No primeiro domingo deste mês (3 de dezembro), rodou o mundo a notícia de que quatro pessoas foram assassinadas e mais de cinquenta ficaram feridas após um atentado a bomba perpetrado em plena Santa Missa no ginásio da Universidade Estatal de Mindanau, em Marawi, no sul das Filipinas. Trata-se da maior cidade muçulmana do país, que, no entanto, é predominantemente católico.
O atentado foi reivindicado pelo famigerado grupo terrorista Estado Islâmico.
Aliás, Marawi já havia sido manchete internacional em 2017 devido a um confronto que deixou mais de 1.200 mortos: na ocasião, diferentes grupos extremistas alinhados ao Estado Islâmico haviam sitiado e tomado o controle de parte da cidade durante cinco meses.
Mas o Estado Islâmico já não tinha sido derrotado?
Sim, tinha sido derrotado - mas não extinto.
O grupo terrorista criado no Oriente Médio e considerado um dos mais sanguinários e covardes de todos os tempos deixou o planeta atônito ao se aproveitar das instabilidades que se seguiram aos levantes populares da fracassada “Primavera Árabe”, a partir do final de 2010, para conquistar territórios e implantar um regime de terror principalmente nas regiões mais debilitadas pela fragmentação do poder entre facções em combate, como o Iraque, a Síria e, pouco depois, a Líbia. Além disso, aliou-se ao selvagem bando de fanáticos terroristas islâmicos Boko Haram, da Nigéria, um dos mais cruéis e ativos da atualidade. O Estado Islâmico sofreu uma derrota contundente no Oriente Médio e perdeu a quase totalidade dos territórios que havia conquistado e devastado, mas mantém células ativas e laços com vários outros bandos doentios em diversas regiões do mundo, sobretudo na Ásia e na África.
No caso da África, além da ligação com o Boko Haram, o Estado Islâmico atua diretamente no norte de Moçambique, na região do Cabo Delgado, rica em reservas de gás natural liquefeito. A jazida é uma mais importantes do continente e atrai grandes investimentos para a sua extração. Invadida pelos jihadistas e por bandeiras pretas, principalmente desde 2017, a província convive até hoje com o medo de ataques repentinos e brutais, com grande parte da população tendo sido forçada a fugir sem levar praticamente nada. Até meados de 2022, os assassinos já tinham matado nessa região mais de 3 mil pessoas, inclusive decapitando crianças, e expulsado pelo menos 800 mil, deslocando-as de seus vilarejos. Os dados atuais são pouco confiáveis. Missionários chegaram a denunciar que o governo moçambicano impede a divulgação dos casos.
No tocante à Ásia, células do Estado Islâmico permanecem ativas no Oriente Médio, mas as Filipinas também estão entre os territórios infectados pela sua presença mortífera. O sul do arquipélago vive há anos um cenário de separatismo islâmico, terreno fértil para a proliferação de grupos radicais que se aliam entre si conforme as conveniências.