A ditadura sandinista tem levado ao extremo as tensões com a Igreja Católica
O silenciamento de vozes dissidentes na Nicarágua atinge diretamente a Igreja Católica mais uma vez. Nos últimos cinco anos, a Igreja no país sofreu mais de 190 ataques e profanações, incluindo um incêndio na Catedral de Manágua, a expulsão das Missionárias da Caridade, a prisão do bispo dom Rolando Álvarez e o exílio e despojamento da cidadania de mais de 222 ex-presos políticos, entre os quais há bispos, padres e seminaristas.
Agora, de acordo com o Vatican News, a ditadura de Ortega proibiu as tradicionais procissões públicas da Via Sacra em todas as paróquias da Nicarágua. Os ritos da Quaresma e da Páscoa terão que acontecer somente dentro das igrejas.
As tensões entre o regime sandinista e a Igreja Católica na Nicarágua se intensificaram ainda mais gravemente na semana passada, quando, em discurso pelo 89º aniversário da morte do herói nacional nicaraguense Augusto Sandino, o atual ditador Daniel Ortega “lançou um ataque sem precedentes contra a Igreja”, segundo o Vatican News.
As acusações de Ortega
Em seu discurso à nação, Ortega acusou a hierarquia católica de “graves crimes e horrores” e de apoiar Somoza, o ex-ditador nicaraguense deposto pela Revolução Sandinista de 1979. Ele também acusou o papado de ter apoiado Mussolini e disse que o Vaticano é uma “organização mafiosa”.
Não é a primeira vez que Ortega ataca a Igreja Católica em um discurso público.
Em setembro passado, no 43º aniversário da Polícia Nacional, ele se referiu à Igreja como “a ditadura perfeita”. Ortega afirmou que “tudo na Igreja é imposto. É uma ditadura, a ditadura perfeita. É uma tirania, a tirania perfeita”. Ele ainda acusou os líderes católicos de serem uma “gangue de assassinos”, alegando que a hierarquia da Igreja na Nicarágua pediu aos manifestantes que o matassem durante a manifestação de 2018.
Ortega também desprezou os apelos do Papa Francisco por diálogo no país.
A interrupção e proibição das procissões na Nicarágua também já tinha vários precedentes. Confira alguns:
Silenciar a oposição
Ortega, que se declara católico, venceu as eleições em 2021 após desqualificar e prender candidatos da oposição. Desde então, seu regime tem perseguido padres e bispos que defendem os direitos humanos, a Igreja na Nicarágua e as instituições democráticas.
O Papa Francisco se disse convencido de que o diálogo pode estabelecer uma base para a coexistência. Na sua alocução antes do Ângelus de 21 de agosto de 2022, Francisco afirmou que acompanha “de perto, com preocupação e dor, a situação criada na Nicarágua que envolve pessoas e instituições”. E completou:
“Gostaria de expressar minha convicção e minha esperança de que, por meio de um diálogo aberto e sincero, ainda possam ser encontradas as bases para uma coexistência pacífica e respeitosa”.
Papa apoia bispo
Algumas semanas atrás, em 12 de fevereiro, o Papa foi explícito em seu apoio ao bispo dom Álvarez:
“As notícias da Nicarágua me entristeceram muito e não posso deixar de recordar com preocupação o bispo dom Rolando Álvarez, de Matagalpa, com quem muito me preocupo, condenado a 26 anos de prisão, e também aqueles que foram deportados para os Estados Unidos”.
O Papa convidou então os peregrinos presentes na Praça de São Pedro a rezarem uma Ave-Maria pela nação.