A comunidade de Santo Egídio assumiu uma importância significativa sob o pontificado de Francisco, às vezes sendo descrita como um instrumento diplomático paralelo ao da Secretaria de Estado
O Papa Francisco confia ao cardeal Matteo Maria Zuppi, arcebispo de Bolonha, a tarefa de “liderar uma missão, em acordo com a Secretaria de Estado, para contribuir com o alívio das tensões no conflito na Ucrânia”, anuncia o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, em 20 de maio de 2023. No entanto, a Santa Sé não revelou os detalhes e o cronograma dessa operação diplomática, que “ainda está sendo estudada”.
No avião de volta de sua viagem à Hungria em 30 de abril, o Papa Francisco disse aos jornalistas que a Santa Sé estava trabalhando em uma “missão” para a paz na Ucrânia. Mas ele também se recusou a revelar a natureza da operação. “Eu o direi quando for público”, prometeu ele.
Em uma declaração emitida logo após o anúncio da Santa Sé, a Conferência Episcopal Italiana (CEI) reagiu saudando a escolha de confiar essa “missão de paz” ao seu presidente, o cardeal Zuppi. Realizada “de acordo com a Secretaria de Estado”, ela deverá ajudar a “quebrar as tensões e abrir caminhos para a paz”, explicou o secretário-geral da CEI, Dom Giuseppe Baturi.
O Vaticano, por sua vez, nunca falou de uma “missão de paz” – um termo que poderia implicar que o enviado negociaria a paz, uma opção rejeitada por ambas as partes – mas apenas de uma “missão”.
No comunicado, a CEI anunciou que o Cardeal Zuppi não falaria publicamente sobre o assunto sem o acordo da Santa Sé ou do Papa, devido à “importância e delicadeza da tarefa” que lhe foi confiada.
O Cardeal de Santo Egídio
Se a natureza da operação ainda não foi oficializada, a escolha do cardeal Zuppi – e não a de Dom Claudio Gugerotti, anunciada pela imprensa italiana, mas negada pelo dicastério para as Igrejas Orientais – é um indício. O presidente da Conferência Episcopal Italiana é membro da Comunidade de Santo Egídio desde seu início, no bairro de Trastevere, em Roma.
Dentro dessa associação católica, comprometida com o diálogo ecumênico e o trabalho pela paz, o Cardeal Zuppi, na época um simples padre, liderou uma importante mediação em 1992 em Moçambique, na época devastado por uma guerra civil. Mais tarde, ele foi mediador de Sant’Egidio na Tanzânia, Cuba, Kosovo e no País Basco em 2017, quando os membros do ETA decidiram fazer dele sua “testemunha moral” quando depuseram as armas.
A comunidade de Santo Egídio assumiu uma importância significativa sob o pontificado de Francisco, às vezes sendo descrita como um instrumento diplomático paralelo ao da Secretaria de Estado. De acordo com a Reuters, a missão do cardeal italiano de 67 anos é se reunir separadamente com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenski e com o presidente russo Vladimir Putin.