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Coparentalidade, uma “moda” com muitos riscos

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Koldunova Anna | Shutterstock

Mar Dorrio - publicado em 07/02/23

A influenciadora espanhola Mar Dorrio explica por que discorda da "moda" de planejar filhos com quem não se pretende manter um relacionamento romântico estável

Esta semana fui novamente convidada a participar de um programa de TV da Galiza (Espanha), convite que gentilmente recusei porque achei que procuravam um pouco de polêmica sobre a coparentalidade.

Você conhecia esse termo, “coparentalidade”?

A coparentalidade une pessoas que desejam procriar e criar um filho sem estarem romanticamente ligadas. Às vezes é chamado também de parentalidade platônica ou parentalidade entre amigos.

Para começar, vou falar do lado positivo (o único lado positivo) que vejo nessa relação – aliás, acho esse lado digno de ser imitado.

Refiro-me ao fato de se conversar, de se definir um planejamento para a educação do futuro filho, contando com as contribuições imprescindíveis de cada um. Assim, os envolvidos não correm o risco de ter um filho com quem não conseguem coordenar nem sequer o essencial. Esse combinado deveria acontecer sempre.

Jamais esquecerei, porém, o comentário de uma pessoa ingênua que se referia aos componentes de um casal sem pés nem cabeça: “Eles se amam”. É um comentário juvenil. Os adultos precisam ir um pouco mais a fundo e prestar atenção quando uma especialista como Marian Rojas nos diz: “O amor não basta”. É claro que deve haver amor, mas o amor por si só não é suficiente. A educação das crianças não pode ficar nas mãos do improviso e dos sentimentos.

Ficar escolhendo, selecionando… o que isso lembra a você?

Outro episódio que me assustou foi o de uma agência de coparentalidade que oferecia a possibilidade de escolher o “parceiro coparental” com base em critérios como a cor dos olhos, a cor do cabelo… Eles sugerem que o cliente mostre fotos de quando era criança para inspirar escolhas genéticas, como se estivéssemos falando de uma feira de DNA. “Olhe o catálogo e selecione a pessoa certa para criar a própria sua raça ariana particular”.

Será que uma criança podem crescer harmoniosamente nessas condições? Sim, até pode – mas essas condições são uma versão inferior do lar formado pelo amor.

A melhor e mais completa versão de um lar é formada por uma mãe e um pai que se amam e se casam.

Sabemos que é possível crescer e ser feliz com uma mãe solteira ou com um pai que você vê duas vezes por semana. Sim, mas é uma versão incompleta de família, já que, pela própria natureza e não meramente por convenções sociais, uma família é, naturalmente, composta por pai, mãe e filhos. Podemos enganar a nós mesmos quantas vezes quisermos e recorrer a narrativas politicamente corretas para “desconstruir” este dado da natureza, mas ele continuará sendo um dado da natureza.

Nem sempre é possível ter essa família na própria vida, mas isso não deveria levar ninguém em sã consciência a negar a desejável completude de um lar formado por um pai e uma mãe que se amam e que se comprometem seriamente um com o outro e com os filhos gerados pelo seu amor.

Para erradicar a violência contra a mulher

Se dermos a uma criança a chance de escolher, ela tende naturalmente a escolher ter um pai e uma mãe que se amem pela vida toda e que sempre demonstrem esse amor em gestos constantes de respeito, de carinho…

Esta, senhoras e senhores políticos, é a semente da erradicação da violência de gênero. Quando um menino vê o pai tratar a mãe com amor, ele aprende na prática o que deve e o que não deve fazer com uma menina. E a menina, ao ver como o seu pai ama a sua mãe, também contará com um sólido paradigma de como ser amada – e de como saber se está mesmo sendo amada.

Quando se cresce num relacionamento familiar saudável, todos os alarmes dispararão se o namorado fizer gestos rudes que a jovem nunca tinha visto em casa – e ela terá uma clara oportunidade de cortar pela raiz uma relação que se mostra abusiva. Por outro lado, referências relativistas como séries, filmes e músicas supostamente “libertárias” conseguem desligar esses alarmes, porque chegam a vender relacionamentos extremamente problemáticos como se fossem normais – ou até, pasmem, desejáveis.

Relacionamentos tóxicos mostrados como idílicos

O Dr. Jokin de Irala falou desse apagão dos alarmes emocionais num artigo sobre o filme “50 Tons de Cinza”. O artigo alertava sobre o quanto é prejudicial mostrar uma relação tóxica como se fosse idílica. Uma secretária da universidade onde ele trabalhava lhe disse que não concordava com ele, já que o romance fictício em questão “termina bem”: os protagonistas, de fato, acabam juntos. Mas o médico respondeu rápida e categoricamente:

“Esta é justamente a pior parte! Uma jovem que vê esse filme tenderá a ignorar os alarmes do relacionamento tóxico e ficará aguardando um final feliz irreal”.

Contra uma sociedade que sistematicamente desliga os alarmes, é preciso valorizar um lar formado por pais que se amam e que constitui o único ramo de salvação ao qual muitos jovens poderão agarrar-se para não morrer afogados.

O que acontecerá no futuro?

Agências de coparentalidade defendem que esse tipo de lar dá menos trabalho que os “lares tradicionais”. Eu perguntaria a eles o que acontece com essas famílias dez anos depois. Por outro lado, em muitos casamentos ou relações “não-tradicionais”, o grande desafio acabam sendo os próprios filhos, porque eles enfrentarão problemas cujas soluções são impossíveis de se prever de modo abrangente. Logo, esses dois “parceiros” na coparentalidade precisarão enfrentar, assim como qualquer família tradicional, uma série de sustos, imprevistos e altos e baixos da vida dos filhos, mas sem o elemento unificador por excelência, que é o amor conjugal.

Senhoras e senhores da televisão galega, preferi falar daqui, da minha casa digital na Aleteia, para mostrar com calma a minha posição a respeito da coparentalidade. Não quero ofender ninguém, mas não posso nem pretendo deixar de dizer, em alto e bom som, que o melhor lar, o mais aconchegante, é formado por um pai e uma mãe que se amam. Por que não?

Adaptado de texto original de Mar Dorrio para Aleteia em espanhol

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