No dramático momento que precede a prisão e morte de Jesus, os Evangelhos relatam a última ceia. Momento emocionante que as comunidades vivenciam na quinta-feira Santa com a cerimônia do Lava-pés.
Jesus frequentou diversas mesas segundo os Evangelhos, mas qual a importância dessa última refeição? Segundo o Padre Francys Silvestrini, professor de teologia em Belo Horizonte, Jesus era muito aberto a encontros e frequentava a casa de muitas pessoas e comia com elas. A Última Ceia poderia passar como desconhecida, sem relevância perto das outras ou ser só mais uma, contudo, não é assim. “A grande diferença é que nessa quinta-feira santa a refeição é completamente nova, completamente diferente, porque nessa refeição o que Jesus quer servir é ele mesmo”, explicou o professor em entrevista à Rede Imaculada de Comunicação.
"Em outras palavras, é isso que Jesus diz: Olha, o que vai acontecer amanhã, nessa sexta-feira santa, é o dom da minha vida, é isso que está acontecendo hoje aqui de modo antecipado. Eu estou me oferecendo a vocês como alimento para a vida de vocês”, enfatiza o sacerdote jesuíta.
A Última Ceia não foi ocasional e nem uma surpresa, mas foi preparada por Jesus e emoldura o drama da Paixão. O Lava-pés celebrado nas igrejas não é teatro e nem representação, mas é o memorial da vida de fé que se alimenta da Eucaristia. Padre Francys explica que Jesus, por meio de seus gestos e palavras, quis se expressar mais ou menos assim, para entendermos melhor: “Eu que passei a minha vida dando a vocês o ensinamento, fazendo gestos da presença do reino no meio de vocês, agora eu me dou por inteiro por vocês. Esse é meu corpo e esse é meu sangue. Esse é o coração do sentido dessa refeição”.
Os gestos de Jesus na noite santa foram quatro e Padre Francys nos explica o significado destas atitudes de Jesus em um momento tão emblemático: “Jesus tomou o pão, deu graças, partiu e deu aos discípulos. Jesus entrega aos discípulos esses gestos. Entrega para nós também, para que a gente aprenda a viver assim em nossa vida: dando graças, recebendo os dons, partilhando e nos doando”.
A vida de Jesus foi sempre uma partilha
Segundo Padre Francys, Jesus parte o pão na Última Ceia e ele será partido por amor a todos, aliás, sua vida foi sempre partir-se e se doar aos outros. “Nascer já é partir-se, já é se diferenciar de nossa mãe. Então é a primeira partida que a gente tem que fazer e ao longo de nossa vida nós vamos passando por muitas rupturas, muitas partições, então a vida também é assim”.
Jesus ordenou que fosse realizado sempre em memória dele a partilha do pão e do vinho. No Novo Testamento são relatadas as celebrações desse mistério vital para os cristãos e, ao longo de dois milênios a fé cristã se nutre da eucaristia. “Esse mandamento do Senhor que nós fazemos e celebramos em cada Eucaristia indica a maneira como devemos viver, do mesmo jeito que Jesus viveu”.
No Evangelho de João, após a Última Ceia tem lugar um longo, profundo e emocionado discurso de Jesus, conhecido como testamento, oração sacerdotal ou discurso de despedida, o texto, segundo Padre Francys revela o “grande sentido da narrativa da Última Ceia, da Eucaristia. O desejo de Jesus é que nós tenhamos um tipo de unidade que é o mesmo que ele tem com o Pai, que é uma unidade profunda de comunhão no amor. Jesus, no Evangelho de João, está rezando para que isso aconteça conosco e a gente, na fé, em cada celebração eucarística, diz também cremos”, conclui o jesuíta.