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Aplicativo promete ajudar-nos a “conversar com os mortos”

Inteligência artificial

Shutterstock

Francisco Vêneto - publicado em 23/02/23

Empresa diz criar uma "versão digital" dos seus clientes, semelhante ao que foi visto na emblemática série de televisão "Black Mirror"

A empresa de tecnologia HereAfter AI, sediada na Califórnia, anunciou a disponibilização de serviços de “comunicação entre vivos e mortos” – ou pelo menos entre pessoas vivas e a “versão digital” de pessoas falecidas.

Essa “versão digital” é criada a partir de um aplicativo baseado em inteligência artificial. O aplicativo promete armazenar e organizar uma vasta gama de informações biográficas do “cliente”, de modo a nutrir um complexo repertório de histórias da vida e traços da personalidade da pessoa que estaria sendo “recriada virtualmente”.

A “versão digital” da pessoa falecida teria condições, portanto, de manter conversas convincentes com seus interlocutores, aproximando-se o mais possível das características originais do indíviduo a quem estaria representando.

A proposta da HereAfter AI é que o próprio cliente, ainda em vida, vá ajudando a construir a sua própria “versão digital”.

Para isso, ele deve ir respondendo a milhares de perguntas que o aplicativo lhe apresenta, as quais abrangem desde episódios da infância até relacionamentos amorosos, passando por trivialidades como os pratos favoritos e relatos subjetivos como as “experiências que marcaram a sua vida”, entre centenas de outros assuntos. As perguntas vão sendo apresentadas na tela do aplicativo e o usuário deve respondê-las por áudio, de modo que o sistema capte também as nuances do jeito de expressar-se do cliente.

Black Mirror

A proposta da empresa norte-americana recorda bastante um episódio da cultuada série britânica de ficção científica “Black Mirror”.

Trata-se do episódio “Be Right Back”, no qual uma jovem mulher está grávida quando seu parceiro morre prematuramente, deixando-a muito abalada. Ela então decide experimentar um serviço online que promete recriar digitalmente pessoas falecidas, com base nas informações que a própria pessoa compartilhou em suas redes sociais, bem como em fotos, vídeos e quaisquer outros documentos que possam deixar a “versão digital” ainda mais realista.

Inicialmente, a jovem conta com uma “versão digital” do falecido parceiro que funciona apenas por áudio: ela pode “conversar” com ele via telefone. Algum tempo depois, no entanto, ela decide pagar mais caro para receber uma supreendente versão física do namorado, feita de “carne sintética”.

O episódio, considerado por muitos telespectadores como um dos mais marcantes da série, apresenta os conflitos psicológicos da jovem diante de uma “versão” do namorado que ela sabe que é artificial, mas que, ao mesmo tempo, se aproxima com tal nível de realismo das suas características que começa a deixá-la confusa entre o que é real e o que é absurdo na “nova relação” que ela está construindo com o “retorno” do namorado à “vida”.

Controvérsias

De fato, o MIT Technology Review, publicação do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, abordou o assunto a partir das complexas implicações éticas de se criar uma versão digital de alguém falecido – e de se disponibilizar um aplicativo para supostamente conversar com os mortos:

“Conversar com essas versões digitais pode até prolongar o luto e afastar a pessoa da realidade”.

Em contrapartida, outros veículos de mídia apressaram-se em qualificar entusiasticamente o aplicativo que promete permitir-nos “conversar com os mortos” como “o próximo passo na busca humana pela imortalidade”. É uma preocupante confusão entre a real pessoa falecida e um arremedo digital que, por mais sofisticado que pareça, não é ela própria – e , portanto, passa muito longe de equivaler à sua “imortalidade”.

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