A condenação inconstitucional do bispo dom Rolando Álvarez e a escalada da repressão aos católicos testemunham a determinação do regime sandinista de erradicar o cristianismo
Com 6,8 milhões de habitantes, a Nicarágua é um dos países centro-americanos que oscilam indefinidamente entre diferentes regimes autoritários. Após liderar as lutas contra o ditador Somoza, Daniel Ortega e os sandinistas assumiram o controle do país em 1979. Ortega foi presidente até 1990, quando perdeu as eleições presidenciais. Sem abandonar a política jamais, regressou ao poder em 2007 e alterou a Constituição para abolir os limites de mandato. Tornou-se um ditador que alega combater a ditadura - dos outros.
Homem forte da Nicarágua há mais de 15 anos, elegeu a própria mulher, Rosario Murillo, como sua vice-presidente. Instalou membros da família em cargos-chave no país. Organizou uma repressão implacável contra os opositores políticos. Nesse contexto, o regime prendeu um dos opositores mais influentes, o bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez, condenado inconstitucionalmente em fevereiro de 2023 a mais de 26 anos de prisão por alegada “traição à pátria”.
Um regime opressor
Daniel Ortega se apoia nos poderosos cartéis da droga para financiar a sua ditadura de matriz marxista, não hesitando em reprimir violentamente as manifestações que impliquem risco para a sua sobrevivência no poder. O mais nítido exemplo dessa covarde mão de ferro se viu nos massivos protestos de 2018, quando o regime matou centenas de pessoas e prendeu milhares, até sufocar os manifestantes com chumbo e sangue. Foi a partir desse brutal episódio, aliás, que Ortega recrudesceu a perseguição contra a Igreja, dado que o clero local havia apoiado os protestos.
Um relatório orquestrado pelo regime acusa a Igreja de lavagem de dinheiro e terrorismo. Acusações semelhantes, ainda que sem provas, são dirigidas contra qualquer pessoa que se oponha ao regime.
A repressão anticatólica vem se intensificando principalmente desde 2022, mas está longe de ser novidade no país. Em 1983, durante a sua visita apostólica à Nicarágua, o Papa João Paulo II enfrentou uma das jornadas mais difíceis do seu pontificado. Mesmo com seu microfone silenciado para que a sua voz não pudesse ser ouvida, e apesar dos militantes sandinistas que gritavam e o insultavam continuamente, o papa polonês não desistiu e aguentou firme até o fim da viagem - marcada por uma reprimenda pública e enfática ao pe. Ernesto Cardenal, então ministro da Cultura num governo já ocupado por Daniel Ortega.
Até quando vai continuar a caça aos cristãos na Nicarágua? Até quando vai durar a ditadura de Daniel Ortega? As duas perguntas parecem ter a mesma resposta, que, no entanto, não se sabe qual é. Não se vislumbra nenhuma saída imediata. Ortega está firmemente entrincheirado, controla o exército e a polícia e paga os seus apoiadores com dinheiro da droga, sob o silêncio conivente - e, portanto, cúmplice - de regimes amigos.