Ao telefone, havia uma voz leve, de criança. Ela disse que estava grávida, que tinha sido estuprada e que não tinha ninguém. Ninguém. E a irmã Maria Laura Mainetti, que durante toda a vida se dedicou exatamente àqueles que não tinham ninguém, sentiu um nó na garganta. Um pedido de ajuda como muitos, certamente, mas a ternura era sempre nova.
E ela foi. Pontualmente, às dez horas da noite, para aquele lugar absurdo, chamado "Marmitte dei Giganti", que parece o nome de um conto de fadas, mas na verdade é apenas um parque muito escuro e sombrio. Mas ela foi assim mesmo. Talvez porque realmente acreditasse naquela voz, ou talvez porque sempre acreditasse. Porém... a jovem não estava sozinha. Outras duas apareceram, e então ficou claro que não se tratava de um encontro, mas de uma emboscada. Mas já era tarde para voltar atrás.
As três garotas acompanharam a religiosa por um caminho pouco iluminado, inicialmente a atingiram com uma pedra e acabaram assassinando-a com 19 facadas, uma a mais do que o previsto, já que elas deveriam ter dado seis facadas cada uma, totalizando 18. Durante os interrogatórios ao longo das investigações, as jovens confessaram que, enquanto era atacada e já estava ajoelhada no chão, irmã Maria Laura pediu a Deus que perdoasse as garotas. As investigações sobre o homicídio excluíram a participação direta ou indireta de um adulto, que poderia ter influenciado as jovens, enquanto foram encontrados cadernos delas com escritos satânicos e descobriu-se que, nos meses anteriores, elas haviam feito um juramento de sangue que as ligava indissoluvelmente.
Ela nem teve tempo de entender. Apenas lâminas e dor. As mãos das três eram desajeitadas, cansadas, como quem está fazendo algo errado pela primeira vez e nem sabe bem como se faz. E talvez a irmã Maria Laura Mainetti tenha percebido isso. Compreendeu que eram apenas três garotas disfarçadas de monstros, três adolescentes dominadas pela escuridão que carregavam dentro. E então fez o que sempre fez durante toda sua vida: perdoou. Apenas disse: "Deus, perdoa-lhes". Um carinho extremo, oferecido em meio ao sangue. Um legado deixado ali, na noite, para três pequenas assassinas. Para quando chegassem suas noites sem sonhos.
Em Chiavenna, naquele 6 de junho de 2000, não morreu apenas uma irmã. Morreu uma promessa feita ao futuro.
Sobre Ambra e suas amigas, muitos jornais da época teriam falavamdelas como "as diabólicas", seriam vistas como símbolo de uma juventude perdida, engolida pelo vazio e pelos satanismos de revistas de moda. Mas o único verdadeiro diabo que as habitava era o abandono. As solidão invisível, as dores nunca ouvidas, a adolescência deixada a crescer desviada. E quando todo o mal encontrou uma brecha, lançaram-no contra o corpo de quem apenas havia ido ali para amar.
O Reconhecimento do martírio e a beatificação
Em 25 de outubro de 2005, o então bispo da diocese de Como, Alessandro Maggiolini, abriu o processo diocesano para a beatificação de irmã Maria Laura, que foi concluído em 30 de maio de 2006. Posteriormente, em 2008, a Santa Sé aprovou o pedido para o início do processo de beatificação.
Em 19 de junho de 2020, o Papa Francisco autorizou o Dicastério das Causas dos Santos a promulgar o decreto que reconhece seu martírio, uma vez que foi cometido em ódio à fé. A cerimônia de beatificação ocorreu em Chiavenna no dia 6 de junho de 2021.
Assim morrem os santos. Não entre incensos e velas, mas no lamaçal, esfaqueados por quem poderia ter sido salvo. E que talvez, no fundo, tenha sido. Mesmo que apenas um pouco. Mesmo que só por aquela última frase.