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Igreja e ciência: conheça o padre Rohr, pai da arqueologia catarinense

Sambaqui

André Ganzarolli Martins, CC0, via Wikimedia Commons

Exemplo de escavação arqueológica de sambaqui às margens da rodovia BR-101, em Laguna, SC, 2009

Francisco Vêneto - publicado em 25/04/23

Ele harmonizava a sua missão científica e educacional com o ministério sacerdotal, exemplificando com a sua vida a convicção católica de que a razão e a fé se complementam com perfeita coerência: as maravilhas da criação, afinal, são indício e testemunho do Criador

O pe. João Alfredo Rohr (1908-1984), considerado o “pai da arqueologia catarinense” e “o maior escavador brasileiro”, é o criador do Museu do Homem do Sambaqui em Florianópolis. Professor e arqueólogo, ele contribuiu grandemente para o desenvolvimento da metodologia da cimentação, que lhe rendeu reconhecimento dentro e fora do Brasil.

O próprio sacerdote, que era jesuíta, menciona o uso dessa técnica em documentos de 1970. Ele registra: “Escavando o sítio arqueológico da Praia da Tapera, nos anos de 1962 a 1966, insistimos uma vez mais em trazer ao museu alguns esqueletos, junto com blocos testemunha. Para tanto, recorremos ao expediente de cimentar os sepultamentos. Este método, aperfeiçoado cada vez mais pela prática, finalmente deu resultados de todo satisfatórios”.

Sacerdócio e ciência

O pe. Rohr começou as suas atividades arqueológicas em decorrência da sua atividade pedagógica, já que era professor de física, química e ciências naturais no Colégio Catarinense, fundado em 1905 e administrado pelos padres jesuítas na capital do estado.

Ele harmonizava a sua missão científica e educacional com o ministério sacerdotal, exemplificando com a sua vida a convicção católica de que a razão e a fé se complementam com perfeita coerência. As maravilhas da criação, afinal, são indício e testemunho do Criador.

Pioneiro na descoberta e no cadastramento de sítios arqueológicos de Florianópolis e de outras regiões de Santa Catarina, o pe. Rohr foi decisivo para impulsionar este campo do conhecimento no estado e no país. É o que reconhecem as arqueólogas Maria José Reis e Teresa Domitila Fossari, autoras do artigo “Arqueologia e preservação do patrimônio cultural: a contribuição do Pe. João Alfredo Rohr”.

Contribuição única

A também arqueóloga Luciane Zanenga Scherer, do Museu de Arqueologia e Etnologia Oswaldo Rodrigues Cabral, mantido pela Universidade Federal de Santa Catarina, confirma a importância do trabalho do sacerdote arqueólogo: “Muita coisa conhecemos hoje por causa dele. O trabalho dele é único. Em todos os sítios que ele escavou, encontrou muitas coisas inéditas. As pesquisas atuais continuam utilizando o acervo dele; ou seja, ele continua contribuindo na atualidade”.

Luciane conheceu a fundo o trabalho do sacerdote graças a uma bolsa de apoio técnico do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ). Como parte do seu trabalho, ela se encarregou da curadoria de grande parte da coleção de remanescentes de ossos humanos do Museu do Homem do Sambaqui.

Em declarações publicadas pelo portal ND Mais, ela comenta sobre essa experiência: “As etiquetas e informações que ele colocava, o cuidado em contextualizar, as fotos dos sítios arqueológicos que ele tirava, tudo isso me chamou muito a atenção e fez com que eu me apaixonasse pelo trabalho dele e por tudo que ele ainda representa para a arqueologia catarinense”.

Sambaquis

O Museu do Homem do Sambaqui, fruto dos anos de dedicação do pe. Rohr, presta um importante serviço de preservação da história natural e cultural de Florianópolis. Os sambaquis, principais fontes de artefatos do museu, são depósitos construídos pelo homem com o uso de materiais orgânicos e calcários. A palavra em tupi significa “monte de conchas”.

Encontrados no litoral de Santa Catarina, esses depósitos foram sofrendo fossilização química ao longo dos séculos, o que petrificou os detritos e ossadas ali acumulados. Grupos indígenas chegaram a usá-los como locais de sepultamento para seus mortos.

O acervo conta com cerca de 8.000 objetos, entre os quais se destacam fósseis, esculturas de animais em pedra conhecidas como zoolitos e vasilhas de cerâmica guarani, além de quase 200 esqueletos bem conservados, com idades estimadas entre 1.055 e 1.552 anos. A ala de zoologia expõe animais de várias espécies conservados por taxidermia.

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