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Nova diretora da NASA jura sobre livro de Carl Sagan em vez da Bíblia – e este fato nos traz um bom lembrete

Dra. Makenzie Lystrup

@NASAGoddard | Twitter

Dra. Makenzie Lystrup em juramento no Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA

Francisco Vêneto - publicado em 25/04/23

Haveria algum sentido em jurar sobre a Bíblia apenas por uma formalidade imposta?

A Dra. Makenzie Lystrup tomou posse, recentemente, como diretora do Centro de Voos Espaciais Goddard, da NASA. O comunicado de imprensa com que a agência espacial dos Estados Unidos anunciou a novidade inclui uma foto do juramento prestado pela nova diretora durante a cerimônia em que assumiu o cargo.

Além do fato de Makenzie Lystrup ser a primeira mulher a liderar o centro espacial de Maryland, a foto da sua posse chamou particular atenção nas redes sociais por outro motivo. A imagem mostra que a mão dela, na hora do juramento, não está apoiada sobre a Bíblia nem sobre qualquer outro livro sagrado de nenhuma religião. Makenzie Lystrup prestou juramento sobre uma cópia da obra “Pálido Ponto Azul“, publicada em 1994 pelo astrofísico e divulgador científico Carl Sagan.

A opção de Lystrup por este marco da divulgação científica se ampara na legislação norte-americana, que não obriga ninguém a jurar sobre a Bíblia nem impede alguém de escolher textos não cristãos ou sequer religiosos nesse momento simbólico. Respeita-se a liberdade de crença e de expressão. De fato, muitas personalidades políticas dos Estados Unidos já fizeram juramentos sobre livros que não são religiosos.

Alguns internautas criticaram a escolha de “Pálido Ponto Azul” no lugar da Bíblia, interpretando o fato como se fosse um gesto proposital de desprezo pelo livro sagrado cristão. Entretanto, essa pressuposição sobre as intenções da Dra. Makenzie Lystrup ao optar pela obra de Sagan não se respalda em nenhum indício objetivo. O que se tem como fato é que ela exerceu o direito de representar o seu compromisso com a ciência mediante o simbolismo de um livro que tem facilitado o acesso de milhões de pessoas a perspectivas científicas ligadas à sua área de atuação profissional.

Ciência e religião

Trata-se de um episódio positivo para a ciência e também para a religião. Afinal, qual seria o sentido de se jurar sobre a Bíblia apenas por uma formalidade imposta?

A Bíblia não deveria ser utilizada de modo leviano como elemento decorativo numa encenação cerimonial. Quem livremente desejar comprometer-se com as suas funções profissionais ou políticas mediante um juramento sobre a Sagrada Escritura, que o faça com plena convicção e não por mera tradição dissociada de sincera devoção. A propósito: o segundo mandamento da Lei de Deus é muito claro ao proibir que se tome o Seu Santo Nome em vão.

De modo semelhante, se um profissional da ciência opta por jurar sobre um livro de teor científico, ele não apenas demonstra coerência com as próprias convicções como também revela respeito para com a religião, poupando as Sagradas Escrituras de um teatro hipócrita.

A genuína adesão à fé religiosa deve ser plenamente livre e consciente – jamais imposta. O Papa Bento XVI frequentemente falava sobre a necessidade da plena liberdade na opção pela fé. Ele declarou que mais vale um “pequeno rebanho” de cristãos realmente convictos do que grandes massas nominalmente cristãs, mas incoerentes com a doutrina de Cristo. Por sua vez, o Papa Francisco tem reiterado com ênfase a importância de se superar a hipocrisia na vivência da religião.

Fé e razão

Cabe recordar, neste contexto, também a contribuição de outro grande Papa dos tempos recentes: São João Paulo II. Ele reforçou, já no primeiro parágrafo da sua encíclica “Fides et Ratio“, que a fé verdadeira é indissociável da verdadeira ciência. A fé e a razão, destacou ele, são “como as duas asas com as quais o espírito humano se eleva à contemplação da verdade”.

Isto quer dizer que é, sim, perfeitamente coerente que um cientista jure sobre a Bíblia – desde que o faça por sincera convicção e com maduro conhecimento dos conteúdos da fé, que não se confundem com as metáforas e com as expressões históricas do livro sagrado.

A cerimônia de posse de Makenzie Lystrup é um lembrete de que comprometer-se a honrar os próprios deveres não deve ser um teatro, mas um ato consciente e sério, coerente com a própria área de atuação e fundamentado nas próprias convicções. Ao mesmo tempo, serve como um convite a todos nós, católicos, para nos perguntarmos se a nossa vivência da fé e da religião é coerente e convicta ou é apenas resquício de formalidades e ritualismos que orbitam à nossa volta por pura inércia cultural.

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