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Homem que ficou paraplégico após acidente ama a sua vida

Matej Lednik
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Kaja Zupanc - publicado em 07/01/25
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Matej Lednik tinha apenas 22 anos quando sua vida mudou para sempre. Hoje, ele é ativista de segurança no trânsito, inspiração para outros paraplégicos e pai.

A vida pode mudar em um instante de distração. Foi o que aconteceu com Matej Lednik, esloveno, que, aos 22 anos, foi vítima de um acidente de moto e ficou em uma cadeira de rodas. Apesar da tragédia, ele não perdeu a fé na vida. Pelo contrário, ele se tornou um exemplo de perseverança, força e espírito positivo!

Hoje, Matej é o orgulhoso pai de uma filha de dois anos e têm diploma universitário em engenharia mecânica. Fora do trabalho, ele lidera com paixão a Associação de Paraplégicos de Celje, onde, como presidente, se conecta com outros paraplégicos, os inspirando e incentivando. Aleteia o entrevistou.

Quão grave foi a lesão? Você se lembra do acidente?

Matej Lednik: Não lembro do acidente em si. Fiquei em coma por 14 dias, em estado crítico. Tive uma lesão pulmonar grave, o que foi muito perigoso para a minha sobrevivência. Além da coluna, todas as minhas costelas estavam quebradas.

Quando um ponto de virada como esse acontece em uma idade jovem, a sensação de que você vai viver uma vida inteira em uma cadeira de rodas deve ser bem difícil. Como foi para você na época?

Lednik: Foi um processo realmente longo. Não aconteceu da noite para o dia. Você não aceita esse tipo de coisa tão rápido quanto algumas pessoas pensam. Leva um tempo para aceitar a situação. No começo, eu nem sabia o que me esperava. Ainda tinha alguma esperança de que, depois que o tratamento terminasse, as coisas melhorassem, que tudo poderia ser curado. Eu não sabia o que esperar.

Aí, durante a reabilitação e o tratamento, comecei a perceber que nada ia mudar. Claro, o corpo vai ficando um pouco mais forte, você entra de novo em uma rotina, mas é bem diferente de antes. Logo você percebe que nunca vai voltar a andar.

De onde veio sua motivação? Você passou a se envolver de forma diferente?

Lednik: O ponto de virada para mim aconteceu durante a minha reabilitação. Após toda a fisioterapia, nos davam um tempo livre para andar com as cadeiras de rodas pelo hospital. Todos os dias, eu encontrava um senhor um pouco mais velho que eu, talvez uns 10 anos, sempre onde o deixavam.

Um dia eu disse a ele: “Vamos dar uma volta, vamos para o andar de baixo.” E ele disse: "Eu não posso." Confuso, perguntei: "Como assim você não pode, se eu posso? Por que você não pode?" Ele explicou que tinha uma lesão mais alta, na região do pescoço, e não conseguia nem usar os braços. Ele era tetraplégico, enquanto eu sou paraplégico, e meus braços funcionam normalmente.

Matej Lednik

Esse foi um momento definidor para mim, quando percebi que existem pessoas em uma situação muito pior que a minha. Eu ainda consigo me mover sozinho, ir aonde quiser. Mas ele está sempre onde o deixam. Foi quando comecei a olhar para minha lesão de outra maneira — que não era a pior coisa que poderia acontecer. Essa percepção me deu motivação, sabendo que ainda posso fazer algo, mesmo que minha situação tenha mudado.

Como você descreveria a vida em uma cadeira de rodas? Quais são os desafios que você enfrenta no dia a dia?

Lednik: A vida em uma cadeira de rodas é bem mais complicada. Você tem que planejar e se preparar muito mais para as coisas. Muitas vezes algo que você precisa está apenas fora de alcance — e mesmo que esteja só um centímetro fora de lugar, isso pode ser como se estivesse a um quilômetro de distância. Você tem que se acostumar com isso no começo e também explicar para os outros que não devem mover suas coisas. Por exemplo, se alguém move seus sapatos ou outros objetos, isso pode te causar problemas.

