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Levei dez anos para desmontar o quarto dela…

mãe em luto
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Jennifer Hubbard - publicado em 27/04/23
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Sim, as estações devem fazer sua transição no tempo determinado

Levei dez anos para desmontar o quarto dela. As estações foram passando e os ritmos e rotinas da minha casa iam tomando a forma de um lugar onde uma criança se tornava adulta. O quarto da minha filha, porém, ficava imune ao tempo que transcorria dolorosamente. Paredes cor-de-rosa, lençóis macios, travesseiros fofos, tudo ficou congelado no tempo.

Depois que ela morreu, eu me sentava na sua mesa de estudos, separando as bugigangas que ela me garantia que eram tesouros. Folheava cadernos adornados com corações, estrelas, arco-íris e o bichinho do dia. Era como se eu procurasse algo para descongelar o meu corpo entorpecido. Talvez encontrasse algo que me catapultasse para a vida.

Eu era gentilmente questionada: "E o quarto de Catherine?". Depois de alguns anos, passei a ser cutucada: "Não está na hora?". Meu coração se contraía com tanta força que eu não conseguia respirar. O quarto dela era tudo que eu tinha para chamar de meu. Agitada e ofegante, eu recusava aquela ideia e me aferrava a continuar reivindicando aqueles domínios.

Uma vez ouvi dizer que as estações nos preparam intencionalmente para o que vem a seguir. Acredito que é a sacralidade e a interdependência da criação. As estações têm um tempo determinado. As flores tenras destinadas a produzir frutos serão queimadas se o sol de verão chegar muito cedo. As árvores folhosas acumularão o peso da nevasca prematura e os seus galhos se quebrarão.

Talvez a constrição do meu coração tenha sido a forma de nosso Senhor me dizer que o meu período de luto ainda não tinha terminado. Ou talvez fosse uma mensagem de outro teor. Enfim, acho que quando prestamos atenção ao nosso coração, quando consideramos cuidadosamente o seu estado, entendemos e ouvimos os sussurros de nosso Salvador.

No ano passado, li esta simples pergunta várias vezes. “A que estou me apegando?". A que estou me agarrando com tanta força que não consigo aceitar mais nada? As paredes rosa, a cama em que eu me aninhava às vezes, e aqueles tesouros dela, escondidos do mundo e cerrados com firmeza nos meus punhos, vieram todos à minha mente. Aquela suave inspiração fez o meu coração parar.

Sim, as estações devem fazer sua transição no tempo determinado. Quando elas passam, emergem flores tenras dos galhos, que se transformam em frutas amadurecidas pelo sol. Também o tempo do luto abre caminho para temporadas de alegria. Eu sabia que, na quietude, insistindo em me apegar aos tesouros terrenos de Catherine, as minhas mãos não estariam livres para aceitar os presentes da nova estação que me aguardava.

Fui colocando delicadamente em uma caixa o que seria precioso guardar para o irmão dela, e compartilhei todo o restante com quem pudesse precisar. Ao terminar, me sentei, sabendo que, na estação certa, de mãos abertas para os céus, eu colherei.

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