Morta aos 23 anos em 1905, Gemma Galgani foi, durante sua curta vida, quatro vezes confrontada com escolhas crucificantes. Ela as aceitou para unir-se melhor a Cristo, o Esposo que ela escolheu.
A beleza não é, quando se trata de santos, um dom do Céu, mas uma desgraça. Porém, aos oito anos, Gemma já era tão bonita que as pessoas se voltavam para ela nas ruas de Lucca, extasiadas com seus olhos imensos, a delicadeza de seus traços de dar inveja a uma Madona de Rafael. Seu pai se orgulhava disso e manifestava à menina, em detrimento de seus outros sete filhos, uma ternura apaixonada e injusta, que a deixava constrangida. A mãe dela também… Aurelia Galgani considerava anormal esse amor paterno excessivamente exclusivo contra o qual lutava.
A garota mais bonita da Toscana
A mulher de 38 anos e carcomida pela tuberculose sabia que não tardaria a morrer e, em alguns meses, Gemma estaria entregue a esse pai estranho. A criança também sabia disso, e agarrou-se desesperadamente à mãe moribunda, correndo para junto dela assim que ela voltasse da escola e recusando-se a deixá-la, sem saber do risco de contágio.
Um dia, a senhora Galgani, consumida pela angústia, fez à filha esta estranha pergunta que: “Se fosse possível, você gostaria de vir comigo para o paraíso?”
Gemma respondeu que sim, soluçando. Pouco depois, seu pai decidiu tirá-la de casa e mandá-la para uma tia. Gemma perguntou, emprantos: “Quem vai me falar sobre Jesuss e eu deixar mamãe?”
A resposta não tardaria: Jesus cuidaria disso.
No início de novembro de 1886, em oração na igreja, Gemma ouviu Cristo perguntar-lhe: “Você quer me dar sua mamãe?”
Não poderia haver um significado mais doloroso para ela, mas ela responde que sim.
Aurelia Galgani falece, e a vida mística de sua filha começa. Nove anos se passam. Em 1895, aos 17 anos, Signorina Galgani era a garota mais bonita da Toscana. O pai dela esperava encontrar para Gemma um marido rico o suficiente para endireitar seus negócios.
Para isso, obrigava a jovem a se enfeitar com elegantes acessórios e joias, incluindo um relógio de ouro e uma cruz adornada com pedras semipreciosas que encantavam a adolescente.
Plantada diante de seu espelho, adornada com suas joias, Gemma se achava encantadora. Mas, atrás ela, aparecia um jovem radiante que ela não via entrar e que a olhava com tristeza: era seu anjo da guarda.
Com voz severa, ele disse: “As únicas joias que adornam a esposa de um rei crucificado são os espinhos e a cruz.”
A Visita do Tentador
Gemma tirou as joias, o vestido elegante, os acessórios inúteis. Ela nunca mais os vestiria, apenas usava roupas pretas disformes e evitava o olhar dos homens.
Cristo a pediu em casamento. Ela disse que sim, estava disposta a pagar o preço, por mais pesado que fosse.
Em 1897, morre o Sr. Galgani, deixando os filhos em situação financeira delicada. Mais uma vez, encontrar um marido rico para Gemma parecia ser a única chance de salvar sua família de problemas. E um pretende apareceu. Desesperada, Gemma implorou a seu Amado que a livrasse de sua beleza. Ele a ouviu. A tuberculose familiar a atingiu e em sua pior forma.
Em poucas semanas, crivada de tumores na coluna, caquética e acamada, Gemma afugentava os pretendentes. Ela sofreu atrozmente, revoltou-se contra essa cruz que ela quis, mas que agora lhe parecia insuportável. Ela gostaria de voltar a ser como as outras, com boa saúde, com uma vida pela frente!
Ela realmente queria isso? E a que preço?
Naquela noite, um homem aparece ao lado de sua cama, moreno e perturbadoramente sedutor, elegante, sorridente, com modos de um grande senhor. Puxa conversa, tem pena dela por tanto sofrimento, “por suportar tantas torturas”… Com um sorriso de pena, diz:
“Mas como Ele pode dizer que ama você? Veja como Ele trata você! Acredite: na verdade, Ele é perverso e odeia aqueles que O amam… Veja só o que Ele faz com Seus amigos… Eu, por outro lado, estou de bem com os meus.”
Gemma reconheceu o visitante indesejado; endireitando-se, ela grita com ele: “Fora, Satanás! Minha alma vem antes do meu corpo!”
A cruz de seu Noivo
Com o rosto desfigurado de ódio e raiva, o demônio desaparece, não sem prometer que a fará pagar por essa escolha insana.
À tuberculose óssea que se agravava e a privava do uso das pernas, acrescenta-se uma mastoidite e, depois, uma meningite. Os médicos tentaram curar o corpo de Gemma, mas foi em vão.
Em uma noite de agonia, a jovem não conseguia dormir. Alguém, pela terceira vez, entrou em seu quarto sem passar pela porta. Envolto em luz, era um homem muito jovem vestido com os trajes austeros e radiantes dos Passionistas. Com um sorriso suave, ele se aproximou e disse:
“Gemma, minha querida irmãzinha… Eu sou Gabriele de Addolorata, e vim de Deus para te perguntar uma coisa. Você quer ir para o céu comigo agora ou concorda em ficar nesta terra e sofrer pela salvação dos pecadores?”
Se ela concordasse em permanecer aqui embaixo, Gemma seria curada de todas as suas misérias físicas, mas experimentaria um sofrimento espiritual muito grande. Sua glória eterna aumentaria na proporção das cruzes aceitas.
Mais uma escolha
Gemma, então, escolhe os espinhos e a cruz oferecidos por seu Esposo. Ao amanhecer, o médico que foi atestar o óbito encontrou a paciente em pé, curada.
Gemma viveu por mais cinco anos e não deixou de oferecer o tempo de que dispunha para a cura de doentes. Cinco anos de provações, sinais incríveis, visitas angelicais, vexames diabólicos, estigmas. E ela bendizia a Deus, pois entendia o que Cristo lhe ensinou:
“Se queres mesmo amar-Me, aprende primeiro a sofrer porque o sofrimento te ensina a amar. A cruz é o trono dos verdadeiros amantes.”
