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O que a Bíblia não é

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Anelina/Shutterstock

Peter Cameron - publicado em 23/01/23

A Bíblia não foi escrita para ser um livro de história ou um livro de regras

O Bíblia é um presente inestimável. Mas você já pensou o contrário, ou seja, o que a Bíblia não é?

A Bíblia não existe para ser um livro didático, um livro de história, um livro de regras, uma crônica, um manual de operação, um anais ou um arquivo. Nas palavras de um proeminente estudioso católico das Escrituras, “os evangelistas não tinham intenção de fornecer um registro estenográfico do que Cristo disse ou um relatório de suas ações, como um policial poderia fazer” (R. Schnackenburg).

Em vez disso, a Bíblia é a memória do escritor sagrado de fatos excepcionais que aconteceram – anúncios para que esses eventos salvíficos também possam acontecer a nós. Através da Sagrada Escritura, Deus quer comunicar-se conosco. As Escrituras são escritas do jeito que são – em linguagem literária, não em prosa seca e técnica – precisamente porque pretendem revelar Deus a nós como uma pessoa para amar. 

Deus fala conosco através das Escrituras

A própria Bíblia afirma que “a Palavra de Deus é viva e eficaz” (Hb 4,12). E, como disse Paul Claudel, “o texto respira”. 

Por sua vez, os documentos da Igreja acentuam este fato: “Nos livros sagrados, o Pai que está no céu vem amorosamente ao encontro de seus filhos e fala com eles” (Dei Verbum). “Cristo está presente na Palavra, pois é Ele mesmo quem fala quando as Sagradas Escrituras são lidas na Igreja…. Pois, na Liturgia, Deus fala ao seu povo e Cristo anuncia o seu Evangelho” (Sacrosanctum Concilium).

São Gregório Magno aponta um mistério que parece impossível: “Toda a Bíblia foi escrita para nós“. 

A Escritura pretende compartilhar conosco o próprio coração de Deus e apelar para o nosso coração. A Bíblia foi escrita para nos mover no nível de nossa afeição, não apenas no nível do intelecto. “Nas Escrituras”, observou o teólogo moral Pe. Servais Pinckaers, OP, “Deus sempre nos aborda com promessas de felicidade antes de falar de preceitos.” 

Até mesmo São Tomás de Aquino insiste que “a doutrina da Sagrada Escritura contém não apenas assuntos para especulação, mas também assuntos para serem aceitos pelo coração”. É por isso que “em cada Palavra de Deus, o que mais importa é Deus abrir-nos o seu próprio coração nela, e é por isso que o nosso coração deve ser tocado, mudado de alto a baixo” (L. Bouyer). Santo Agostinho nos exorta: “Aprenda a conhecer o coração de Deus nas palavras de Deus”.

Como ler a Bíblia

Isso determina a maneira como devemos ler a Bíblia. Nunca é apropriado dissecar ou desmontar a Bíblia peça por peça ou tentar reduzi-la a tantas proposições, preceitos, moral ou máximas. “As Escrituras sempre conterão mais revelações do que as formuladas nas definições dogmáticas” porque “os ‘modos’ literários das Escrituras transmitem a verdade mais elevada” (L. Alonso-Schökel). E o significado que a Escritura contém é inesgotável – toda vez que a lemos, descobrimos riquezas mais profundas. 

Sabemos disso por experiência própria. Sempre que queremos expressar verdades profundas, recorremos a modos literários, como a metáfora. Por exemplo, no aniversário de casamento, o marido pode dar à esposa um cartão de aniversário que diz: “Você torna o céu azul”. Esta não é uma declaração meteorológica – é um dispositivo poético que tenta articular as profundezas inexprimíveis do amor que ele tem por sua mulher. Devemos ler a Bíblia com a mesma imaginação com que o escritor sagrado a escreveu. 

Quando vamos ler a Bíblia, é importante lembrar disso: Deus pretende entrar em diálogo conosco por meio de sua Palavra.

A Palavra de Deus: consolação em nossas lutas

Santo Ambrósio pergunta: “Quando Deus, a Palavra, bate com mais frequência à sua porta? Ele visita com amor aqueles que estão com problemas e tentações para salvá-los de serem subjugados por suas provações”. 

A Sagrada Escritura existe, de fato, para ser um consolo. Através da Palavra de Deus, o Senhor nos consola em nossas dores, lutas e solidão. “As mãos da Palavra de Deus estão estendidas para nós quando estamos fora de nossa profundidade” (São Gregório de Nissa).

São Gregório Magno nos instrui que “as palavras divinas crescem com quem as lê. Onde a mente do leitor é direcionada, também o texto sagrado ascende. Pois cresce conosco. Quando o leitor faz uma pergunta ao texto, a resposta é proporcional à maturidade do leitor.”

São Tomás de Aquino identifica outros efeitos da leitura da Palavra de Deus: “A Bíblia nos ensina a verdade; protege-nos de cair no erro; ela nos impede de fazer o mal e nos move a fazer o bem, porque o efeito último da Sagrada Escritura é levar as pessoas à perfeição”. 

Um monge do século IX, Ardo Smaragdus, nos aconselha que ler a Bíblia em oração “aguça a percepção, enriquece o entendimento, desperta a preguiça, bane a ociosidade, ordena a vida, corrige maus hábitos, arranca lágrimas de corações contritos, refreia a fala ociosa e a vaidade e desperta a saudade de Cristo e da pátria celeste”.

O importante é apenas pegar a Bíblia e ler, não importa se tudo o que você consegue ler é uma ou duas passagens. São João Crisóstomo dá este encorajamento: “Mesmo que a frase bíblica seja curta, seu poder é grande”. Traga para a sua leitura todas as suas frustrações, ansiedades, buscas, confusões, expectativas e dúvidas. 

Enfim, a Palavra de Deus é uma amiga fiel, engenhosa e generosa, pronta para ouvir e responder. 

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