O pós-humanismo é um movimento intelectual contemporâneo, ainda em desenvolvimento, que desafia noções filosóficas, antropológicas, sociológicas e éticas tradicionais sobre o que significa ser humano. Surgiu nas últimas décadas do século passado, a partir de campos diversos como a filosofia, a ciência, a literatura e a arte. Consequentemente, abrange uma ampla gama de perspectivas interdisciplinares e tem recebido atenção significativa nos últimos anos – embora ainda esteja longe de ser a perspectiva filosófica contemporânea "dominante".
Como movimento filosófico e cultural, o pós-humanismo procura examinar a relação, em plena evolução, entre os humanos e a tecnologia – tanto os seus supostos benefícios quanto as ameaças decorrentes do seu abuso. Nesta análise, questiona os limites da identidade humana.
Princípios básicos do pós-humanismo
Alguns deles:
- Transumanismo: pode ser concebido como um subcampo do pós-humanismo, voltado a explorar o aprimoramento das capacidades humanas por meio da tecnologia. Os defensores do transumanismo acreditam no potencial dos humanos para transcender as "limitações" biológicas mediante avanços em áreas como a biotecnologia, a nanotecnologia e a inteligência artificial.
- Pós-antropocentrismo: o pós-humanismo desafia a visão antropocêntrica, isto é, a visão de que os humanos estariam no centro do universo, e sugere que os humanos não devem dominar outras espécies ou ecossistemas, defendendo um quadro ético diferente.
- Teoria do Ciborgue: baseado no Manifesto Ciborgue de Donna Haraway, o pós-humanismo reconhece a crescente integração entre humanos e máquinas, levando ao surgimento de ciborgues – para o bem ou para o mal. Esta teoria explora as fronteiras indefinidas entre o humano e a máquina, desafiando assim uma compreensão da identidade humana orientada para a biologia.
- Crítica do Dualismo: O pós-humanismo rejeita, ao menos até certo ponto, o pensamento tipicamente dualista e cartesiano que separa a mente e o corpo, mas também o humano do não-humano e o orgânico do artificial.
Implicações do pós-humanismo
Obviamente, as teorias pós-humanistas podem ter implicações profundas para o futuro da humanidade. Algumas dessas implicações incluem:
- Dilemas éticos: o pós-humanismo levanta questões sobre as implicações morais do aprimoramento humano, os direitos das entidades não humanas e as consequências das intervenções tecnológicas em nossa vida.
- Identidade e autenticidade: desafia o conceito de identidade humana autêntica, já que a nossa crescente "fusão" com a tecnologia levanta questões sobre a natureza do eu e da individualidade – quem, ou o que, é humano?
- Ambientalismo: o pós-humanismo incentiva uma abordagem ambientalista, a partir da ideia de que os humanos devem ter mais consideração pelo seu impacto no mundo natural.
- Transformação social e política: finalmente, o pós-humanismo também apela à reavaliação das estruturas sociais e políticas à luz da evolução da tecnologia, abordando questões como a privacidade, a vigilância e a distribuição de recursos.
Uma (ampla) perspectiva católica sobre o pós-humanismo
Da perspectiva católica, o pós-humanismo certamente levanta importantes preocupações teológicas e éticas. Embora a Igreja Católica sempre tenha estado aberta ao progresso científico e aos avanços tecnológicos, ela enfatiza a importância das diretrizes morais e éticas.
Algumas considerações importantes:
- Dignidade humana: o catolicismo sustenta que todo ser humano é dotado de dignidade intrínseca, já que é feito à imagem e semelhança de Deus. As ideias pós-humanistas que desafiam a santidade da vida humana mediante intervenções tecnológicas excessivas (ou desnecessárias) devem ser vistas, no mínimo, com cautela.
- Responsabilidade ética: a Igreja enfatiza a responsabilidade do uso da tecnologia para o aprimoramento da humanidade e para proteger os vulneráveis. Todas as preocupações éticas relacionadas com o melhoramento humano, por um lado, e os direitos das entidades não humanas, por outro, devem ser abordadas com cuidado.
- Gestão ambiental: A tradição católica, tanto filosófica quanto teológica, apoia claramente a boa gestão da Terra, enfatizando a nossa responsabilidade em relação à criação de Deus. Os documentos Laudato Si' e Laudate Deum, por exemplo, ambos do Papa Francisco, tratam diretamente desta preocupação fundamental. Alguns dos princípios básicos do apelo do pós-humanismo à consciência ambiental se alinham, até certo ponto, com esta perspectiva.
Resumindo, o pós-humanismo não é uma escola homogênea de pensamento. Pelo contrário, é um movimento multifacetado que explora a evolução da relação entre os humanos e a tecnologia. Tem implicações para a ética, a sociedade e o meio ambiente. Diante desse movimento, a perspectiva católica enfatiza a importância da dignidade humana, da responsabilidade ética e da gestão ambiental.
Em suma, o diálogo contínuo entre o pós-humanismo e as tradições religiosas, incluindo o catolicismo, apresenta um panorama relativamente novo - que precisa ser percorrido com atenção e cuidado.