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Roma: padaria que atende os Papas desde 1930 fechará as portas

Bread Coffee and Colosseum
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V. M. Traverso - publicado em 12/07/23
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Depois de quase um século de atividade, a "Padaria dos Papas" anunciou que não está conseguindo acompanhar o aumento dos custos


Angelo Arrigoni se lembra vividamente da primeira vez que teve a chance de se encontrar pessoalmente com um papa. Ele era apenas uma criança e o pai dele, um padeiro, pediu-lhe que levasse alguns pães ao Papa João XXIII. “Foi uma experiência incrível”, disse Arrigoni ao Rome Today. “Lembro-me de voltar para casa e dizer ao meu pai que havia falado com o próprio Papa!” 

Por quase um século, a família Arrigoni administra uma pequena padaria, conhecida localmente como “Padaria dos Papas”, no bairro de Borgo Pio, em Roma. Durante 90 anos de operação, a "Panificio Arrigoni" forneceu pães para os Papas: Pio XII, João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI e Francisco.

Mas o impacto combinado do aumento dos preços da energia e a substituição gradual de moradores locais por turistas está levando a histórica padaria a encerrar suas atividades. 

A história

Conforme explicado pelo diário italiano La Repubblica, a Arrigoni foi fundada em 1930 pelo pai de Arrigoni, um padeiro de Milão que se mudou para Roma para seguir uma mulher por quem se apaixonou. Arrigoni casou-se com a romana e conseguiu um empréstimo com a família dos sogros para abrir uma padaria na cidade. A única condição para o empréstimo era que a loja fosse aberta perto da Basílica de São Pedro.

E estar tão perto de São Pedro ajudou a colocar o pão de Arrigoni no mapa do Vaticano. Em 1930, o pão que ele produzia foi oferecido ao Papa Pio XI e, desde então, a padaria tornou-se a padaria "oficial" da Santa Sé. 

Os pães preferidos dos Papas

Em artigo publicado pela Agência de Notícias 247, os Arrigoni revelaram detalhes sobre o tipo de pão preferido de cada papa. Pio XI gostava de pão vienense, uma variação menos quebradiça do típico pão rosetta redondo de Roma. Pio XII gostava de rolos de azeite, enquanto João XXIII e Paulo VI preferiam pequenas versões de roseta conhecidas como rosettine.

Já João Paulo II pedia para comer o mesmo pão que o restante dos moradores do Vaticano e recebia uma mistura de rosetas e cinco ciriolas, um típico pão romano espesso e com massa esfarelada.

Bento XVI, por sua vez, costumava visitar a Arrigoni antes de ser eleito Papa para comprar pães escuros, enquanto o Papa Francisco pedia “pão normal” à padaria, apesar de o padeiro se oferecer a fazer um pão especial argentino.

Moradores e turistas também costumavam frequentar a padaria dos Arrigoni. Em uma entrevista, Angelo explicou que uma das coisas que mais amava em seu trabalho era fornecer pão para qualquer pessoa, independentemente de sua origem. “O pão faz parte da nossa vida, faz parte dos valores cristãos”, disse Arrigoni ao Rome Today . “Um pedaço de pão, às vezes, é tudo o que você precisa para se sentir melhor.” 

Novos tempos

Mas, nos últimos anos, os moradores locais começaram a se mudar do bairro de Borgo Pio, à medida que os preços dos aluguéis subiram devido ao aumento da demanda por aluguéis turísticos de curto prazo. Conforme explicado no diário italiano Corriere della Sera, não mais do que 20 famílias locais vivem atualmente na região próxima à padaria.

Arrigoni explicou que “quase ninguém mora mais no bairro”, que viu casas de propriedade local serem substituídas por hotéis e pousadas. Essa mudança demográfica levou à queda na demanda por seus produtos de panificação. A padaria também lutou para se manter depois das altas nas contas de eletricidade, já que opera um forno tradicional de décadas que consome muita energia. 

Nos últimos meses, Arrigoni pediu ao governo municipal que ajudasse a manter sua histórica padaria funcionando. No entanto, o governo não pôde ajudar. Foi feito também uma oferta de venda, mas nenhuma entidade apresentou proposta para assumir a padaria.

Há poucos dias, Angelo Arrigoni, agora com 78 anos, decidiu fechar a histórica padaria. “A decisão está tomada”, disse ele à Agência 247. Com isso, a padaria tão tradicional é mais um estabelecimento histórico a fechar no bairro de Borgo Pio, uma área antes conhecida por artesãos e empresas familiares que agora sofre o impacto do turismo não regulamentado.