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Por que a história deste padre despertou o interesse da Netflix?

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© IMDb

Dawid Ogrodnik est le père Jan Kaczkowski dans le film "Johnny", de Daniel Jaroszek.

Anne-Sophie Retailleau - publicado em 05/06/23

Fundador de um centro de cuidados paliativos de vanguarda e doutor em bioétia, o padre Jan Kaczkowski fez da defesa da dignidade das pessoas em fim de vida a sua luta. Ele ficou muito conhecido na Polônia, e a sua história virou filme

Nas telas, a história do padre Jan Kaczkowski emocionou milhões de pessoas do mundo inteiro. Porém, antes de virar filme e muito antes de sua morte, em 2016, ele já era uma figura conhecida entre os poloneses. Reconhecido pela sua vivacidade e empatia, esse jovem sacerdote se empenhou em defender a dignidade dos doentes terminais. A vida é tema de um filme, “Padre Johnny”, que está disponível na Netflix. 

Engraçado e comovente, o longa-metragem traça o compromisso do padre Jan com os moribundos, através dos olhos de um jovem viciado em drogas que o sacerdote decidiu colocar sob sua proteção. 

O padre Jan e os cuidados paliativos

Padre Jan foi um dos mais famosos defensores dos cuidados paliativos na Polônia. Deficiente desde o nascimento, o jovem Jan sofreria de uma deficiência visual grave e tinha dificuldade para se locomover. Ordenado sacerdote em 2002, tornou-se capelão do hospital local da cidade de Puck, onde descobriu a dimensão da falta de recursos nos serviços de cuidados paliativos. “Parte do serviço interno do hospital que se ocupava dos cuidados paliativos em más condições foi eliminado. Lá eu era capelão e também ia de casa em casa visitar os doentes, como qualquer padre. Eu vi pessoas morrendo de câncer. Você não precisava ser Napoleão para entender que algo precisava ser feito”, testemunhou o sacerdote.

Impressionado com a experiência de suas visitas aos doentes, o padre Jan embarcou no projeto que considerou o trabalho de sua vida: construir um centro de cuidados paliativos de última geração. O hospício São Padre Pio recebeu seus primeiros pacientes em 2009. O padre Jan, que também obteve um doutorado em bioética, dirigiu o centro. 

Ele, então, assistia os enfermos, acompanhava os moribundos e suas famílias e administrava os Sacramentos. Se o padre Jan decidiu desde muito cedo dedicar-se à defesa da dignidade das pessoas em fim de vida, foi porque demonstrou uma sensibilidade particular pelos mais fracos, pelos que ficaram para trás. 

O sentido do meu sacerdócio, o sentido da minha vida, é celebrar o Santo Sacrifício e estar com os moribundos.

Padre Jan

Mas faltava um último passo para torná-la a causa plena de sua vida, até o dom total à imagem d’Aquele que ele queria seguir. Em junho de 2012, o padre Jan soube que tinha glioblastoma cerebral. Ele já estava lutando contra um câncer renal, mas o novo tumor é incurável. Ele viu seu diagnóstico como uma libertação, o que lhe deu forças para superar suas dúvidas. “Não tenho mais medo de nada. Eu estou livre. Obrigado, meu caranguejo [câncer, nota do editor], por me libertar dos meus muitos medos”, disse ele em uma homilia.

Respeito à dignidade do paciente

Mesmo doente, padre Jan não cessou suas atividades no centro de cuidados paliativos. Atormentado pela ideia de que o centro São Padre Pio entraria em colapso após sua partida, ele empreendeu uma vasta campanha para arrecadar doações. Muito rapidamente, ele foi convidado para entrevistas em emissoras de TV e de rádio de toda a Polônia. O sacerdote, então, se tornou um rosto familiar para os poloneses. 

Veementemente contra a eutanásia e a implacabilidade terapêutica, padre Jan estava convencido de que o respeito pela dignidade dos pacientes em fim de vida requer uma educação para a morte. O jovem padre decide fazer um treinamento prático aberto a estudantes de medicina no centro São Padre Pio. Ensinou sobre o que dizer e o que não dizer a um moribundo, sobre como compreender melhor as suas necessidades físicas e psicológicas, sem esquecer a atenção às suas necessidades espirituais. 

Para morrer bem, você tem que viver

Aprender a morrer bem é, antes de tudo aprender, a viver. Para ajudar os doentes e suas famílias, o padre Jan chegou a publicar um “manual da doença”. Ele dava conselhos sobre como continuar vivendo apesar da doença e como ajudar um enfermo. De fato, o sacerdote buscava convencer as pessoas de que a vida de um paciente em cuidados paliativos pode ser intensa e cheia de significado: 

“Não farei mágica: uma doença grave costuma obrigar você a reorganizar completamente a própria vida e, em grande parte, a dos entes queridos, mas também dá algo em troca. Nós, que já deveríamos ter morrido há muito tempo, e, graças aos esforços da medicina, ainda estamos vivos, somos uma surpresa para os outros e para nós mesmos. Isso nos dá a distância certa do mundo e de nós mesmos – é uma grande força viver na doença, aprofundar a proximidade com aqueles que amamos e aceitar o nosso… morrer.”

“Estou doente com Ele”

Para o padre Jan, a chave para viver bem e morrer bem está na qualidade da relação com os outros. “O significado do meu sacerdócio, o significado da minha vida, é celebrar o Santo Sacrifício e estar com os moribundos”, escreveu ele. 

O jovem sacerdote, devoto profundo da Eucaristia, encarou sua doença como parte da salvação, em comunhão com os sofrimentos de Cristo. “Estou doente com Ele”, repetia com frequência. “Já que Deus está tão incrivelmente próximo do homem, é absurdo culpá-lo pelo mal que recai sobre nós ou sobre o mundo. Então, quando descubro que estou com uma doença terminal, Ele sente medo e desespero em mim e comigo – o próprio Cristo, por assim dizer, está doente comigo. E ele está tão vulnerável quanto eu nesta situação”, observou.

Padre Jan morreu na casa de sua família no dia seguinte à Páscoa de 2016, aos 38 anos de idade. Por sua sua vida entregue à defesa da dignidade dos mais frágeis, ele foi um precioso testemunho para o nosso tempo marcado pela tentação da eutanásia.

O filme

Parte da vida do Padre Jan está retratada no filme “Padre Johnny“, que está disponível na Netflix. 

Após ser preso por tentativa de roubo, um criminoso e viciado em drogas é condenado a prestar 360 horas de serviço comunitário em um sanatório. Lá, ele conhece o diretor e fundador da instituição, o padre Jan Kaczkowski (Ogrodnik). O ex-criminoso faz amizades com outros funcionários e pacientes – algo que muda seu comportamento autodestrutivo. Entretanto, sua relação amistosa com padre Jan é impactada por uma tragédia.

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