Eu enfrento muitos desafios. Exige muita adaptação, e você tem que pensar em como vai fazer cada coisa. Sempre tem que levar certos dispositivos médicos com você. Antes eu podia sair de casa de forma impulsiva, mas hoje em dia, tenho que planejar tudo bem. Por exemplo, quando vou trabalhar, sempre levo uma bolsa com todas as coisas médicas que preciso. O mesmo para viagens; sempre tenho que levar cateteres e outros itens necessários para minhas necessidades básicas.

Quem foi a pessoa que mais te deu suporte nos momentos mais difíceis, e como esse apoio foi importante para você?

Lednik: Minha família e minha esposa foram, sem dúvida, as pessoas que mais me deram suporte nos momentos difíceis. Sem a ajuda deles, eu certamente não seria quem sou hoje. Além deles, também tive amigos que ficaram ao meu lado, aqueles que permaneceram e me aceitaram como eu me tornei depois do acidente.

Foi muito importante para mim que eles não me olhassem de forma diferente, mas continuassem a me tratar como igual. Eles não ficavam pensando se eu poderia ou não ir com eles, mas se adaptavam e sempre me incluíam. Esse apoio me deu força para superar os desafios com mais facilidade.

Matej Lednik

Há coisas ou momentos que são mais preciosos para você hoje do que antes do acidente?

Lednik: Definitivamente, vejo a vida de uma maneira diferente agora. Muitas coisas com as quais me preocupava não significam tanto para mim hoje. Claro, ainda tenho que cuidar de coisas do dia a dia e resolver problemas, como todo mundo.

Mas me parece que algumas pessoas criam problemas onde realmente não há, e se sobrecarregam desnecessariamente. Temos nossos desafios diários que precisamos enfrentar e aceitar. Como resultado, não vejo problemas pequenos como grandes problemas, e não os encaro como um problema.

Como você vê sua paixão por motos hoje? Houve alguma mudança? Você acompanha as corridas de moto?

Lednik: Eu ainda sou apaixonado por motos. Ainda acompanho o MotoGP e também as corridas de motocross. Já andei de veículos de quatro rodas ou buggies off-road por vários anos, então essa paixão por motos ainda está presente, mas agora de uma forma diferente, com os quadriciclos.

Motos ainda fazem parte da minha vida, só que de outro jeito. Sou também membro de um clube de quadriciclos, e nós, paraplégicos, temos nossa própria seção. Nos reunimos de vez em quando, vamos passear e socializar. Dessa forma, combinamos o útil ao agradável e mantemos viva a nossa paixão por dirigir.

Matej Lednik

Você fala muito sobre seu acidente. Há algo que você gostaria de dizer aos jovens?

Lednik: Nós damos palestras no âmbito do "Instituto Eu Dirijo", onde organizamos workshops para alertar os jovens sobre os perigos de dirigir. Não sou mais um palestrante ativo há alguns anos, porque simplesmente não tenho mais tempo para fazer todas essas coisas. Então, deixei para outras pessoas que corajosamente assumiram essa tarefa. Mas fui um dos fundadores do Instituto e, no começo, trabalhei muito ativamente para alertar os jovens a ter mais cuidado no trânsito, para evitar histórias como a nossa.

A vida muda muito após um acidente, e nem sempre para melhor. As lesões físicas são duradouras e não podem ser “curadas”, como uma perna quebrada que se recupera. Algumas lesões te acompanham para a vida e exigem uma forma de vida completamente diferente. Ainda pode ser legal, você ainda pode fazer muitas coisas, mas é mais difícil. 

Então, por que complicar a vida se não for necessário? Por isso, aconselho os jovens a pensarem bem sobre suas escolhas e ações para não se arrependerem mais tarde.

Você também é pai de uma filha de dois anos. O que a paternidade significa para você?

Lednik: A paternidade significa muito para mim, provavelmente como significa para todos que se tornam pais ou mães. É um novo capítulo da vida, que traz valores diferentes e uma nova maneira de olhar para o mundo. De repente, você já não está mais cuidando só de si, mas tem alguém que significa tudo para você.

Quanto ao acidente, é verdade que algumas pessoas questionaram se a paternidade seria possível para mim, devido à minha condição. Minha parceira e eu tentamos por muito tempo e quase desistimos. Quando finalmente conseguimos, foi um verdadeiro milagre, o que tornou tudo ainda mais alegre.

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