação, declarou à agência de notícias ACI Digital que ainda não há “certeza do que aconteceu”:
“Nós ainda não sabemos se foi um ato de censura ou se foi um ataque cibernético. Os nossos advogados já foram acionados e esperamos ter informações mais concretas e definitivas, em breve”.
Reações de internautas
Seguidores da associação no Facebook e no Instagram destacaram que, na véspera da exclusão, o canal tinha publicado um vídeo intitulado “CNBB coloca o governo Lula contra a parede”. A descrição do vídeo registrava que a CNBB havia publicado uma “nota em defesa da vida” e afirmado que o novo governo federal “está contradizendo as suas promessas de campanha” – o que pode ser consultado na nota oficial divulgada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Em contrapartida, outros internautas se manifestaram nas mesmas seções de comentários das redes sociais do Centro Dom Bosco para criticar a associação e acusá-la de enviesamento político, uma vez que o grupo apoiou abertamente a reeleição de Jair Bolsonaro à presidência da República.
Profecias
A respeito da exclusão do canal e da hipótese de censura, Álvaro Mendes acrescenta, conforme publicado pela ACI Digital, que, para o Centro Dom Bosco, “o país já vive em um estado de exceção”.
O vice-presidente da associação vincula esta afirmação à tese de que estariam sendo cumpridas “as profecias de Nossa Senhora em Cimbres”.
Tais profecias teriam sido comunicadas na década de 1930 a duas crianças daquela vila situada no município de Pesqueira, em Pernambuco, durante aparições de Nossa Senhora. Segundo as profecias em questão, “o comunismo virá ao Brasil” se os católicos “não rezarem e não fizerem penitência”.
Posicionamento da Igreja sobre as profecias
De parte da Santa Sé, não há no momento uma aprovação nem desaprovação formalizada ao teor de tais profecias e aparições.
No âmbito diocesano, o bispo de Pesqueira, dom José Luiz Ferreira Sales, publicou em 2 de outubro de 2021 uma carta pastoral na qual considera “presumíveis” as “aparições de Nossa Senhora da Graça” às duas crianças em 1936. O prelado concedeu “a permissão para que os fiéis possam, nessas terras, continuar com a devoção e a veneração à Virgem Santíssima, Mãe de Deus, invocada com o título de ‘Nossa Senhora da Graça’”.
Para dom José, as “relatadas aparições” contêm “elementos, traços e sinais que abalizam e sinalizam a grande probabilidade do caráter sobrenatural da experiência vivida pelas jovens Maria da Luz e Maria da Conceição”.
Ele acrescenta que “as mensagens comunicadas durante as alocuções com as videntes, documentadas e cuidadosamente analisadas, estão em profunda consonância com as verdades da fé cristã, contidas nas Sagradas Escrituras e na Doutrina Católica e em nada contrastam com a moral e os costumes”.
Repercussão
Para Álvaro Mendes, as profecias mencionadas levariam a crer que “todos aqueles que defenderem a fé no Brasil sofrerão perseguições cada vez mais violentas”.
Devido à explícita menção ao comunismo como um perigo iminente para o Brasil, o conteúdo dessas mesmas profecias gerou polêmica ao longo da última campanha eleitoral.
A atriz Cássia Kis chegou a referir-se publicamente às aparições em Cimbres para contextualizar um rosário pelo Brasil, transmitido ao vivo em 12 de outubro pelo agora extinto canal do Centro Dom Bosco no YouTube.
O mesmo canal também havia transmitido o terço ao vivo, com a participação de Cássia Kis, no dia 7 de setembro, igualmente na intenção de “que Nossa Senhora da Conceição Aparecida, Rainha e Padroeira do Brasil, mais uma vez tome as rédeas da nossa história e nos livre dos males que ameaçam o Brasil”.
