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Religião
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A seletividade da crítica antirreligiosa

Cruz quebrada

Jean-Matthieu GAUTIER/CIRIC

Pe. José Eduardo - publicado em 06/06/23

Persegue-se a religião que não interessa ao poder regulador

Esses dias, assisti a um vídeo num canal especializado em ateísmo e fiquei admirado com os louvores que ali foram tecidos a cultos de matriz afro-ameríndia. Não que eu pense que se deva humilhar alguma religião. Pelo contrário! Apenas me impressionou a diferença de tratamento: enquanto a religião cristã é hostilizada, a outra é louvada de modo extravagante.

Impressionei-me ainda mais com o fato de que o mesmo discurso foi replicado por um padre, o qual mereceu ganhar um louvor no telejornal de uma grande emissora justamente pela sua não apenas amizade com uma sacerdotiza de tais cultos, mas inclusive pela sua confessada frequência a estes, em cujas imagens de sujeição à tal senhora que lhe benzia eram sacralizadas como grande sinal de beleza e coerência.

Em ambas as glorificações, acentuava-se que aqueles ambientes são lugares de resistência política ao colonialismo, que se serviu da religião cristã como instrumento de opressão cultural.

Ainda ontem, mostraram-me também um grande ajuntamento de feiticeiros, ocorrido nas imediações de São Paulo, em que se cantavam cânones pagãos, invocando-se as energias de sabe-se-lá onde em imensas cirandas de gente vestida a caráter.

Em todos esses exemplos verifica-se uma demonstração eloquente de que toda crítica à religião é, em si, apenas instrumental: ou seja, persegue-se a religião que não interessa ao poder regulador, hostiliza-se-a e critica-se-a intolerantemente, visando o seu completo extermínio e repressão, de tal modo que ela mesma não apenas se conforme com o alijamento do espaço público, mas reproduza todos os discursos feitos para amordaçá-la e destruí-la, internalizando a própria crítica a si e a glorificação da proposta alternativa, utilizada apenas para reconduzir a sociedade ao paganismo pré-cristão.

O grande “mérito” das religiões naturalistas de tradição pré-monoteísta é a sua completa desvinculação de uma moral. E exatamente por isso tais crenças primitivistas são utilíssimas nas mãos de quem quer usar o instrumental religioso para diluir a sociedade e colocá-la de joelhos diante do sistema.

Nada disso é ingênuo. Em “Human Society”, Kingsley Davis mostra que a religião é muito útil como instrumento de aglutinação social. Portanto, não se trata da superação da religião em si, mas apenas daquela que não depende de Estado algum, pois ela mesma se constitui como instituição autônoma e soberana: a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.

Pe. José Eduardo Oliveira, via Facebook

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