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Pai Nosso nos céus ou no céu?

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Julia A. Borges - publicado em 07/05/23

Qual seria a diferença e o motivo para o uso no singular e no plural? 

Apesar da simplicidade em que se apresenta a oração ensinada por Cristo, e anteposta a qualquer outra também pelo uso conciso de palavras, o “Pai Nosso” ainda parece manifestar algumas dúvidas, dentre as quais o uso dos termos céus e céu. Qual seria a diferença e o motivo para o uso no singular e no plural? 

O próprio Jesus, antes de apresentá-la aos apóstolos, instrui que “quando orardes, não tagareleis como os pagãos, convencidos de que na verborreia deles serão escutados” (cf: Mateus 6:7). E este ensinamento fica evidente ao longo desta oração, que cabe assinalar, é encontrada nos evangelhos de Mateus e de Lucas, mas com algumas diferenças como a própria quantidade de palavra. A oração descrita em Mateus conta com 58 palavras em grego; a de Lucas possui 38. Mas o que configura certa dúvida entre os católicos é o uso das expressões “no céu” e “nos céus”.

Imediatamente depois de invocar a Deus como “Pai nosso”, Jesus acrescenta “que estais nos céus”, não com o objetivo de indicar um lugar, um espaço físico, mas para revelar a maneira de ser de Deus que ultrapassa nosso entendimento e vai muito além das nossas medidas. O papa Bento XVI, quando comenta a oração em sua obra “Jesus de Nazaré”, afirma que, ao repetir as palavras “Pai nosso, que estais nos céus”, não se deve ter o entendimento de Deus como um ser deslocado, como se existisse em um domínio espacial situado muito longe, mas sim, é necessário compreender que mesmo havendo diferentes pais terrenos, viemos todos, no entanto, de um único Pai, o qual é a medida e a origem de toda a paternidade: “Eu dobro os meus joelhos diante do Pai, do qual deriva toda a paternidade no céu e na terra”, diz São Paulo (cf: Ef 3,14s). E completa Bento XVI: “céu, significa, portanto, aquela outra elevação de Deus, de onde todos nós viemos e para onde todos nós devemos ir. A paternidade “nos céus” remete-nos para aquele “nós” maior, que ultrapassa todas as fronteiras, abate todos os muros e cria a paz.”.

Já o Catecismo da Igreja Católica frisa ainda que “o símbolo dos céus nos remete ao mistério da Aliança que vivemos, quando rezamos ao nosso Pai. Ele está nos céus que são a sua morada; a casa do Pai é, portanto, nossa “pátria”. Foi da terra da Aliança que o pecado nos exilou e é para o Pai, para o céu, que a conversão do coração nos faz voltar” (n. 2795). Deus está além de tudo, não está circunscrito a um lugar concreto, tem-se, portanto, a ideia da transcendência de Deus. E se está em todos os lugares, também pode se encontrar em cada um de nós, uma vez que habita naquele que Nele crê.

A análise do termo no singular apresenta algumas interpretações que podem se diferenciar um pouco umas das outras, mas em sua essência, a reflexão da frase “assim na terra como no céu” expressa o desejo para que a vontade de Deus seja feita na terra, isto é, nos pecadores, como é feita no céu, nos justos. Nessa frase, o termo ‘céu’ remete ao local da habitação de Deus. Toda a vontade Dele já é cumprida no céu e, nessa oração, pedimos para que a vontade de Deus também seja cumprida na Terra. Unindo-nos a Cristo podemos tornar-nos um só espírito com Ele e assim cumprir a sua vontade durante a vida, como já é feito no céu.

Com efeito, a vontade de Deus só se revela em nossa vida se houver da parte do cristão o anseio do agir divino. Duas coisas são necessárias para alcançar a vida eterna: a graça de Deus e a vontade do homem. Esta cooperação é expressa nas palavras de Santo Agostinho: “Aquele que te criou sem ti, não te justificará sem ti”. Assim é, portanto, o Nosso Pai que se encontra nos céus, na terra, no ar e em cada um de nós.

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