A Basílica de Santa Maria Maior é uma das quatro grandes basílicas papais de Roma e um dos santuários mais antigos dedicados à Nossa Senhora. Se isso não fosse suficiente para tornar a igreja um importante ponto de peregrinação, durante a temporada de Natal católicos e turistas ficam ainda mais inclinados a visitá-la, pois sob seu altar ornamentado há um relicário contendo cinco fragmentos da manjedoura na qual o Menino Jesus foi colocado após seu nascimento.
De Belém a Roma, esses pedaços de madeira percorreram um longo caminho em tempos difíceis e estão na Basílica desde o século VII. Em dezembro de 2023, Aleteia conversou com o Monsenhor Piero Marini, Vigário do Arciprestado de Santa Maria Maior e guardião da Manjedoura Sagrada, sobre os humildes começos dessa relíquia e a mensagem que ela ainda transmite hoje.
Do que é composta a relíquia?
Monsenhor Piero Marini: A relíquia da Manjedoura Sagrada é composta por cinco pedaços de madeira que vêm de uma árvore de sicômoro, que cresce na Palestina e é semelhante àquela na qual Zaqueu subiu. Quatro desses pedaços provavelmente formavam dois "X" que ficavam de cada lado da manjedoura, e o quinto pedaço foi colocado no meio para mantê-los unidos. Esses pedaços indicam que faziam parte de um objeto sobre o qual se colocava a palha para os animais.
Esses fragmentos são o que restou após 14 séculos aqui. Os pedaços provavelmente eram maiores e mais longos antes, mas passaram por muitas vicissitudes.
Como sabemos que esses fragmentos vêm da manjedoura de Jesus?
Monsenhor Piero Marini: Quando a Manjedoura Sagrada era mencionada, eu sorria porque achava que era uma daquelas muitas histórias que ouvimos. Mas não, ao estudar a documentação, vemos que esses fragmentos realmente vêm de Belém. Temos duas testemunhas importantes. A primeira, a mais antiga, é de Orígenes, que foi um teólogo de Alexandria. Ele escreveu que a relíquia da Manjedoura Sagrada era preservada em Belém por volta do ano 210 ou 220. Isso é uma indicação extremamente importante.
A segunda indicação histórica que temos é de São Jerônimo, que foi para a Palestina e lá ficou por 35 anos. Isso foi por volta do ano 400. Os cristãos ainda iam para o Oriente e havia uma grande quantidade de peregrinos na Terra Santa. São Jerônimo diz que, de tempos em tempos, ele tinha que acompanhar os peregrinos para ver a gruta santa e a Manjedoura Sagrada onde o Senhor tinha sido colocado. Então, essa é a segunda testemunha, além de Orígenes, mas há também outras.
Diante dessa informação, fiquei menos incrédulo, comparado ao início, quando fui solicitado a ser o guardião da Manjedoura Sagrada. Agora, eu venero essa relíquia e olho para a humildade com que a Igreja e a fé em nosso Senhor começaram.
Que mensagem essa relíquia oferece hoje às pessoas que a visitam?
Monsenhor Piero Marini: Essa relíquia aponta para a pobreza com a qual a Igreja começou, com a qual a Igreja deve sempre se medir na história, mesmo que nem sempre tenha sido assim. O Senhor nasceu e o colocaram ali, na palha, onde estavam os animais, porque ele não tinha nada. Depois, ele terminou na cruz, e embora seja verdade que há a ressurreição, a humanidade no Senhor passou por experiências de extrema pobreza.
É por isso que São Francisco insistiu na humanidade do Senhor; ele enfatizou essa pobreza que é necessária para a Igreja. As pessoas podem vir aqui, contemplar e meditar sobre esses pedaços de madeira, conhecendo sua história e o que elas testemunham.
Como esses fragmentos chegaram a Roma?
Monsenhor Piero Marini: Em 636, Jerusalém foi cercada pelos exércitos sarracenos. Por causa disso, o Patriarca de Jerusalém, Sofrônio, não pôde celebrar em Belém, onde estava a Manjedoura Sagrada. Diante dessa situação, ele pegou os pedaços da Manjedoura Sagrada e os enviou para Roma, onde estava Teodoro I, um papa de origem palestina. Eles queriam salvar os pedaços, pois eram uma relíquia preciosa para eles.
Como foram preservados?
Monsenhor Piero Marini: A relíquia chegou a Santa Maria Maior e fez com que a igreja fosse chamada Santa Maria "ad praesepe", ou seja, Santa Maria da Manjedoura. Também foi chamada de Belém de Roma ou Belém do Ocidente. Esta Basílica era o local perfeito para guardar a manjedoura, pois era o primeiro santuário dedicado à Virgem Maria.
Depois, no século VIII, durante o papado de Adriano I, construíram uma oratória no lado direito da basílica onde essa relíquia da Manjedoura Sagrada foi guardada. Durante muitos séculos, todos os peregrinos que vinham para Roma do norte da Europa visitavam essa relíquia, que era uma das mais importantes em Roma.
E depois?
Monsenhor Piero Marini: Em meados do século XVI, essa oratória foi incorporada a uma capela dentro de Santa Maria Maior, e a relíquia foi guardada lá em uma urna que se dizia ser muito bonita. Havia também procissões e a relíquia era exibida no altar principal no Natal.
No final do século XVIII, as tropas napoleônicas chegaram e levaram a urna, deixando apenas os pedaços de madeira. Alguns anos depois, em 1802, o relicário que vemos hoje, em ouro e prata, foi encomendado por Pio IX, que era muito devoto desta igreja. O relicário foi feito por Giuseppe Valadier, que vinha de uma família de ourives romanos. Pio IX também mandou construir esse hipogeu, onde a relíquia ainda se encontra, e fez uma estátua de si mesmo ajoelhado para ser colocada em frente a ela. Alguns anos atrás, em 2019, os pedaços de madeira foram restaurados e um pequeno fragmento dessas peças foi enviado à Palestina como uma relíquia.