A invasão russa na Ucrânia completará um ano no dia 24 de fevereiro, e a guerra não dá nem sinais de estar chegando ao fim. Diante deste cenário, o arcebispo-mor Sviatoslav Shevchuk, líder da Igreja Greco-Católica Ucraniana, chama a atenção para os traumas sofridos pelos ucranianos. Ele sugere que essa situação requer maior esforço pastoral.
O arcebispo-mor Shevchuk participou de uma recente conferência on-line organizada pela Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), expressando a necessidade de os sacerdotes identificarem e cuidarem dos problemas psicológicos e físicos decorrentes do trauma da guerra:
“Da Igreja as pessoas esperam comida, roupas, mas também uma palavra de esperança. A pastoral do povo é a nossa missão número um, especialmente curando as feridas do povo. Quase 80% dos ucranianos precisam de alguma ajuda para superar seus traumas psicológicos e físicos, entre outros. Nossa tarefa como Igreja é ajudar a curar as feridas de nossa nação”, disse o líder religioso.
Ele observou que, embora as nações ocidentais possam considerar esses problemas mais adequados para profissionais clínicos, os ucranianos tendem a desconfiar dos psicólogos. Shevchuk lembrou o uso de psicólogos clínicos pela União Soviética para identificar e reprimir aqueles que se manifestavam contra seu regime. O arcebispo disse que, em vez disso, “quando as pessoas têm um problema, elas vão primeiro a um sacerdote”.
Falta de sacerdotes
Um grande obstáculo para levar o cuidado pastoral aos ucranianos, no entanto, é o número cada vez menor de padres disponíveis no país devastado pela guerra. O arcebispo Visvaldas Kulbokas, também presente na conferência, informou que os poucos padres que restam na linha de frente estão “deprimidos e cansados”.
Também observou-se que existem algumas áreas da Ucrânia onde não existem sacerdotes disponíveis. Regiões ocupadas pelas forças russas (como Donetsk, Luhansk e Zaporizhzhia) não conseguiram reter um único padre, pois os russos continuam a fazer um esforço para dispersar ou deter os clérigos da Igreja Greco-Católica Ucraniana.
Isso inclui duas prisões de sacerdotes que aconteceram em novembro de 2022. Segundo o arcebispo, eles não conseguiram garantir a libertação dos dois padres, apesar dos esforços contínuos para isso. O primaz expressou seu temor de que os dois homens estejam sendo torturados.
Ajuda primordial
Ele também expressou sua gratidão à generosa ajuda fornecida por organizações de todo o mundo e aos US$ 10 milhões que receberam da ACN. Shevchuk destacou mais de 200 projetos humanitários que ajudaram mais de 15.000 pessoas.
Algumas das maiores contribuições, observou o líder religioso, vieram do Papa Francisco, que atuou como intermediário entre os embaixadores ucraniano e russo. O Vaticano tem sido fundamental para garantir a libertação de muitos prisioneiros de guerra por meio da entrega de listas de nomes à embaixada russa.
"Somos muito gratos ao Papa Francisco e à Santa Sé por estarem em contato com o lado russo, porque sem isso não poderíamos resgatar ninguém", disse Shevchuk.
A Ajuda à Igreja que Sofre criou uma página para coletar doações dos fiéis que ajudam nos esforços da ACN para ajudar os ucranianos presos na zona de guerra. Aqueles que estiverem interessados em doar para sua nobre causa podem fazê-lo aqui.