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Do Islã para Cristo: a conversão o levou à Eucaristia

L'attore Mehdi Djaadi in posa durante il Festival di Avignon del 2021, svoltosi nel sud della Francia.

NICOLAS TUCAT / AFP

MEHDI DJAADI; ATTORE FRANCESE; CONVERTITO; ISLAM;

Emiliano Fumaneri - publicado em 01/02/23

Ao refletir sobre conversão, liberdade, família e convivência com pessoas de diferentes crenças, o ator Mehdi Djaadi descobriu que a luz de Cristo liberta

O ator francês Mehdi Djaadi, cuja vida é uma grande história de conversão, nasceu em 1986 em Saint-Étienne (capital do departamento de Loire, na França). Ele é o segundo de quatro filhos de uma família originária da Argélia; seu pai é operário e sua mãe é professora primária.

Medhi já afirmou que foi uma criança de temperamento solitário, com poucos amigos na escola. No entanto, ele tinha um talento especial: imitar os outros. Para divertir os colegas, imitava sotaques e se fantasiava de personagens imaginários.

O primeiro roubo

Aos 14 anos, o primeiro passo em falso: Mehdi roubou alguns euros da caixa de oferendas da mesquita para comprar um kebab. A notícia circulou rapidamente e, na melhor tradição do jogo “telefone sem fio”, os fatos acabaram sendo distorcidos e ampliados além da conta. Mehdi tornou-se, assim, para todos, o garoto que “fugiu com a caixa de coleta”. Foi uma desgraça absoluta para sua família de muçulmanos devotos e praticantes. Também pôs fim, da noite para o dia, à sua reputação de muçulmano modelo, conquistada ao longo de anos frequentando a escola corânica. 

Ele também acabou na mira dos kaid – muçulmanos que agiam como policiais na vizinhança, tentando fazer com que suas leis prevalecessem sobre as do Estado. Perante esta situação, abandonou a prática religiosa, deixando de fazer as cinco orações diárias de um bom muçulmano. Ainda assim, ele conta, ele “permaneceu sedento pelo absoluto”.

Uma conversão dolorosa

Foi essa sede insaciável que um dia o levou a notar uma igreja evangélica protestante no bairro. Ele acabou a frequentando para, inicialmente, provocar o pastor local, que fez o que Mehdi considerou uma afirmação estranha: “Jesus é o Filho de Deus”. Mas ele continuou indo à igreja, e não demorou muito para que o pastor lhe oferecesse os Evangelhos. Mehdi tinha 16 anos e a leitura desses textos o abalou profundamente. “Quando os li, Jesus virou meu mundo de cabeça para baixo. Comecei a rezar para Ele, a experimentar uma amizade muito forte com Ele”.

Os anos que se seguiram, no entanto, não foram nada fáceis: Mehdi, que abandonou a escola em 2002, andava em más companhias. Ele acabou participando de uma quadrilha do crime organizado que roubava bancos. 

Mesmo assim, Mehdi continuou se voltando para Jesus, pedindo-lhe que mudasse de vida. Aos 21 anos, deixou Saint-Étienne e foi para Valence (no departamento francês de Drôme), como hóspede de um amigo protestante. Foi ele quem o batizou na margem de um rio.

Desnecessário dizer que o batismo também marcou um desentendimento com sua família. “Minha conversão foi dolorosa para minha família, que sempre esteve ao meu lado”, disse ele.

Quando Mehdi se tornou protestante, seu pai – aquele que viajava quilômetros cada vez que era necessário buscá-lo nas diversas instituições onde ficava internado e que tentava regularmente apaziguar o juiz de menores – acreditou que ele havia sofrido uma lavagem cerebral, pois a real conversão, para uma família muçulmana, significaria apenas duas coisas: desonra e perigo.

Tirado da rua pelo teatro

Em 2008, em Valence, as coisas começaram a tomar um rumo diferente. Mehdi começou a frequentar aulas noturnas no National Drama Center, depois deu o salto para a Manufacture, uma escola de teatro de prestígio em Lausanne, na Suíça. Foi um verdadeiro choque para ele, que havia deixado a escola aos 16 anos e agora tinha que tentar um curso de nível universitário. Além disso, ele era o único de origem norte-africana entre os alunos da escola, bem como o único de origem popular com referências artísticas completamente diferentes das de seus colegas. Enquanto eles adoravam diretores chiques radicais como Pedro Almodóvar, ele era fascinado por Denzel Washington e Martin Scorsese.

