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“Todo ramo que não dá fruto será cortado”: o que isso quer dizer?

dipinto ad olio raffigurante una scena religiosa Gesù Cristo e i suoi discepoli su un prato

Comaniciu Dan | Shutterstock

Julia A. Borges - publicado em 02/02/23

Quem lê a Bíblia em idioma moderno sabe que está em contato direto com textos divinos, mas a experiência não é tão simples quanto parece

A Bíblia, para todo cristão, é a ferramenta linguística mais poderosa de evangelização. Cremos que ali estão fatos e episódios ocorridos antes de Cristo e também com a vinda de Jesus. Lê-la é condição essencial para um verdadeiro estreitamento com os ensinamentos de Deus. Entretanto, é interessante pensar como esse Livro, possuidor também de um brilhante teor histórico-literário, conseguiu atravessar tempo e espaço e ainda permanecer com seu propósito original.

Para tanto, refletir acerca de sua tradução é peça-chave para compreender trechos e passagens que parecem, muitas vezes, não refletir a mensagem cristã. Nos seus primeiros séculos, a Igreja serviu-se, sobretudo da língua grega. Foi nesta língua que foi escrito todo o Novo Testamento, incluindo a Carta aos Romanos, de São Paulo, bem como muitos escritos cristãos de séculos seguintes. Mas a situação muda já no século IV, e é a pedido do bispo Dâmaso I, que São Jerônimo faz a tradução para o latim.

A Vulgata foi produzida para ser mais exata e mais fácil de compreender do que suas predecessoras. Foi a primeira, e por séculos a única versão da Bíblia que verteu o Velho Testamento diretamente do hebraico e não da tradução grega conhecida como Septuaginta. O nome Vulgata vem da expressão versio, isto é “versão de divulgação para o povo”, e foi escrita em um latim cotidiano, usado na distinção consciente ao latim elegante de Cícero, o qual Jerônimo considerava seu mestre. Fato é que o termo Vulgata acabou por se consolidar na primeira metade do século XVI, sobretudo a partir da edição da Bíblia de 1532, tendo sido definitivamente consagrada pelo Concílio de Trento, em 1546. 

Todas essas informações são fundamentais para o entendimento de que o ofício de qualquer tradução é uma tarefa muito exaustiva, árdua e muitas vezes de difícil entendimento. Quem lê a Bíblia em idioma moderno sabe que está em contato direto com textos divinos, mas a experiência não é tão simples quanto parece. O leitor muitas vezes encontra-se, sem saber, diante de uma tradução ruim ou imprecisa, entre tantas as que são realizadas da obra mais popular do planeta.

E a respeito das inúmeras versões, surgem trechos que fazem aflorar certa inquietação em sua leitura. O doutor e professor da Universidade de Coimbra, Frederico Lourenço, é tradutor premiado e coleciona trabalhos como ficcionista, poeta e ensaísta, e dentre seus escritos, há a tradução dos livros homéricos – Ilíada e Odisseia, além da tradução única da Bíblia, feita diretamente do grego ao português. O caráter que o estudioso dá às traduções realizadas é de um trabalho filológico intenso, no qual o repertório teórico-linguístico não é descartado.

Não obstante, ao cristão o que verdadeiramente importa é a leitura e a condução do Espírito Santo. Mas como passar desapercebido ao capítulo 15 de João, versículos 1 e 2 no qual, em muitas traduções lê-se: 

“Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda.”

O Evangelho de João é de fato singular. As palavras “amor” e “amar” surgiram mais vezes neste livro do que em qualquer outro. É neste Evangelho que Jesus diz “eu não julgo ninguém” (8:15). É o único Evangelho em que Jesus chora (11:35). Então como pensar que um homem de puro amor afirma cortar todo aquele que não dá fruto? 

Respeitando as terminações linguísticas, tem-se no original grego o termo αἴρει, ou seja, terceira pessoa do singular do presente do indicativo do verbo αἴρω (aírō), que no sentido mais estrito significa levantar. 

Jesus está a nos dizer o que é sabido por todo o cristão: Ele é por amor, Ele é do amor, Ele é o amor. Em tempos de exclusões e extremismos de todos os lados, Jesus parece querer mostrar que o céu é para todos, para todos aqueles que querem fazer parte dessa videira. Nós, caro leitor, fatalmente falharemos, mas se estivermos Nele, com Ele e por Ele, certamente Sua benevolência será maior.

Não é ter um pensamento pequeno no qual não há mal nenhum falhar ou até mesmo pecar, porque tal concepção exclui o principio básico do propósito da vida: sermos melhores em Cristo, sermos semelhantes a Ele. Mas é, acima de tudo, saber que no combate diário não estamos sozinhos nunca. Afinal, se escolhemos combater no exército cristão, a vitória é certa, mesmo que no caminho surjam pequenos ou grandes obstáculos.

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