Espera-se de Deus; espera-se por milagres, por sinais, por respostas às perguntas que o mundo não dá. Espera-se que o mar se abra, que a luz seja feita e que a paz reine por completo. Espera-se muito que o mudo volte a falar, que o coxo volte a andar e que a água se transforme em vinho.
A fé, muitas vezes, passa a ser pautada nas consequências, nos frutos e não nos motivos, ou melhor, no único motivo que nos faz cristãos. Ao ler e reler a Bíblia, não pode ser possível que os milagres sejam o motivo da crença em Cristo Jesus. Se bem analisado, os três Reis Magos já adoraram aquele bebê antes mesmo Dele falar suas primeiras palavras; Maria já sabia que o maior milagre já havia sido concebido em seu próprio ventre; e José testemunhou em sua própria família a ação do Espírito Santo.
Querer milagres
Não há mal em querer milagres, mas há mal em buscar e esperar por eles como se fossem o alimento da fé, principalmente por alguns motivos: é bem capaz que a dificuldade em reconhecer as graças seja grande porque existe uma certa ideia fixa do extraordinário, do magnânimo, do exorbitante e o indivíduo acaba, assim, fechando-se ao excepcional diário, ao milagre que ocorre bem diante de nós mas os olhos estão bloqueados por uma camada grossa de ceticismo. Outro ponto é que Deus nunca precisou nem jamais precisará provar que é Deus, não tente fazer uma espécie de negociação para caso aconteça tal coisa aí sim você começa a acreditar. Deus é Deus e essa é uma verdade imutável e atemporal.
Há outros motivos, mas o que talvez seja de mais valia aqui pontuar é este: Deus precisa de você para que o milagre aconteça em sua vida. É estranho e talvez um pouco arrogante pensar que Ele precise de nós para que a graça ocorra, mas se for feita uma breve análise dos milagres segundo constam nos Evangelhos, ou seja, mais especificamente no Novo Testamento, a participação do ser humano foi fundamental: a começar por Maria, que antes se mostrava relutante, todavia acabara por consentir com o “faça-se em mim segundo a Tua vontade” (cf.: Lc 1,26-38). Nas bodas de Caná, evento tido como o primeiro milagre de Jesus, foi preciso ter água para a transformação em vinho. Ao cego e ao paralítico, Cristo pergunta se era da vontade deles se curarem e em ambos os casos houve da parte daqueles homens o sim necessário.
Dádiva
No capítulo 6 do Evangelho de João, deparamo-nos com a multiplicação do pão e dos peixes. Esse milagre é, possivelmente, o que trate de maneira mais evidente da necessidade do nosso pouco para que a dádiva ocorra: para o ato da multiplicação foi imprescindível que houvesse o pouco do pão e o pouco do peixe. E é justamente esse pouco que Deus quer de cada um, porque será através desse quase nada que o tudo se manifestará em nossa vida. Será com o ínfimo que reside em nós que Deus transformará a realidade que o desagrada.
Portanto, não fique a esperar pelo majestoso diante de seus olhos, mas tente fechá-los para o mundo que lhe desorienta e entregue toda a sua miséria Àquele que lhe dará a direção e o caminho a seguir: porque será através do seu sim, da sua permissão que Deus agirá e o fará enxergar que a sua vida já é o maior dos milagres.