Segundo o Anuário Pontifício, publicação da Secretaria de Estado do Vaticano com todas as informações da Igreja Católica, o Papa tem nove títulos. Alguns com maior teor teológico, outros com características administrativas, mas todos interessantes.
O fundamento do papado é que Pedro foi o primeiro bispo de Roma. Logo, suceder a Pedro é ter a sua mesma função de bispo de Roma. Assim, o Papa é eleito pelos cardeais que representam o clero de Roma para ser o bispo “primus inter paris”, o primeiro entre os iguais. Bispo de Roma é o primeiro e fundamental título do Papa.
Outro título importante é o de vigário de Jesus Cristo. O sentido teológico deste título ressalta a missão do Papa como uma espécie de representante de Jesus na terra. A palavra vigário equivale a suplente, no sentido de que a pessoa exerce um serviço ou autoridade em função de outro. No caso, ser vigário de Jesus é uma missão importante porque são bem conhecidos os gestos e palavras de Jesus e que devem ser representados na atualidade.
O terceiro título papal que figura no Anuário Pontifício é de sucessor do príncipe dos apóstolos. É interessante considerar que a figura de Pedro é revestida de forte significado a partir dos Evangelhos. Além das cenas em que Pedro testemunha sua fé e Jesus mostra sua proximidade ao apóstolo, existem as listas com os nomes dos doze apóstolos repetidas nos Evangelhos sinóticos. Os nomes aparecem em ordem diferente, mas sempre encabeça a lista o nome de Pedro. Isso mostra a liderança de Pedro, revela o apóstolo no princípio da lista, sendo o príncipe, o iniciador do grupo dos apóstolos. O Papa exerce essa liderança, esse ponto de referência e unidade que foram atribuídos a Pedro.
Já o título Sumo Pontífice da Igreja Católica não tem significado teológico tão profundo, mas carrega em si uma visão espiritual importante. Pontífice era um título ligado aos imperadores romanos e que também foi usado por membros da magistratura. Sumo Pontífice, no caso do papa, refere-se a autoridade máxima da Igreja Católica. Contudo, a palavra pontífice tem sua raiz em “ponte”, no sentido que a autoridade era a ponte que ligava as diversas instituições da sociedade. Talvez em nossos dias o Papa tenha a missão de ser ponte entre tantas pessoas e situações. Por exemplo, nas guerras que dividem o mundo, somente o Papa tem uma palavra de paz, de união, capaz de ligar as pessoas que sofrem àquelas que podem fazer a diferença.
O título de primaz da Itália é honorífico. Indica que o Papa é bispo da primeira diocese da Itália. No Brasil o bispo primaz é aquele de São Salvador da Bahia onde foi instalada a primeira diocese do novo território português. Em alguns países, como na Polônia, o arcebispo primaz é uma função de referência espiritual no país. Assim também os títulos de arcebispo e metropolita da província eclesiástica romana são religiosos e meramente formais.
O título de soberano do Estado da Cidade do Vaticano estabelece o reconhecimento jurídico do papel político e territorial do Papa. Um chefe de estado, um soberano de um pequeno estado, uma instituição política que tem uma missão espiritual grande para o mundo.
Um título profundo e que, de certa forma, reorganiza todos os anteriores é o de servo dos servos de Deus, “servus servorum Dei”. Introduzido por Gregório Magno no século VI, fala sobre a realidade do Papa como um servidor ao mesmo tempo que mostra toda a Igreja como servidora de Deus. Esse título certamente não está nos Evangelhos, mas é o mais evangélico, no sentido de que Jesus, no lava-pés, confiou à Igreja o serviço começando dele mesmo.
No último ano o Papa Francisco retomou o título de Patriarca do Ocidente. Ele havia sido evitado por Bento XVI a partir de 2006. Este título em uso desde o século V refere-se ao Papa como ponto de referência para o ocidente em oposição ao bispo de Constantinopla como patriarca do oriente. Muitas divisões estiveram relacionadas à essa polarização ao longo dos séculos. Hoje, superadas as barreiras, cristãos do oriente e ocidente buscam a paz com suas Igrejas.