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O que fazer para aliviar a angústia?

romantyczna literatura chrześcijańska

aliaksei kruhlenia | Shutterstock

Julia A. Borges - publicado em 12/02/23

Segundo especialistas, é a partir dos 12 anos que começamos a sentir a angústia propriamente dita. Entenda:

Segundo especialistas, é a partir dos 12 anos que começamos a sentir a angústia propriamente dita. É nesta idade que a criança vai se deparar com emoções até então desconhecidas. Raiva, chateação, furor, zanga, ira são reações que bem antes já irão se tornar manifestas na vida do indivíduo, uma vez que são reações a tudo o que contraria à própria vontade. Mas a angústia aparenta traçar um caminho um tanto diferente, mais complexo, intimista e envolto a algumas lacunas a serem preenchidas.

Humanos como somos, complexos como somos – a máquina mais potente de análise e pesquisa ainda está longe de ser totalmente desvendada. Mas é a natureza analítica que faz o homem buscar os porquês, tanto do enigmático mundo exterior,  com as tentativas cosmogônicas de entendimento do universo, como do profundo e obscuro intrínseco humano. E pensar nessa tal busca pressupõe que ainda não houve o encontro e as respostas, já que as soluções parecem ser um conjunto infinito de hipóteses das mais diversas possíveis.

É incontestável que a ânsia pelo saber moveu e move o ser humano às conquistas até antes inimagináveis – da descoberta do fogo à evidenciação do buraco negro; do lombo dos animais à roda; das conquistas marítimas ao espaço. A razão levou à constatação da grandeza do mundo, mas também nos incitou a refletir acerca do nosso elevado grau de conhecimento externo e ínfimo entendimento interno.

Matéria cara às ciências da religião, a tratativa que percorre até mesmo o pensamento de Pascal ao analisar a incessante inquietação do ser finito em constante procura pelo infinito vai recair ao trágico existencial, ao sofrimento humano que provoca a sua própria transcendência.  Uma elevada carga filosofal com embasamentos de teóricos clássicos e contemporâneos é possível de ser encontrada, mas como, em meio a tantas teorias e divagações, descobrir-se como indivíduos?

A angústia é um termo que possui certa ambiguidade em sua definição e também em seu conceito, já expressa nela própria grande dificuldade em se achar respostas precisas e certeiras. É ao mesmo tempo um sentimento diante da existência como limite e, também, como motor que impele o ser humano. É interessante a frase de Kierkegaard, em sua obra Temor e Tremor: “(…) porque amar a Deus sem fé é refletir sobre si mesmo, mas amar a Deus com fé é refletir-se no próprio Deus”.

Se a raiva, a fúria e a indignação são movidas por fatores extrínsecos, a angústia encontra sua natureza no próprio homem, na miséria que inúmeras vezes nos move a um afogamento interno, sem ânsia de partida para uma transcendência, mas ao contentamento ao modo inerte de viver. A inquietação, qualidade quase que nata de termos sidos lançados ao mundo sem consulta prévia, desaba na realidade esmagadora de não conseguir se realizar no presente, passando, portanto, a ter o porvir como alvo de sonho, expectativa e eterna espera. A inquietação subitamente nos rebaixa ao grau da inércia, ao grau raso do cristão.

A necessidade de explicação e resposta a tudo o que nos cerca vem junto com a ânsia do ser humano pelo poder e, acima de tudo, pelo controle. Controle do tempo, espaço; controle do outro, de si; controle da vida e da morte. E tal conduta parece, ao menos a princípio, explicar a constante angústia que nos assombra. 

Entendemos errado a lição “amar a Deus sobre todas as coisas”, porque o maior dos mandamentos parece se esmorecer quando insistentemente nos proclamamos o deus de nossas vidas: ao querer conforme a nossa vontade, a perdoar se nos perdoarem, a ter fé de acordo com nosso interesse e disposição. Erramos feio ao amar de forma egoísta,  ao amar como se o amado fosse imperecível, sem amá-lo em Deus, mas como se o outro fosse Deus. Erramos ao declarar que somos donos de si e do mundo. Erramos ao rezar para que a nossa vontade seja feita. Erramos.

Ao nascermos somos convencidos de que este é o nosso lugar, a nossa morada final e a medida que o tempo passa, nossas atitudes e pensamentos vão refletindo a maneira com a qual vivemos e o constante distanciamento com o verdadeiro laço divino. O mundo opera tamanha força que é mais fácil, simples, compreensível e eficaz não empregar nenhuma potência contrária. 

A angústia surge quando ocorre a percepção da existência dessas duas forças contrárias, e verifica-se aí o primeiro passo da verdadeira conversão – a reflexão e o entendimento da diferença imensurável entre o eu no mundo e o eu do mundo. O limbo agora refletido é caminho indispensável ao bom combate. Mas, “não tenhais medo”. Deus, em sua enorme benevolência, deu-nos o hoje para que a construção que fora feita errada se refaça e seja agora feita tomando como solo fértil o Seu infinito amor.

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