Aleteia logoAleteia logoAleteia
Terça-feira 05 Dezembro |
São Saba
Aleteia logo
Em foco
separateurCreated with Sketch.

A verdade sobre o “passado nazista” de Bento XVI

ratzinger-043_dpa_10164310

MATTHIAS SCHRADER / DPA / DPA PICTURE-ALLIANCE VIA AFP

Joseph Ratzinger (deuxième à gauche) enrôlé dans une unité de défense anti-aérienne, 1943-1944.

Jean Chaunu - publicado em 03/03/23

Há dez anos, Bento XVI anunciava sua renúncia. No dia de sua morte, o Papa Emérito ainda causava controvérsia. Uma grande estação de televisão europeia dava a manchete "Morte de Bento XVI: a suspeita de um passado nazista nunca totalmente apagada". O historiador Jean Chaunu explica esta pérfida lenda inventada para desacreditar a autoridade do teólogo Joseph Ratzinger, a quem seus adversários deram o apelido de "Panzerkardinal"

“Panzerkardinal”: esse apelido foi dado a Joseph Aloisius Ratzinger (1927-2023) em 1985, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, pelos tabloides ingleses. Vinte anos depois, Joseph Ratzinger, sucessor de João Paulo II, escolheu o nome “Bento”, em homenagem ao papa que havia tentado deter a matança entre os beligerantes na Primeira Guerra Mundial, e que foi apelidado de forma pejorativa de “Papa alemão” pela esquerda radical e pela direita nacionalista na França da época. É um lembrete de que enquanto os insultos passam, a caridade não passa e está de acordo com a verdade. “Papa alemão” (Bento XV), “Papa anti-semita” (Pio XII), “Panzerkardinal” (Ratzinger, que se tornou Bento XVI), os insultos são mais reveladores daqueles que os proferem do que de seu alvo.

Um produto imaginário

O apelido “Panzerkardinal” nasceu, portanto, em outubro de 1985. É, por assim dizer, o produto imaginário de uma controvérsia desencadeada pelo teólogo suíço Hans Küng (1928-2021), antigo colega universitário de Ratzinger em Tübingen, que foi em seu tempo a estrela do progressismo na mídia e forneceu todos os ingredientes necessários para a controvérsia.

Peter Seewald resumiu o caminho paralelo destes dois homens, entre aquele que lutou para defender e implementar “o verdadeiro Concílio” e aquele que afirmou defender o “espírito do Concílio” (Bento XVI, A Life, vol. 1, Chora 2022, p. 517). O livro “Sobre a Fé”, em que Vittorio Messori conversa com Joseph Ratzinger, começara com menção ao “Panzerkardinal, que nunca abandonou as sumtuosas vestes e a cruz peitoral dourada de um Príncipe da Santa Igreja Romana” (Fayard 1985, p. 5). Mas, ao contrário disso, o Cardeal Ratzinger foi apontado por todos os que conviveram com ele por sua modéstia, seu espírito de diálogo, a sobriedade de seu estilo de vida e sua defesa da fé. E, afinal, reconhece Seewald, nenhum alto clérigo “atacou o sistema burocrático católico de pensamento e administração com mais veemência do que o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé” (op. cit., p. 227).

Isto foi numa época em que o conceito de “libertação” cobria uma variedade de movimentos: a “teologia da libertação” era galopante na América Latina, enquanto o movimento político do Maio de 1968 na França, que pressentia o fim do regime soviético, ganhava repercussão no Ocidente. Mas o primeiro a formular uma crítica à chamada teologia da libertação, que era antes uma teologia marxista da alienação, foi de fato Paulo VI na exortação apostólica Evangelii Nuntiandi, sobre “a evangelização do mundo moderno” de 8 de dezembro de 1975.

Uma resistência das almas

A expressão “Panzerkardinal” revelava acima de tudo um desconhecimento da história da Alemanha e da Baviera, a pátria de Ratzinger. Foi da Baviera, uma região católica, onde os resultados eleitorais do Partido Nazista foram baixos, que a primeira condenação do racismo nazista e do anti-semitismo veio do arcebispo Faulhaber, de Munique, e de seus sermões de Advento. Foi o mesmo Faulhaber que tinha apoiado o jornalista católico Fritz Gerlich (assassinado em Dachau em 1934 por sua resistência ao Hitlerismo). Foi também Faulhaber que, juntamente com os bispos von Galen e von Preysing, fez parte do grupo de bispos envolvidos na elaboração da encíclica “Mit Brennender Sorge” sobre o nazismo (1937). Foi de Munique que nasceu o grupo White Rose, que distribuiu milhares de folhetos e dos quais Ratzinger tinha conhecimento quando estava no seminário.

Peter Seewald não deixa de lembrar que nas dioceses bávaras, metade do clero sofreu perseguição, desde uma simples multa até a execução, via Dachau, onde 2.720 padres católicos de toda a Europa foram presos e onde 1.034 deles pereceram (Guillaume Zeller, La Baraque des prêtres, Dachau 1938-1945, Tallandier 2015). E, de fato, a prática religiosa na Baviera não diminuiu durante os anos do nazismo. “A ameaça à religião realmente levou muitos católicos a intensificarem sua vida religiosa. As manifestações e petições das mulheres forçaram até mesmo os nazistas a revogar a ordem de retirar crucifixos das salas de aula” (Bento XVI, A Life, vol. 1, p. 108). Sobre o seminário, Ratzinger nos diz, “não houve resistência ativa à ditadura, mas graças ao humanismo cristão da geração mais antiga de professores, houve, no entanto, uma resistência de almas que nos protegeu de seu veneno” (ibid.).

EM IMAGENS: A infância de Bento XVI ou o nascimento de uma vocação:

Tags:
Bento XVIGuerraHistória da IgrejanazismoPapa
Apoiar a Aleteia

Se você está lendo este artigo, é exatamente graças a sua generosidade e a de muitas outras pessoas como você, que tornam possível o projeto de evangelização da Aleteia. Aqui estão alguns números:

  • 20 milhões de usuários no mundo leem a Aleteia.org todos os meses.
  • Aleteia é publicada diariamente em sete idiomas: inglês, francês,  italiano, espanhol, português, polonês e esloveno
  • Todo mês, nossos leitores acessam mais de 50 milhões de páginas na Aleteia.
  • 4 milhões de pessoas seguem a Aleteia nas redes sociais.
  • A cada mês, nós publicamos 2.450 artigos e cerca de 40 vídeos.
  • Todo esse trabalho é realizado por 60 pessoas que trabalham em tempo integral, além de aproximadamente 400 outros colaboradores (articulistas, jornalistas, tradutores, fotógrafos…).

Como você pode imaginar, por trás desses números há um grande esforço. Precisamos do seu apoio para que possamos continuar oferecendo este serviço de evangelização a todos, independentemente de onde eles moram ou do quanto possam pagar.

Apoie Aleteia a partir de apenas $ 1 - leva apenas um minuto. Obrigado!

PT300x250.gif
Oração do dia
Festividade do dia





Envie suas intenções de oração à nossa rede de mosteiros


Top 10
Ver mais
Boletim
Receba Aleteia todo dia