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Annalena, um diploma em Direito e uma vida doada aos pobres

ANNALENA TONELLI
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Paulo Teixeira - publicado em 10/04/25
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Missionária, mística e mártir. O testemunho de uma vida doada para que os irmãos nômades tivessem vida

Annalena dedicou mais de 30 anos à educação e ao tratamento da tuberculose no Quênia, Uganda e Somália. Não falava muito sobre seu trabalho, recusava premiações e o depoimento que segue foi dado em um encontro internacional sobre voluntariado promovido pelo Vaticano em 2001. Dois anos depois, a missionária leiga foi assassinada na África

Testemunho

Eu me chamo Annalena Tonelli. Nasci na Itália, em Forlì, no dia 2 de abril de 1943. Trabalho na área da saúde há trinta anos, mas não sou médica. Eu me formei em Direito, na Itália. Vivo a serviço, sem um nome, sem a segurança de uma ordem religiosa, sem pertencer a nenhuma organização, sem um salário, sem pagar as contribuições devidas para a aposentadoria na minha velhice. Tenho amigos que ajudam a mim e à minha gente há mais de 30 anos. Escolhi ser para os outros: os pobres, os sofredores, os abandonados, os que não são amados; eu era uma menina, e assim continuei e espero continuar sendo até o fim da minha vida.

Deixei a Itália depois de seis anos de serviço aos pobres de uma periferia na minha cidade natal, às crianças do orfanato local, às meninas com deficiência mental e vítimas de fortes traumas que viviam em uma casa de amparo. Parti para a África decidida a “gritar o Evangelho com a vida”, seguindo os passos de Charles de Foucauld, o qual tinha inflamado a minha existência.

Fui ao Quênia como professora, pois era o único trabalho que, no começo de uma experiência assim tão nova e forte, que eu podia desempenhar de maneira decente, sem prejudicar a ninguém. Eram tempos de uma terrível carestia e vi tanta gente morrer de fome. No decurso da minha existência, fui testemunha de outra carestia: dez meses de fome, em Merca, no sul da Somália. Posso afirmar que se trata de uma experiência tão traumatizante, capaz de colocar em perigo a fé. Trouxe para viver comigo quatorze crianças que sofriam das doenças da fome. Doei imediatamente sangue àquele menino e supliquei aos meus estudantes que fizessem a mesma coisa.

E saí de tudo isso com uma convicção inabalável, ou seja, que aquilo que conta é apenas o amar.

Desenvolvi um método de tratamento da tuberculose que curou muitos nômades do deserto e também trabalhei em um centro de reabilitação para pessoas com necessidades especiais junto às companheiras que, ao longo dos anos, se uniram a mim, todas voluntárias sem salário, todas pelos pobres e por Jesus Cristo. Éramos uma família. Acolhíamos, além dos portadores de poliomielite, casos especialmente difíceis de serem tratados, reabilitados, pessoas particularmente feridas: cegos, surdos, pessoas com deficiência física ou mental.

Em 1984, o governo do Quênia iniciou um genocídio contra um povo do deserto. Mataram mais de mil pessoas e planejavam mais 50 mil. Consegui impedir o massacre enviando fotografias de cadáveres amontoados para autoridades diplomáticas. Por isso fui presa e levada à corte marcial. As autoridades, todas cristãs, disseram-me que haviam sido feitas duas emboscadas para mim, das quais, providencialmente, consegui fugir, mas que eu não conseguiria o mesmo em uma terceira emboscada. Um deles, um cristão praticante, perguntou-me o que me motivava a agir assim. Respondi-lhe que fazia aquilo por Jesus Cristo, o qual nos pede para dar a vida pelos nossos amigos.

Gostaria de dizer, ainda, que os pequenos, os sem-voz, aqueles que nada contam aos olhos do mundo, mas contam tanto aos olhos de Deus, que são os Seus prediletos, eles precisam de nós. E nós precisamos estar com eles e ser para eles e não faz mal se a nossa ação é apenas uma gota de água no oceano. Jesus Cristo nunca falou de resultados. Ele pediu-nos apenas para amarmos, para lavarmos os pés uns dos outros, para perdoarmo-nos sempre.

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