"Meu marido e eu cuidamos de nossa mãe e de nossa sogra, que têm 91 e 93 anos", explica Jehanne, que é casada há 28 anos. "Elas são independentes, mas temos que estar presentes, respeitar seus desejos e cuidar de sua segurança.
Já Thomas e Florence, casados há 26 anos, têm uma situação diferente: de um lado estão os pais de 85 anos, que estão "em ótima forma" (ou quase), e do outro a sogra de 93 anos, que está sentindo o peso dos anos e da solidão.
Por fim, Pauline e Didier cuidam dos pais de Pauline (85 e 86 anos), que moram sozinhos em uma casa grande no campo, à distância, embora os visitem sempre que podem.
"De fato, escolher como cuidar dos pais idosos, levar em conta suas escolhas, gerenciar contas e procedimentos administrativos, organizar visitas e férias - tudo isso consome muito tempo", explica Geneviève de Leffe, conselheira matrimonial e instrutora da Cler.
E quanto ao próprio casamento? Embora eles se recusem a falar sobre "perigo", todos concordam que é essencial ser sensível aos sinais das primeiras dificuldades para evitar o efeito "panela de pressão" e a explosão do casal.
Cuidado com a sobrecarga emocional
O mesmo se aplica à sobrecarga emocional. "Meu marido me recrimina por ser emocionalmente dependente de meus pais e acha difícil suportar o fato de eu estar sempre cuidando deles", diz Pauline.
De fato, ela ama profundamente seus pais e às vezes se sente dividida entre os dois amores de sua vida: seu cônjuge e seus pais idosos… Às vezes, esse apego emocional se transforma até mesmo em "submissão emocional", com base no dever filial, com o cônjuge ficando em segundo plano. "Nesse caso, muitas vezes é o cônjuge que é o primeiro a nos alertar para o fato de que está demais, o que leva a inúmeras discussões e depois à erosão gradual do casamento, que pode até mesmo levar à separação", observa a conselheira matrimonial.
O segundo problema é o momento do casamento. Em uma idade, normalmente, em que o casal está enfraquecido pela saída dos filhos de casa, o casal pode compensar isso cuidando excessivamente dos pais idosos.
O que não é bom
"Não podemos passar a vida inteira cuidando de nossos pais, isso não seria bom para nós. Além disso, tenho a forte sensação de que se eu me intrometer no relacionamento do meu marido com a mãe dele, isso não fará bem ao nosso casamento", diz Jehanne. Ela continua: "Estamos em uma fase em que precisamos continuar reinventando nossa vida juntos, longe de nossos pais". Sem mencionar o fato de que um pode não concordar com as escolhas feitas pelo outro.
Finalmente, há um risco real de levar vidas paralelas nesse momento específico. "Eu estava tão cansada física e mentalmente que não conseguia mais encontrar forças para conversar com meu marido", lembra Florence. Além disso, cuidar de parentes idosos pode tomar muito do seu tempo, causando ansiedade e falta de paciência com seu parceiro. "Isso me deixa irritada, agressiva e indisponível física e mentalmente", conclui Pauline com lucidez. Seja por conflitos ou falta de vínculo, é difícil lidar com um pai ou mãe idosa. "E em ambos os casos, o impacto sobre o casal é negativo, com o parceiro se sentindo distante ou impotente diante dos conflitos de lealdade envolvidos", explica a conselheira matrimonial.
Então, o que pode ser feito?
Para Pauline, é essencial reagir rapidamente aos primeiros sinais de desconforto em seu parceiro: mude a forma como as coisas estão organizadas assim que você sentir que a outra pessoa não aguenta mais… E, é claro, ouça o Espírito Santo! Quanto a Jehanne, ela tem duas palavras em seus lábios: comunicação e estrutura. "Desde que você diga o que é certo e o que é errado, a situação se torna administrável. Quanto à estrutura, ela evita que as coisas saiam do controle. Por exemplo, em nossa casa, cada um cuida de sua própria mãe e cada um toma decisões com seu próprio irmão e irmã".
Quanto a Thomas, ele aconselha os maridos a regularem as demandas emocionais excessivas, a aliviarem o calor de certas situações, a lembrarem regularmente suas esposas de suas responsabilidades como esposas e mães e, acima de tudo, a ousarem dizer quando "Basta!"
Diálogo
Geneviève de Leffe oferece os seguintes conselhos. O primeiro é manter um diálogo como casal, expressando suas emoções e sentimentos, que às vezes podem ser ambivalentes, para entender melhor a outra pessoa. Conversar permite que você se acalme, dê um passo atrás e tenha clareza sobre as reais necessidades de seus pais. Você também precisa saber como se adaptar. Tudo muda: a vida profissional, os relacionamentos, a doença, a velhice etc. Você não pode se prender a um determinado modo de cuidar e precisa inventar novas soluções, se necessário.
Também é essencial identificar e tomar consciência do tempo que é realmente investido no pai idoso e trabalhar em conjunto para identificar o impacto em cada um de nós e na vida do casal. Também é essencial buscar ajuda, aceitar seus limites e se afastar de uma espécie de onipotência que consiste em pensar que você é o único capaz de cuidar de seu parente idoso.
Por fim, precisamos superar a crença de que "colocar nosso parente idoso em um estabelecimento médico ou especializado significa abandoná-lo", quando essas estruturas podem oferecer melhores cuidados em um ambiente seguro e adaptado às necessidades da pessoa idosa.
Entregar-se a Deus por meio da oração
Também é importante passar um tempo de qualidade com seu parente idoso, como casal e como família. E não se esqueça de procurar ajuda se precisar, seja pessoalmente ou como casal: terapeutas, grupos de autoajuda, grupos de discussão de cuidadores, etc. para encontrar conforto e, acima de tudo, outras maneiras de fazer as coisas/estar com seu pai ou mãe e seu cônjuge.
Por fim, concluem os casais que conhecemos, é essencial colocar regularmente esse apoio na oração em conjunto: intercessão, novenas, tudo é bem-vindo nessa área. "E as coisas estão lenta mas seguramente se tornando mais claras, um dia de cada vez…", diz Jehanne. E a prova? A mãe de Florence estava tendo um período difícil, mas o casal acabou de se inscrever com ela para uma peregrinação a Lourdes. "A Virgem Santíssima nos disse para fazer isso", conclui Thomas com um sorriso.