Mas o choque também foi espiritual. Ao chegar à Suíça, Mehdi ficou feliz por estar na pátria do protestantismo, para finalmente descobrir Calvino. Em vez disso, ele descobriu um ambiente que se dizia tolerante, mas ferozmente anticlerical. 

Em Lausanne, ele sofreu as tentações da vida estudantil. Não chegou a abandonar a Palavra de Deus, da qual continuou a alimentar-se, mas era-lhe muito difícil identificar-se com os sermões dos pastores evangélicos, que segundo ele pareciam mais espectáculos do que qualquer outra coisa.

A Eucaristia

Ele chegou exausto ao final de seu primeiro ano. Foi então que Jonathan, um amigo de infância católico, o convidou para um retiro espiritual em uma antiga abadia trapista. Mehdi aceitou o convite e experimentou pela primeira vez a liturgia das horas, que foi um “tapa na cara” dele.

“Como protestante, eu amava os salmos. Ali está contido todo o mistério da Revelação: a consolação, a expectativa, a alegria, a Jerusalém celeste… Ali, com aqueles monges, ouvi Deus cantar em mim. Então eu fui para a adoração. Nada jamais foi tão profundo quanto aquele período de exposição do Santíssimo Sacramento. Experimentei a certeza de que aquele Jesus que eu amava, a quem eu rezava, estava realmente presente. Como se eu pudesse falar com ele, ali mesmo! Fui envolvido por sua presença”, afirmou o ator.

A Adoração da Eucaristia, lembra Mehdi Djaadi, “abriu um mundo incrível para mim”. Ele dirigiu-se ao frade que era o porteiro da abadia e perguntou-lhe: “É sempre assim?” 

O frade respondeu: “Em toda Missa e em toda Adoração”. 

Ao sair da abadia, o jovem franco-argelino sentiu as lágrimas escorrerem-lhe pelo rosto: lágrimas de alegria por ter encontrado Cristo; lágrimas de tristeza, por outro lado, por ainda não poder se juntar a ele na Eucaristia. 

Cercado pelo amor de Jesus e dos santos

Os próximos dois anos seriam apenas para Deus. Todos os dias, depois das aulas, às 18 horas, ele corria para a basílica de Notre-Dame du Valentin para assistir à Missa vespertina e participar do catecismo. O grande dia de Mehdi chegou em 2013, quando ele recebeu a Sagrada Comunhão e o sacramento da confirmação. “Todos os confirmados estavam com suas famílias, seus amigos… Eu, estava sozinho no banco. Mas quando eles me chamaram, eu me senti cercado por Jesus e pelos santos”.

Alguns anos depois – em 2019 – Mehdi conheceu o Papa Francisco em Roma. “E, tomando-o nos braços, senti ainda mais a minha relação filial com Jesus”. 

Não raro, convertidos denigrem seus ex-correligionários, sentindo a necessidade de uma ruptura total com seu passado. Não é assim para Mehdi, que demonstra um sentimento de gratidão por todas as etapas e pessoas que providencialmente o acompanharam até o encontro com Jesus na Eucaristia. 

“Em retrospectiva, agradeço o que recebi dos protestantes. Para aquele pastor em Saint-Étienne que me ofereceu o Evangelho, para aquele editor em Valence que me colocou sob sua proteção… O Espírito estava soprando através deles. E ouso dizer: os evangélicos nos trazem o zelo e o amor da Palavra; cabe a nós, católicos, compartilhar com eles a beleza da Eucaristia”.

Ator por vocação

Mehdi admite que hesitou em ser ator por medo de ser alvo da ideologia dominante, até que passou a sentir que ser ator é uma vocação, uma missão para ele. Seu ofício fez dele uma ponte entre diferentes universos, dando-lhe a oportunidade de negociar e discutir em profundidade até mesmo com ativistas LGBT. “Eles entendem que não sou o católico caricato que eles imaginam”.

Foi indicado ao Prêmio César – o Oscar francês – em 2016 por sua atuação na comédia dramática I’m All Yours . Em 2019, Mehdi se casou com Anne e no mesmo ano lançou seu próprio espetáculo no teatro: o monólogo Coming Out, no qual ele conta a história de sua conversão. 

Mas, acima de tudo, ele reflete profundamente sobre a liberdade, a herança familiar e a convivência com outras pessoas de diferentes crenças, provando que a luz de Cristo não oprime, mas alimenta a criatividade e torna alguém verdadeiramente livre.

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