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Por que o Vaticano condenou um cardeal a mais de 5 anos de prisão?

Cardeal Angelo Becciu

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Francisco Vêneto - publicado em 19/12/23
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O "julgamento do século": foi a primeira vez que um cardeal de alto escalão foi condenado por um tribunal do Vaticano, após 86 audiências judiciais

Deu a volta ao mundo, neste último dia 16, a notícia de que o Tribunal do Vaticano condenou o cardeal italiano Angelo Becciu a 5 anos e 6 meses de prisão, após julgá-lo culpado de desvio de dinheiro da Santa Sé. O que a mídia descreveu como "o julgamento do século" entrou para a história como a primeira vez que um cardeal de alto escalão é condenado por um tribunal vaticano. O tribunal também proibiu o cardeal de ocupar cargos públicos e lhe impôs uma multa de 8.000 euros. Os advogados de Becciu informaram que pretendem recorrer.

O promotor de justiça do Vaticano, Alessandro Diddi, havia pedido uma condenação ainda mais severa: 7 anos e 3 meses de prisão, multa superior a 10.000 euros e a proibição definitiva de que o cardeal ocupe cargos públicos. Até a sentença, foram 86 audiências judiciais, iniciadas em julho de 2021.

Por que o Vaticano condenou o cardeal Becciu?

O purpurado foi considerado culpado pelos seguintes crimes:

  • Compra irregular de um edifício na Sloane Avenue, em Londres. Segundo o tribunal, Becciu foi responsável pelo uso ilegal, entre os anos de 2013 e 2014, de 200,5 milhões de dólares, "equivalentes a quase um terço dos ativos da Secretaria de Estado na época".
  • Transferência indevida de 125 mil euros à Cáritas Ozieri. Segundo a corte, "o desembolso dos fundos pelo Secretário de Estado constituiu, neste caso, um uso ilegal dos fundos, configurando crime de peculato". O valor, ainda segundo o tribunal, foi de fato destinado "à cooperativa SPES, da qual o irmão" do cardeal, Antonio Becciu, era presidente. O cardeal nega esta acusação. O Tribunal do Vaticano recordou que o Código de Direito Canônico "proíbe a alienação de propriedade pública eclesiástica a parentes até o quarto grau".
  • Entrega de 570 mil euros à administradora Cecilia Marogna sob a justificativa, descartada pelo tribunal, de que o dinheiro seria pago em resgate da religiosa colombiana Cecilia Narvaez. A freira havia sido sequestrada por um grupo jihadista e, na época, ainda era mantida refém. Ela chegou a passar quatro anos e oito meses em cativeiro no Mali antes de ser libertada e retornar à Colômbia, num caso dramático que comoveu o mundo católico.

Na época dos crimes pelos quais foi condenado, Becciu era delegado para Assuntos Gerais na Secretaria de Estado do Vaticano. Além dele, foram condenados a já mencionada Cecilia Marogna, o então diretor da Autoridade de Inteligência Financeira do Vaticano, Tommaso di Ruzza, e os financiadores envolvidos na compra do edifício de Londres. Por outro lado, foi absolvido o então responsável pela documentação na Secretaria de Estado, mons. Mauro Carlino.

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