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A falha da argumentação ateísta

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Shutterstock | Natalya Biryukova

Pe. José Eduardo - publicado em 12/05/23

Tanto ao valer-se de argumentos cientificistas quanto de historicistas, eles se esquivam de conduzir a questão ao seu nascedouro: a noção de “ser”

Os ateístas ostentam a sua crença valendo-se sempre de argumentos cientificistas (simplesmente porque querem usar a ciência experimental para chegar a um resultado metodologicamente fora do seu alcance, o que é flagrantemente anticientífico) ou historicistas (tentando desmistificar a Divina Revelação pelo método-histórico crítico).

A estratégia principal do segundo tipo de abordagem é desorientar o ouvinte incauto pela omissão de todos os dados, debates e controvérsias a respeito. Os temas de exegese bíblica são sempre uma arena de grandes embates, nos quais os autores quase sempre não chegam a uma conclusão sustentável. As hipóteses são levantadas e derrubadas sucessivamente. Quase tudo que se apresenta como certeza, se não foi, será quase certamente refutado.

Ora, em ambos os casos, os ateístas se esquivam de conduzir a questão ao seu nascedouro: a noção de “ser”. Tanto cientificistas como historicistas, consciente ou inconscientemente, consideram o “ser” como uma espécie de espiritualização grega, quase como uma metáfora. Partindo de um materialismo – que, no caso, é mais um preconceito epistêmico que propriamente uma posição filosófica –, tomam o ser simplesmente como sinônimo de existência.

Nesse caso, não estão sozinhos. O erro pode facilmente ser rastreado até o século XIII, quando a filosofia nominalista tentou eliminar a noção de essência e teve como resposta dialética o essencialismo, que considera a realidade como um conglomerado de essências tornadas existentes univocamente pelo ser.

Confusão entre ser e existir

O grande erro, aqui, é identificar a noção de ser com a de existência, ignorando que, enquanto existir é um fato unívoco, ser é um ato análogo. Exemplifico: uma pedra existe tanto quanto uma árvore, um cão, a sua sogra, um anjo ou Deus; contudo, na escala dos seres, Deus é mais que um anjo, que é mais que a sua sogra, que é mais que um cão (ainda que haja controvérsias, haha), que é mais que uma planta, que é mais que uma pedra. E por que, isso? Porque os seres ulteriores são capazes de perfeições mais altas que os seres anteriores e possuem maior imanência que estes.

Essa sutileza não foi bem percebida, inclusive, por alguns tomistas clássicos. E quem a melhor compreendeu foi um filósofo italiano cujo estudo, ainda quase inexistente no Brasil, é por demais proveitoso: Cornélio Fabro.

A descoberta genial de Fabro é a de que São Tomás tomou o conceito de participação, originalmente platônico, desprezado por Aristóteles como metafórico, e o tomou em sentido aristotélico, aplicando-o à noção de ato e potência e, destas, ao ato de ser: a relação entre participado e participante se dá nos termos da relação entre ato e potência, com prioridade do ato, ao qual convém o ser.

Sendo assim, o “ser” é um ato intensivo, do qual participam todos os entes, em medidas diferentes.

O ser dos entes finitos

A principal vantagem desse modo de ver as coisas é que o ato de ser dos entes finitos sempre é limitado e, portanto, não se autofunda. Em outras palavras, eu sou algo (essência, ou seja, tenho um modo de ser), mas não sou o meu ser. O ser, em mim, está limitado, participado… E essa “participação” é perceptível justamente porque:

  • 1) todas as coisas têm o ser, mas não são o seu ser, de modo que são “algo”, ou seja, estão limitadas por um modo de ser, uma essência;
  • 2) se todas são, mas são em intensidades diferentes, e sendo o ser uma “perfeição” que é raiz de todas as perfeições no ente, de “onde” dimana o ser do qual participam em diferentes medidas?;
  • 3) se dimanasse delas mesmas, elas seriam causa de si e, portanto, infinitas (o que não existe), mas se dimanassem umas das outras infinitamente, sendo elas todas finitas, sempre o ato proviria da potência, o que, elevado ao infinito, seria impossível (do nada, nada provém);
  • 4) portanto, a hipótese do Ser subsistente do qual dimana o ato ede ser de todos os seres é a mais razoável de todas as hipóteses.

    Contudo, qual a dificuldade de perceber isso? Por que nós, homens, temos tanto trabalho para enxergar a realidade na perspectiva do ser?

    Uma noção difícil

    A dificuldade provém do fato de que a noção de ser é totalmente universal e indeterminada. O intelecto não consegue abstrai-la das coisas, embora o ser esteja nelas. O modo de procedimento do intelecto para chegar à noção do ser é a de “decomposição” e “composição”: ou seja, a percepção dos entes se dá numa “síntese confusa” e, ainda que o ser seja o primeiro dado percebido, ele só será inteligido enquanto ser por um procedimento posterior do entendimento, que “decompõe” essa estrutura metafísica para que seja compreensível.

    Do ser relativo ao Ser absoluto

    Assim sendo, do ser relativo remontamos ao Ser absoluto, pelo simples recurso da razão, a não ser que tomemos o ser em sentido meramente metafórico. Porém, quem dirá que a gente é só metaforicamente ou que comeu um macarrão metafórico ou tomou uma cachaça metafórica? O ser é real, assim como a essência que o delimita. É por isso que a negação de Deus sempre conduzirá à negação do homem – de fato, a ideologia de gênero está aí para prová-lo.

    Pe. José Eduardo Oliveira, via Facebook

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