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Nicarágua: Vaticano encerra embaixada, em mais um sinal de ruptura

Nicaraguenses

EZEQUIEL BECERRA | AFP

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Reportagem local - publicado em 26/03/23

Santa Sé deixa de ter representação diplomática na Nicarágua com a saída do encarregado de negócios. Autoridades de Manágua já tinham expulsado o núncio apostólico

Monsenhor Marcel Diouf, encarregado de negócios da Nunciatura em Manágua, deixou a Nicarágua na passada sexta-feira, dia 17 de Março, e mudou-se para a Costa Rica. O encerramento da Sede Diplomática do Vaticano fora pedido pelo governo nicaraguense sete dias antes, a 10 de Março, na sequência de declarações do Papa Francisco a um website argentino.

Nessa entrevista, o Santo Padre fala do “desequilíbrio da pessoa que lidera” a Nicarágua, referindo-se a Daniel Ortega e descreve o país como sendo uma “ditadura grosseira”, comparando-a à tirania soviética de 1917 e à de Hitler, em 1935. Com a saída do último representando do Vaticano da Nicarágua, o edifício da Nunciatura Apostólica e os seus bens e arquivos foram confiados à representação italiana, de acordo com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas.

O fecho da embaixada é o culminar do afastamento nas relações entre os dois Estados, depois de há um ano, a 12 de Março de 2022, o núncio apostólico, ou seja, o embaixador do Vaticano, D. Waldemar Stanislaw Sommertag, ter sido expulso do país.

Clima de tensão

Não é só a Igreja Católica que tem denunciado os constantes atropelos aos direitos humanos na Nicarágua. Também a ONU o tem feito e ao mais alto nível. Ainda recentemente, a 3 de Março, foi apresentado um relatório ao Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas, em Genebra, pela secretária-geral adjunta da ONU, Ilze Brands Kehris.

Nesse documento, como a Fundação AIS já noticiou, refere-se a degradação “dos direitos humanos na Nicarágua” desde Dezembro de 2022, havendo uma referência explícita à situação do Bispo de Matagalpa e administrador apostólico da Diocese de Estelí, D. Rolando Álvarez, condenado entretanto a 26 anos e quatro meses de prisão.

O prelado, afirmou Brands Kehris, foi “acusado de traição à pátria, destituído da sua nacionalidade nicaraguense e privado de direitos políticos para toda a vida”. A responsável das Nações Unidas disse ainda que a sentença contra o Bispo foi proferida “sem julgamento prévio”, e referiu diversas outras situações de arbitrariedade, como a deportação, a 9 de Fevereiro, de 222 pessoas; a condenação, à revelia, a 15 de Fevereiro, de mais 94 indivíduos também por “traição à pátria”; e, entre muitos outros casos, um que inclui também “um padre nicaraguense proibido de regressar ao seu país”.

Procissões proibidas

As medidas repressivas contra a Igreja parecem imparáveis. Uma das mais recentes foi o encerramento forçado de duas universidades católicas, a de São João Paulo II e a Autónoma Cristã da Nicarágua e também da Fundação Mariana de combate ao Cancro e de dois escritórios da Caritas.

Antes disto, as autoridades já tinham decretado a proibição de celebração de qualquer procissão nas ruas durante a Quaresma e Semana Santa, como a Fundação AIS também noticiou. Esta proibição foi conhecida exactamente duas semanas depois de D. Rolando Álvarez ter sido condenado.

Mal se soube de mais esta atitude contra a comunidade católica, D. Silvio José Báez, Bispo auxiliar de Manágua – e que vive exilado nos Estados Unidos desde 2019 –, escreveu nas redes sociais que “a ditadura da Nicarágua proibiu as estações da Via Sacra nas ruas”, mas “o que não poderão impedir é que o Crucificado revele a Sua vitória em cada acto de solidariedade, em cada luta pela verdade e pela justiça e em cada esforço para defender a dignidade das pessoas”.

Trapistas deixam o país

Este clima de perseguição tem afectado também as congregações religiosas. Um dos casos mais recentes é o das Trapistas e de um grupo de irmãs de Porto Rico, que decidiram também deixar o país devido à pressão das autoridades.

As religiosas da Congregação das Irmãs Trapistas da Nicarágua informaram no dia 1 de Março, na sua página oficial no Facebook, que deixavam “voluntariamente o país”, rumo ao Panamá, mas que permanecerão “sempre unidas na oração, na amizade e no amor que o Senhor nos deu nestes 22 anos”.

Estas religiosas entraram assim na longa lista das vítimas das medidas repressivas tomadas pelo governo de Daniel Ortega contra a Igreja Católica. Anteriormente, recorde-se, as autoridades já tinham provocado a saída das Missionárias da Caridade, a congregação fundada pela Santa Madre Teresa de Calcutá, assim como de outros religiosos e sacerdotes, e provocado também o encerramento do canal de televisão da Conferência Episcopal e de outras seis estações de rádio católicas. Agora, foi a vez de a Santa Sé deixar também o país com o encerramento da representação diplomática.

(Com AIS)

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