Em sua análise sobre a perseguição, o especialista revela várias descobertas e adverte que, longe de diminuir os ataques contra a Igreja Católica na Nicarágua, se intensificaram desde a publicação do chocante relatório. Durante a entrevista baseada na pesquisa, foi possível identificar alguns achados: A reação do Papa e a diplomacia do Vaticano têm sido constantes; Existe um padrão de abuso sistemático contra a liberdade religiosa; Há uma escalada evidente em termos de perseguição e perda de liberdades.
A reação do Papa e a diplomacia vaticana na Nicarágua
Questionado sobre a existência de uma possível ligação entre as condenações públicas do Papa Francisco e a reação que ele gera, ele explicou que "as represálias de Ortega são cada vez mais severas. Isso leva o pontífice a moderar e espaçar seus comentários".
No entanto, depois de advertir que, "se o Papa não falar regularmente sobre essa perseguição, ficará impune", o especialista fornece um relato detalhado das inúmeras reações de apoio do pontífice, em um esforço para mostrar o apoio da Igreja.
A evidência é clara. Em 6 de março de 2022, Ortega demite o núncio apostólico, o Arcebispo Dom Waldemar Stanislaw Sommertag. No dia 12 de fevereiro de 2023, durante o Angelus dominical, o Papa disse estar triste e preocupado com a condenação a 26 anos de prisão de Dom Rolando Álvarez, bispo de Matagalpa, e a expulsão de 222 opositores para os Estados Unidos.
Ainda em 21 de fevereiro de 2023, Ortega declarou que uma "máfia" dentro do Vaticano decidiu a eleição do Papa e dos principais líderes religiosos. já em 10 de março de 2023, em entrevista ao jornal argentino Infobae, o Pontífice se referiu ao "desequilíbrio" de Daniel Ortega. Além disso, ele comparou sua ditadura à ditadura comunista de 1917 e à ditadura de Hitler de 1935, chamando-as de "ditaduras brutas".
Respostas
Nesse contexto, Thibault lembra que a reação do ditador não demorou a chegar: em 17 de março de 2023, Ortega fechou a nunciatura e expulsou monsenhor Marcel Diouf, que atuava como núncio apostólico, enquanto monsenhor Sommertag já havia sido expulso um ano antes.
Em 1º de janeiro de 2024, durante o Angelus, o Papa expressou sua "profunda preocupação" pela situação na Nicarágua, onde "bispos e sacerdotes foram privados de sua liberdade". Nos dias 29 e 30 de dezembro de 2023, pelo menos cinco padres foram presos.
Também, em 19 de agosto de 2024, Ortega decretou o fechamento de 1.500 associações, a maioria cristãs, elevando para mais de 5.100 o número de organizações civis dissolvidas desde 2018. Como resultado, o Papa encoraja os nicaraguenses diante das provações durante o Angelus de 25 de agosto de 2024.
Ademais, em 2 de dezembro daquele ano, em uma carta dirigida ao povo nicaraguense, Francisco expressou seu afeto e proximidade a eles, especialmente durante a novena da Imaculada Conceição. Ele também encorajou os fiéis a renovar sua confiança em Deus e sua fidelidade à Igreja, enfatizando que "a fé e a esperança fazem milagres".
Padrão de abuso sistemático e perseguição
O relatório demonstra a existência de um "padrão de abusos sistemáticos" entre 2018 e 2024. Com base nos novos dados que estão sendo processados no ECLJ após a publicação, a Aleteia perguntou se eles se intensificaram ou diminuíram recentemente.
De fato, há uma escalada da violência: "A repetição e a gravidade dos ataques testemunham um padrão de perseguição sistemática dirigida contra aqueles que ousam expressar sua fé ou denunciar abusos de poder".
Recorda que, em 5 de outubro de 2024, a Espanha anunciou que ofereceria sua nacionalidade a 135 opositores nicaraguenses "depostos e expulsos de seu país em 5 de setembro de 2024 e inicialmente acolhidos na Guatemala". Entre eles, menciona o especialista, "estão católicos fiéis e treze membros de uma organização missionária evangélica no Texas, Mountain Gateway".
Ainda outro elemento particularmente relevante corresponde a novembro de 2024, quando foi revelado que a administração de Ortega impede que os padres vão aos hospitais para o sacramento da unção dos enfermos.
Bispos da Nicarágua exilados
Em 14 de novembro de 2024, Dom Carlos Herrera Gutiérrez, bispo da diocese de Jinotega e presidente da Conferência Episcopal Nicaraguense (CEN) é expulso pelo governo nicaraguense para a Guatemala.
Assim, ele se torna "o terceiro bispo da Conferência Episcopal exilado pelas autoridades nicaraguenses, depois de Dom Rolando Álvarez e Dom Isidoro del Carmen Mora Ortega, da diocese de Siuna, em janeiro de 2024 para o Vaticano". Anos antes, em abril de 2019, o Papa Francisco havia pedido a Dom Silvio José Báez, bispo auxiliar de Manágua, que fosse para o exílio após receber ameaças de morte.
No início de dezembro de 2024, a Nicarágua exige que todas as freiras que ainda estavam no país deixem o território. A notícia chega logo após a publicação de uma carta pastoral do Papa Francisco, datada de 2 de dezembro de 2024, ao povo nicaraguense.
Em 16 de janeiro de 2025, o governo ordenou o confisco do seminário maior San Luis Gonzaga, localizado ao sul de Matagalpa, onde 30 seminaristas são formados; bem como o centro pastoral La Cartuja, pertencente à diocese de Matagalpa.
Logo, seu bispo, monsenhor Rolando Álvarez, exilado em Roma desde janeiro de 2024, foi preso em agosto de 2022 e condenado a 26 anos de prisão por "conspiração" e "disseminação de notícias falsas". Dom Álvarez falou pela primeira vez em uma entrevista publicada em 12 de janeiro de 2025 pelo jornal espanhol La Tribuna d'Albacete. Portanto, as represálias contra sua diocese não demoraram a chegar.
Perseguição também às religiosas
Embora o ataque às freiras também não tenha sido seletivo ou excepcional, mas parte de um padrão sistemático. De fato, "na noite de 28 de janeiro de 2025, cerca de trinta freiras de clausura, pertencentes à Ordem de Santa Clara, tiveram que deixar seus mosteiros em Manágua e Chinandega, por ordem do governo Ortega".
A esse respeito, Thibault afirma: "Esta nova expulsão, que é surpreendente por sua brutalidade e rapidez, ocorre em um contexto de intensificação da perseguição do regime nicaraguense contra os cristãos".