separateurCreated with Sketch.

“Eu tinha 23 anos, era psicóloga e trabalhava com autismo, quando recebi meu diagnóstico”

Laura Favron

Laura Favron

whatsappfacebooktwitter-xemailnative
Paulo Teixeira - publicado em 01/04/25
whatsappfacebooktwitter-xemailnative
O diagnóstico é fundamental para o adequado suporte para pessoas autistas

O dia 2 de abril é dedicado ao Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo. Estima-se que uma em cada 36 crianças tenham um transtorno especto autista segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (Centers for Disease Control and Prevention – CDC). Foi só em 1993 que a síndrome foi adicionada à Classificação Internacional de Doenças da Organização Mundial da Saúde, mas não é uma doença. No Brasil, acredita-se que mais de 2 milhões de pessoas sejam autistas. O principal meio de inclusão é a escola que conta com mais de 36 mil estudantes.

No Brasil, o tema da campanha de conscientização deste ano é: “Informação gera empatia. Empatia gera respeito!”. Vamos, então, conhecer mais para enfrentar o desrespeito.

Autista

A Lara Helena de Souza Frason é psicóloga em Curitiba (PR). Ela é autista e contou sua história no programa Viva a vida, da Pastoral da Criança: “Eu tinha 23 anos, já era psicóloga e já trabalhava com autismo, quando recebi meu diagnóstico. Tudo ficou mais claro depois do diagnóstico. Eu não tinha como saber antes, mas as situações que eu passei e que me levaram inclusive à depressão tinham, enfim, uma explicação. As coisas não aconteciam comigo porque era estranha ou agia de forma esquisita, compreendi que minhas dificuldades não eram problemas. O diagnóstico nos liberta”. 

Uma visão equivocada é de que a pessoa autista tenha uma doença. Ela tem um transtorno do neurodesenvolvimento que causa dificuldades em relacionamentos e na comunicação. Existem pessoas autistas que falam, e que conversam muito; já outras não se expressam de maneira verbal. Uma informação importante é que os estereótipos não definem o que é autismo. 

Outra informação importante é que, segundo a lei brasileira, as pessoas autistas têm os direitos que as pessoas com deficiência têm. Existe o desconto em alguns impostos, para quem precisa tem o Benefício de Prestação Continuada (BPC), entre outras coisas. “Nenhuma delas é privilégio, mas são direitos para que possamos ter os direitos de lazer, saúde e educação, como todos”, destaca Lara.

Infância

Segundo a psicóloga Lara é importante o diagnóstico já para o bebê. “Até os 3 anos de idade a criança tem mais neuroplasticidade. Se a gente consegue detectar os sinais e aplicar os tratamentos, é possível ajudar a criança a ter menos prejuízos sociais e de comunicação”.

Lara destaca que o bebe autista tem dificuldade de manter o contato visual e de se envolver com os estímulos sonoros do ambiente. “É um bebe mais focado no que é do interesse dele. Quando está sendo amamentado, não olha nos olhos da mãe, não cria aquela conexão pelo olhar”, explica.

Terapias

As pessoas autistas devem receber acompanhamento multidisciplinar e realizar diversas terapias com profissionais especializados. No Sistema Único de Saúde (SUS) as terapias são garantidas para todas as pessoas autistas, desde crianças até idosos. 

Os tratamentos só tem efeito com a participação da família. “Os avanços da terapia não dependem só dos terapeutas, mas, sobretudo, do engajamento das famílias. A família deve ver o mundo a partir da condição do filho. Essa jornada será mais fácil se a família aprende o que acalma ou agita a criança”, destaca Lara.

Rede de apoio

Com as famílias menores e as pessoas vivendo cada vez mais isoladas, as redes de apoio também se reduzem. No caso de uma família com pessoas autistas, é necessário que seja redobrado o apoio e eliminadas as críticas, conforme explica a psicóloga Lara: “A rede de apoio é essencial porque tem uma sobrecarga emocional nas famílias com crianças autistas. As mães são, muitas vezes, julgadas e sobrecarregadas. Elas já se empenham muito na escola e na terapia, precisam de ajuda para cuidar da saúde delas também e assim garantir a saúde da criança autista”.

Inclusão

A psicóloga Lara destaca que a inclusão está muito precária justamente onde deveria começar, na escola. Mas esse é um reflexo da sociedade pouco inclusiva: “Estamos em um processo muito lento de inclusão. Falta muito um lugar empático. Os autistas são cobrados por não ter empatia, mas isso não é verdade. Somos tão empáticos que travamos ao demonstrar nossos sentimentos. Precisamos olhar com empatia para todos e criar uma sociedade que garanta os direitos de todos, inclusive dos autistas”, conclui Lara.

Newsletter
Você gostou deste artigo? Você gostaria de ler mais artigos como este?

Receba a Aleteia em sua caixa de entrada. É grátis!

Aleteia vive graças às suas doações.

Ajude-nos a continuar nossa missão de compartilhar informações cristãs e belas histórias, apoiando-nos.