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Paquistão: Polícia mata a tiro duas alunas em escola católica

Pakistańscy chrześcijanie podczas obchodów Niedzieli Palmowej w kościele świętego Antoniego w Lahore

ARIF ALI/AFP/East News

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Reportagem local - publicado em 28/05/23

O ataque, que deixou também feridas pelo menos outras cinco crianças e uma mulher adulta, ocorreu a 16 de Maio numa escola católica em Sangota, na diocese de Islamabad-Rawalpindi, no noroeste do Paquistão

Um agente da polícia que estava a fazer a segurança a uma escola católica feminina no noroeste do Paquistão, disparou contra um autocarro escolar que transportava professores e alunos, matando duas alunas, uma das quais com apenas nove anos de idade. Cinco outras raparigas e uma mulher ficaram também feridas no tiroteio que ocorreu a 16 de Maio em Sangota, no vale de Swat, numa instituição católica gerida pelas Irmãs da Apresentação da Bem-Aventurada Santíssima Virgem, na diocese de Islamabad-Rawalpindi. O agente da polícia, identificado como Muhammad Alan Khan, que havia sido contratado em Fevereiro como segurança da escola, foi entretanto detido pelas autoridades que abriram um inquérito ao incidente. 

D. Sebastian Shaw, arcebispo de Lahore, de passagem por Portugal, comentou este ataque à Fundação AIS e fala na agressividade de sectores mais radicais e que são contra a educação das raparigas. “Algumas pessoas pensam que nós, Católicos e Cristãos, estamos a educar as mulheres, porque temos algumas escolas exclusivamente para raparigas… e algumas pessoas não são pró-educação das mulheres, não concordam com a educação das mulheres, nem no Paquistão nem noutros lugares. Assim, este homem, que é segurança, é o responsável pela protecção das crianças que vêm para a escola, do pessoal da escola, dos pais, de todos. É para isso que é pago. Mas devido a um momento de loucura, porque esta escola está a ensinar raparigas, ele fez aquilo. Isto revela e agressividade de algumas pessoas, de grupos que são contra a educação das raparigas.”

“Todos têm direito à educação”

O Arcebispo de Lahore, que participou na cidade de Évora na inauguração de uma exposição da Fundação AIS sobre o rapto e conversão forçada de raparigas cristãs no Paquistão e em outros países do mundo, disse ainda que este ataque e o assassinato de duas alunas, não vai alterar o compromisso da Igreja Católica na educação de todos, especialmente dos mais vulneráveis, como tem feito até aqui. “Vamos continuar a educar, totalmente, onde quer que haja um homem ou mulher, um rapaz ou uma rapariga. Todos são seres humanos e todos os seres humanos têm direito à educação. Todos têm o direito de se tornarem pessoas melhores, todos têm o direito de desenvolver a sua personalidade. Todos nós temos o direito de crescer e nos tornarmos um ser humano pleno”, afirmou. O Arcebispo de Lahore disse ainda que este episódio “cria alguma insegurança”. “Por isso – acrescenta – o governo tem de proteger mais as instituições e as pessoas que estão empenhadas na educação e na saúde.”

“Ameaçados e inseguros”

O Arcebispo de Lahore não foi o único responsável da Igreja Católica do Paquistão a comentar este novo ataque contra a comunidade cristã. Logo após o incidente, D. Joseph Arshad, Arcebispo de Islamabad-Rawalpindi, disse que o agente da polícia já tinha sido “suspenso duas vezes por comportamento violento”. “Sentimo-nos ameaçados e inseguros no meio do terrorismo crescente no país”, disse ainda o prelado. “Isto é lamentável. Exigimos que o guarda seja punido para evitar [a repetição de] uma tragédia como esta no futuro”, acrescentou. A Igreja já apelou às escolas católicas paquistanesas para realizarem um dia de oração em solidariedade para com as vítimas do ataque. Este incidente veio despertar memórias de outros incidentes graves ocorridos também nesta região. Em 2012, Malala Yousafzai, a activista que ganhou o Prémio Nobel da Paz por fazer campanha contra a proibição da educação das mulheres pelos talibãs paquistaneses, foi baleada na cabeça quando regressava da escola num autocarro, e anos antes, a própria escola das Irmãs da Apresentação da Bem-Aventurada Santíssima Virgem, em que ocorreu agora este crime, teve de fechar portas devido a ataques terroristas.

Escola atacada em 2009

De facto, fundada em 1962, a escola secundária, que é um estabelecimento público de ensino conhecido por Sangota Public School, foi arrasada em 2009 por um ataque de fundamentalistas islâmicos que só não causou vítimas porque as religiosas tinham evacuado as alunas. Esse ataque foi antecedido, dois anos antes, por ameaças de um grupo radical islâmico, Jan Nisaran-e-Islam, que acusava as irmãs de quererem converter as raparigas muçulmanas ao cristianismo. A escola, que alberga actualmente mais de oito centenas de estudantes, só viria a reabrir as suas portas em 2012. No mais recente relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, editado pela Fundação AIS, pode ler-se que a religião “continua a ser uma fonte de discriminação e de negação de direitos” neste país asiático, e que não é, por isso, surpreendente que em 2018 “o Departamento de Estado norte-americano tenha designado o Paquistão como um País Particularmente Preocupante”. O Relatório da AIS particulariza que os casos de “discriminação, blasfémia, rapto de mulheres e raparigas, e conversões forçadas continuam a assombrar a vida quotidiana das minorias religiosas” neste país.

(Fundação AIS)

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