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Os ateus que vão para o céu

Pessoa olhando o céu estrelado representa busca por Deus

fot. Patrick Schneider | Unsplash

Francisco Vêneto - publicado em 17/03/23

Papa Francisco: "Um ateu que busca sinceramente não está excluído. A questão é a busca"

Na primeira audiência geral de 2019, em 2 de janeiro, o Papa Francisco fez uma declaração que rapidamente ganhou os holofotes da grande mídia – e, de quebra, como infelizmente é comum, também “ganhou” interpretações enviesadas e fora de contexto. O Papa havia dito:

“Quantas vezes vemos o escândalo criado por aquelas pessoas que vão à igreja e ficam lá todo o dia, ou vão lá todos os dias, e depois vivem com ódio dos outros ou falando mal das pessoas. Isto é um escândalo! É melhor não ir à igreja: vive assim, como ateu. Mas, se você vai à igreja, vive como filho, como irmão, e dá um verdadeiro testemunho, não um contratestemunho”.

Veículos de comunicação do mundo inteiro noticiaram a fala do Papa e deram a entender que, “segundo o Papa Francisco, é melhor ser ateu do que ser católico e falar mal dos outros”.

Comparação?

Na verdade, Francisco não havia feito comparação nenhuma entre ateus e católicos como tais, mas sim entre dois comportamentos que negam a Deus na prática. O Papa falava sobre as pessoas que se dizem católicas porque vão à igreja com assiduidade, mas que, habitualmente, cometem os pecados venenosos da língua. Essas pessoas geram escândalo e transmitem o contrário do verdadeiro testemunho católico. Neste caso, e especificamente neste caso, o Papa observou, pelo contexto da sua catequese e pelo conjunto das suas afirmações, que seria melhor se tais pessoas mudassem de postura e vencessem a incoerência, mas, caso não estivessem dispostas a isto, seria menos escandaloso se parassem de fingir que são católicas, já que, na prática, negam a Deus por viverem numa aberta incoerência com o mínimo que Deus nos pede.

Foi, em essência, uma crítica a um comportamento pontual de católicos incoerentes e não uma comparação “qualitativa” entre católicos e ateus – até porque há linguarudos e mexeriqueiros também entre estes, como os há em todo e qualquer grupo humano genérico.

O fato é que não somente o Papa Francisco, mas também os Papas Bento XVI e João Paulo II mantiveram frequente e respeitoso contato com pessoas ateias, com quem conversavam a fundo sobre todo tipo de assunto, inclusive sobre a existência ou não de Deus. No caso de Bento, não deixe de conferir o seguinte artigo:

Francisco e os bons ateus

O Papa Francisco também voltou ao tema recentemente, durante uma extensa entrevista ao portal argentino Perfil.

Quando o jornalista lhe perguntou se é preferível ser um bom ateu do que um mau cristão, o Papa respondeu:

“Se me trazem um bom ateu e um mau cristão, eu lhes digo: ‘venham comigo e vamos conversar’. Se me trazem um mau cristão, eu lhe digo: ‘você tem que mudar de vida e eu tet desafio’. Com um bom ateu eu converso e falo em combinarmos um caminho para seguir juntos, o que não quer dizer que eu o convença, mas que vamos caminhar juntos. Um mau cristão tem que mudar de vida. A conversão dos comportamentos.

A hipocrisia é uma das coisas que mais incomodavam Jesus. O capítulo 23 de Mateus é maravilhoso, não sei quantas vezes diz: ‘hipócritas, hipócritas, hipócritas’, que por um lado dizem isso e por outro fazem o contrário; esses são os maus cristãos. E por outro lado eles enganam, por exemplo com os funcionários: cristãos que vão à missa todos os domingos e não pagam o que é justo aos funcionários. Um exemplo pequeno, mas a incoerência do mau cristão é escandalosa. A boa harmonia da boa vontade de um ateu não escandaliza. ‘Que homem bom! É uma pena que você não acredite'”.

Jorge Fontevecchia então quis saber do Papa se é pecado ser ateu e se um bom ateu pode ir para o céu. Francisco disse:

“Um ateu que busca sinceramente não está excluído. Ele está caminhando, está buscando sinceramente o sentido da vida, para não dizer Deus; ele está buscando. A questão é a busca. E um cristão que não busca fica estagnado. E não esqueçamos que a água estagnada é a primeira que apodrece, e quando um cristão estagna, que podridão!”.

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