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“Oppenheimer”: a implosão de um génio

Oppenheimer

Universal Pictures

Oppenheimer

Alexandre Freire Duarte - publicado em 13/09/23

O Cinema pelo olhar da Teologia: Os fins justificarão os meios? O utilitarismo e o situacionalismo (o primeiro, sem padrões morais absolutos; o segundo, chegando a dizer que o mal pode ser praticado em nome do bem) atravessam esta obra

“Oppenheimer” é uma brilhante, instável e expansiva biografia académica dramática acerca da ligação do genial com a arrogância e os equívocos. Unindo a distensão com o humanamente horroroso, Nolan concebe um excelente agregar de linhas temporais (cada uma com a sua estética) que permite apresentar, sem complexidade, uma densa e (sur)real narrativa com vários níveis temáticos. O seu talento é evidente, e não sendo autorreferente, apenas realça o que de sublime esta obra possui a nível conceptual.

Murphy é irrepreensível, numa performance que junta os feitos exteriores com a imaginação interior, a ponto de lograr tudo mudar só com os seus enormes olhos, que servem de espelho para a sua e nossa alma. Os demais atores também encaixam nos puzzles desta obra sem atrito nenhum, embora se desvalore (e explore) as personagens femininas. A cinematografia, o tom e a música, por seu lado, harmonizam-se ao ritmo rápido e excitante do que se vê e dão uma qualidade etérea do começo até um fim em que, depois de sermos expostos a terríveis dilemas, temos que ser nós a dar respostas.

Desde uma visão teológica, o filme é uma iguaria de temas. Mas comecemos por uma que poderá escapar no meio de tudo o mais: quase tudo no universo é vazio. Espaço quase sem o que quer que seja, mesmo no material mais duro e cuja consistência vem “de fora para dentro”. Sem esse “de fora”, seríamos poeira joeirada pelas nossas vidas até que estas desaparecessem. Agarrar-nos-íamos ao instinto insensato da ego-preservação até tornarmo-nos em desamor, esse genuíno destruidor dos mundos, das vidas, da esperança.

Uma outra temática é mais velha: os fins justificarão os meios? O utilitarismo e o situacionalismo (o primeiro, sem padrões morais absolutos; o segundo, chegando a dizer que o mal pode ser praticado em nome do bem) atravessam esta obra. Todavia, e no fundo, tais posições só levarão ao trauma em quem quer viver ciente da sua consciência, aquém das pressões laborais, culturais e sociais. Mas como viver assim a par da interior agitação explosiva do pecado? É quase impossível, donde eis muitos a entregarem-se à entrópica e oscilante busca prometeica da ascensão na fama e no sucesso que, tristemente, acabarão em quedas, pois não têm qualquer valor diante dos olhos de Deus.

Os principais suspeitos, numa sociedade assim moldada, são os mansos: os que usam palavras e atos para unir e não para separar, mantendo a brilhar a Luz de um sentido divino mais profundo; os que recusam o pecado que destrói(-nos) nem o mascaram, suscitando, não teorias, mas reações de amor efetivo em cadeia. Aquelas reações que advêm, não de uma fé nocional, mas de uma fé experiencial que nos converte em suscitadores de possibilidades de amor, compreensão, compaixão e alegria. E isto, mesmo quando isso comportar, para nós, a noção da aparente irrelevância da nossa oferta sacrificial decorrente de apontarmos, como vemos sucessivamente em “Oppenheimer”, novas formas expandidas de se ver as pessoas e demais realidade.

Sim: todos temos contradições, falsidade e desamor, mas se nos lembrarmos que Jesus fez do homem o centro da religião, Ele poderá libertar-nos das nossos vários tipos de escravatura, aos quais até demos nomes piedosos para iludirmos que não somos como os pequenos do Reino: os que não se entregam a nada que, na fé, já consagraram a Deus.


(EUA, Reino Unido, 2022; dirigido por Christopher Nolan; com Cillian Murphy, Emily Blunt, Robert Downey Jr., Matt Damon, Florence Pugh, Kenneth Branagh e Casey Affleck)

Tags:
ArteCinemaCultura
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